O ex-presidente Michel Temer, que nesta quinta-feira (9) fez a ponte entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes (STF) disse acreditar que os ataques do atual mandatário aos demais Poderes ficaram no passado após a nota de recuo assinada por ele.
"Aquelas frases no estilo 'não vou cumprir decisão judicial', eu acho que a partir de hoje, pelo menos muito fortemente essa sensação na conversa muito objetiva que Bolsonaro teve comigo, eu sinto isto é coisa do passado. Como se diz, 'olha, vamos contar o tempo a partir daqui', é porque ele vai pautar-se por esse documento, por essa declaração que lançou no dia de hoje", afirmou o ex-presidente à CNN Brasil.
Temer chegou pela manhã e voltou para São Paulo no final da tarde. O encontro ocorreu dois dias depois de Bolsonaro atacar o Supremo e, em especial, Moraes.
O presidente conversou por telefone com Moraes, em ligação mediada por Temer. Segundo participantes do encontro, o ex-presidente teria chegado ao encontro já com a sugestão de intermediar o telefonema.
A conversa ocorreu antes da divulgação da nota de recuo de Bolsonaro, em que afirma que não teve "nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes". O texto, bem diferente do tom que Bolsonaro vem adotando nos últimos meses, foi redigido com ajuda do ex-presidente Temer.
"Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", afirmou o presidente.
Também participaram do encontro os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo). Eles vêm tentando, há semanas, reduzir a temperatura da crise entre os Poderes.
Segundo interlocutores, também participaram da redação final de nota de Bolsonaro.
"Ao meu modo de ver, este documento [nota] que tivemos oportunidade de sugerir, colaborar, é um documento que revela um compromisso dele com a constituição, com a harmonia entre os Poderes. Faz até uma referência ao ministro Alexandre de Moraes, em face de fala que ele teve durante aquele encontro na Paulista", disse Temer na entrevista à CNN Brasil.
O responsável por intermediar o encontro foi o AGU (Advogado-geral da União), Bruno Bianco. Ainda na quarta-feira (8), ele procurou Temer para propor o encontro.
Na gestão do emedebista, ele trabalhou na reforma da Previdência, cuja aprovação ocorreu no governo Bolsonaro. Segundo o ex-ministro de Temer Carlos Marun, Temer levou ao chefe do Executivo uma mensagem pela pacificação e contou ter ficado satisfeito com a conversa.
O ministro do STF Dias Toffoli também estimulou que houvesse o encontro conversando com aliados de Bolsonaro. A avaliação é que Temer, por ter indicado Alexandre de Moraes para o tribunal, era a pessoa mais correta para fazer a intermediação.
Bolsonaro passou os últimos dois meses com seguidos ataques ao STF e xingamentos a alguns de seus ministros como estratégia para convocar seus apoiadores para os atos do 7 de Setembro, quando repetiu as agressões e fez uma série de ameaças à corte e a seus integrantes.
"Essas questões [embates com o STF] devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no artigo 5º da Constituição Federal", disse o presidente em texto assinado por ele.
"Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país."
Duas horas depois da divulgação a nota com recuo, nem o presidente ou qualquer um dos seus filhos publicou o texto em suas redes sociais.
Já Ciro Nogueira, autointitulado "amortecedor" no Palácio do Planalto, publicou o texto em suas redes e disse no Twitter.
"A harmonia e o diálogo entre os Poderes compõem as bases nas quais se sustenta nosso país. O gesto do presidente @jairbolsonaro demonstra que estamos unidos no trabalho pelo que mais importa, a recuperação do nosso país e o cuidado com os brasileiros."
O texto de Bolsonaro é encerrado com o lema "DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA", da Ação Integralista Brasileira, movimento fascista e anticomunista fundado por Plínio Salgado em 1932, em São Paulo, que atraiu milhares de simpatizantes em todo o país.
Esta não é a primeira vez em que o presidente usou o mote. O integralismo voltou à esfera pública quando usado para divulgar o partido que o presidente tentou fundar, a Aliança pelo Brasil, após sua saída do PSL.
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