O ex-porta-voz da Presidência general Otávio do Rêgo Barros fez uma série de críticas indiretas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em artigo publicado nessa terça-feira (27) no jornal Correio Braziliense, intitulado "Memento Mori", expressão latina que significa algo como "Lembre-se de que você é mortal".
Sem citar o nome do presidente, Rêgo Barros afirmou que o poder "inebria, corrompe e destrói". Ele também criticou auxiliares presidenciais que se comportam como "seguidores subservientes". "Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião", escreveu Rêgo Barros.
A saída de Rêgo Barros do cargo de porta-voz da Presidência foi anunciada em agosto, depois de meses de isolamento, e oficializada em outubro. Desde o início do ano, ele deixou de fazer os briefings quase diários à imprensa no Palácio do Planalto para responder a questionamentos de jornalistas. Os encontros acabaram substituídos por falas do próprio presidente na entrada e saída do Palácio da Alvorada. Com isso, o porta-voz ficou ainda mais esvaziado e sem função definida internamente.
No ano passado, o porta-voz passou a ser alvo de críticas de um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), por organizar cafés da manhã com jornalistas periodicamente. Na visão de Carlos, os encontros serviam para prejudicar o pai.
As reuniões também viraram foco de conflito com a chegada do secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, em abril de 2019. O secretário apresentava uma série de divergências à estratégia adotada por Rêgo Barros. Com a reformulação da estrutura do Palácio do Planalto, no ano passado, Rêgo Barros deixou a Secom e ficou subordinado à Secretaria de Governo.
"O escravo se coloca ao lado do galardoado chefe, o faz recordar-se de sua natureza humana. A ovação de autoridades, de gente crédula e de muitos aduladores, poderá toldar-lhe o senso de realidade. Infelizmente, nos deparamos hoje com posturas que ofendem àqueles costumes romanos", escreveu o ex-porta-voz do governo, com diversas referências ao Império Romano.
"É doloroso perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais, com vistas a convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas, são meras peças publicitárias, talhadas para aquele momento. Valem tanto quanto uma nota de sete reais. Tão logo o mandato se inicia, aqueles planos são paulatinamente esquecidos diante das dificuldades políticas por implementá-los ou mesmo por outros mesquinhos interesses", escreveu Rêgo Barros.
Segundo o ex-porta-voz, "os assessores leais - escravos modernos - que sussurram os conselhos de humildade e bom senso aos eleitos chegam a ficar roucos". Em seguida, ele passou a criticar os auxiliares que concordam com tudo. "Alguns deixam de ser respeitados. Outros, abandonados ao longo do caminho, feridos pelas intrigas palacianas. O restante, por sobrevivência, assume uma confortável mudez. São esses, seguidores subservientes que não praticam, por interesses pessoais, a discordância leal." Como mostrou o Estadão, a ala militar do governo optou por se manter em silêncio diante da decisão do chefe do Executivo de se aliar ao velho Centrão.
"A população, como árbitro supremo da atividade política, será obrigada a demarcar um rio Rubicão cuja ilegal transposição por um governante piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade. Por fim, assumindo o papel de escravo romano, ela deverá sussurrar aos ouvidos dos políticos que lhes mereceram seu voto: - "Lembra-te da próxima eleição!", escreve ainda Rêgo Barros, que termina o artigo com a saudação: "Paz e bem!".
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