Além de encaminhar o acordo para fabricação na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, do Reino Unido, e a farmacêutica AstraZeneca, o governo federal tem recebido representantes de outros países interessados em trazer ao Brasil medicação para imunizar a população contra a covid-19.
Na última terça-feira (4) durante a manhã, o Ministério da Saúde realizou reunião com a empresa chinesa Sinopharm. À tarde, as tratativas foram sobre sobre vacina desenvolvida pela Rússia, com representantes do Fundo de Investimento Direto da Rússia (RDIF) e técnicos do governo brasileiro. Nesta terça-feira (11) presidente Vladimir Putin afirmou que a Rússia se tornou o primeiro país do mundo a provar a regulamentação da vacina.
O Ministério da Saúde fez questionamentos sobre as características de cada vacina, estimativas de preço para produção e apontou interesse em manter diálogo sobre o desenvolvimento das drogas. Representantes da Fiocruz também manifestaram interesse apoiar pesquisas clínicas destas vacinas no Brasil.
O governo do Paraná discute parceria para desenvolver as duas vacinas por meio do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar).
Os estudos sobre a vacina russa geram dúvida na comunidade científica. As pesquisas para a vacina estão na fase 3, a última e mais importante das etapas de produção de uma vacina, afirma o governo Putin. Os desenvolvedores da droga, porém, não divulgaram estudos em nenhuma revista científica sobre os resultados, duração e os detalhes das fases anteriores. Além disso, a vacina foi aprovada após menos de dois meses do início dos testes em humanos.
Um técnico do governo federal que participa de reuniões sobre parcerias para produção de vacina contra a covid-19 disse ao Estadão que há desconfiança sobre a droga da Rússia. O ministério apontou interesse em manter o diálogo com o governo Putin, mas pediu dados mais consistentes sobre os estudos para fabricação da droga. Ele observa que a vacina russa está em "fase 1", conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesta etapa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não aceitaria o registro da droga, que antes teria de passar por testes em milhares de pessoas para avaliar a eficácia e segurança.
A OMS aponta que seis vacinas estão em fase 3 de pesquisa, a última antes do pedido de registro da droga.
A aposta do governo federal, por enquanto, é no modelo desenvolvido pela farmacêutica britânica AstraZeneca e a universidade de Oxford. O ministério espera receber 100 milhões de doses desta vacina, cuja tecnologia de produção deve ser repassada ao Instituto Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz. A previsão é de que uma primeira parcela de 15 milhões de doses seja aplicada em janeiro. Na última quinta-feira, 6, o presidente Jair Bolsonaro liberou cerca de R$ 2 bilhões, via medida provisória, para viabilizar a produção da droga na Fiocruz.
O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, afirmou ao Estadão que, apesar de o ritmo acelerado dos estudos clínicos, o governo não abrirá mão de eficácia e segurança das vacinas. "Mesmo com protocolos rápidos, para atender a pandemia, os estudos são feitos com consultas às agências reguladoras, como a Anvisa. Serão feitas todas as etapas: 1, 2 e 3. E respeitando número mínimo de pacientes testados", disse ele, que participa de tratativas do governo federal sobre a aquisição de vacinas.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem feito críticas indiretas à iniciativa do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de negociar com a empresa chinesa Sinovac Biotech para receber a CoronaVac, também em testes contra a covid-19.
"O mais importante, diferente daquela outra (vacina) que um governador resolveu acertar com outro país, vem a tecnologia para nós", disse Bolsonaro na última quinta-feira (6).
Apesar das falas de Bolsonaro, o secretário nacional de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correa de Medeiros, disse na última quarta-feira (5), que o governo federal pretende comprar "a primeira vacina que chegar ao mercado", independentemente do país que a produzir.
Em audiência na Câmara dos Deputados, Medeiros afirmou que fará uma visita ao Instituto Butantã, que participa do desenvolvimento da vacina contra o novo coronavírus Coronavac com a empresa chinesa Sinovac Biotech.
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