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Sistema de saúde francês não recomenda azitromicina para tratar Covid-19

Sistema de saúde francês não recomenda azitromicina para tratar Covid-19

É enganosa a publicação que, usando um vídeo do youtuber Felipe Neto, afirma que o sistema de saúde da França adota o antibiótico no tratamento de covid-19. O comunicador critica a venda feita em uma farmácia no país europeu, mas o governo francês não recomenda o remédio para tratar coronavírus

Publicado em 23 de abril de 2022 às 08:00

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Passando a Limpo: Sistema de saúde francês não recomenda azitromicina para tratar Covid-19
No Brasil, a indicação da azitromicina também é para doenças causadas por agentes bacterianos, e não virais, como a covid-19. (Divulgação/Comprova)

Conteúdo investigadoPostagem que utiliza um vídeo do youtuber Felipe Neto criticando a indicação de Azitromicina para o tratamento contra a Covid-19 na França. A autora ironiza a indignação do comunicador dizendo que no país europeu o medicamento faz parte do protocolo de atendimento (a pacientes infectados) enquanto no Brasil é criminalizado.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: É enganosa a postagem que sugere que o antibiótico Azitromicina faz parte do protocolo de tratamento de covid-19 pelo sistema de saúde francês. Para enfrentamento da doença, o país europeu concentrou esforços na ampliação da vacinação da população, bem como em medidas como distanciamento social e uso de máscaras.

A autora da postagem também alega que a Azitromicina é criminalizada no Brasil, o que não é verdade. O medicamento apenas não é recomendado para pacientes infectados pelo Sars-Cov-2, vírus que provoca a covid-19. Porém, o remédio é indicado para doenças bacterianas.

A autora usa um vídeo do youtuber Felipe Neto, que mostrou-se indignado com a venda da Azitromicina para sua colega de viagem diagnosticada com a covid-19, enquanto estavam na França.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos de grande alcance nas redes sociais. Até o dia 20 de abril, esta publicação teve mais de 20 mil interações no Twitter, entre curtidas, comentários e retuítes.

O que diz o autor da publicação: O perfil da autora no Twitter não permite mensagem direta. Ela foi localizada em outra rede social, mas não respondeu os questionamentos até a publicação da verificação.

Como verificamos: A equipe do Comprova entrou em contato com Felipe Neto para verificar a veracidade do vídeo publicado e em que contexto ele havia sido divulgado.

Também foram feitas pesquisas em sites, tanto jornalísticos quanto de órgãos e entidades de saúde, sobre o uso da Azitromicina para o tratamento da covid-19 no Brasil e na França.

Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi questionada sobre o posicionamento oficial do governo brasileiro em relação ao medicamento citado no vídeo e outros remédios indicados para a doença.

A autora da postagem também foi procurada por mensagem em rede social.

Felipe Neto não fala de protocolos adotados pelo sistema de saúde da França

De férias na Europa no início deste mês, o youtuber Felipe Neto ficou doente, mas seu teste deu negativo para a covid-19. Uma companheira de viagem, no entanto, contraiu a doença e, ao buscar remédio para os sintomas, recebeu Azitromicina – antibiótico cuja indicação é para tratar doenças provocadas por bactérias. Felipe Neto mostrou-se indignado no trecho do vídeo investigado, mas ele não fala de protocolos de saúde francês, e sim critica, sem dar nomes, quem passou a medicação.

Procurada, a assessoria de imprensa do comunicador desmente que ele tenha declarado que o sistema de saúde francês utiliza medicamentos e protocolos para tratar covid-19.

“Trata-se de mais uma notícia falsa, mais uma desinformação retirada de contexto. A crítica feita por ele consiste no fato do farmacêutico em questão – mesmo com amplos estudos e pesquisas científicas feitos em todo o mundo comprovando que não existe tratamento para Covid – vender a Azitromicina para sua amiga e companheira de viagem”, diz um trecho da nota.

Ainda conforme o posicionamento oficial de Felipe Neto, a assessoria aponta que a amiga do youtuber foi à farmácia em busca de remédio para tratar os sintomas, como dor de cabeça e tosse, mas recebeu do farmacêutico apenas o antibiótico.

Em suas redes sociais, Felipe Neto também comentou o uso indevido dos stories que publicou. 

Passando a Limpo: Sistema de saúde francês não recomenda azitromicina para tratar Covid-19
(Divulgação/Comprova)

Durante a mesma viagem, Felipe Neto também exaltou o SUS e agradeceu o fato de estar vacinado contra a covid, pois considera que, se fosse infectado pelo vírus e não estivesse imunizado, seu quadro seria mais grave.

Medicamentos contra a covid-19 usados no Brasil

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão responsável pela aprovação de medicamentos para uso no Brasil, tem uma lista de remédios autorizados ou em análise no seu site.

Atualmente, segundo a assessoria da Anvisa, há cinco medicamentos autorizados contra covid-19 e nenhum deles é a Azitromicina. Em relatório da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), órgão de assessoramento do Ministério da Saúde, o remédio não é recomendado para pacientes com suspeita ou diagnóstico de infecção pelo coronavírus.

Dos autorizados pela Anvisa, o Evusheld está aprovado para profilaxia em situações específicas, ou seja, pode ser usado como medida preventiva à doença. A medicação não substitui a vacinação para pessoas em que a imunização contra a covid-19 seja recomendada. Os outros quatro medicamentos autorizados para a covid no país – RemdesivirSotrovimabeBaricitinibe e Paxlovid -, são todos para tratamento de pessoas infectadas, e os três primeiros somente permitidos para uso hospitalar.

Tratamento e prevenção da covid-19 na França

Segundo o último boletim epidemiológico divulgado na França, o número de óbitos em hospitais entre 4 e 10 de abril teve uma redução de 2% em relação à semana anterior: foram 724 casos nesta última semana de dados divulgados. Em relação às internações neste período, houve 9.522 registros, uma redução de 3% em relação à semana anterior. Dos internados, 833 estavam em UTIs, queda também de 3%.

A França tem hoje 943.342 casos confirmados de covid. Segundo o governo francês, 73,5% das pessoas com mais de 18 anos estão vacinadas com três doses.

Não existe orientação dos órgãos de saúde da França para o uso de medicamentos como a Azitromicina para o combate à covid-19. Além da vacinação, os franceses recomendam o distanciamento social, o uso de máscaras e medidas de higiene como lavar as mãos com álcool gel. O governo também disponibiliza ferramentas para testagem em massa e rastreamento de pessoas com quem o infectado teve contato para evitar a proliferação por pessoas assintomáticas.

medicação hoje disponível nas farmácias da França para o tratamento de covid é o Paxlovid, antiviral que também é autorizado pela Anvisa para uso no Brasil.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Desde o início da crise sanitária, conteúdos falsos e enganosos circulam em aplicativos e redes sociais, ora colocando em dúvida as medidas preventivas contra a doença, como vacina, isolamento e máscara, ora sugerindo medicamentos sem eficácia para combater o vírus.

A desinformação é um risco à saúde porque leva muitas pessoas a deixarem de se proteger por acreditarem nos conteúdos inventados.

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Outras checagens sobre o tema: Mesmo após dois anos de pandemia, a desinformação sobre a Covid-19 persiste. Recentemente, o Comprova mostrou que as máscaras ajudam a proteger contra a transmissão e a contaminação pelo coronavírus para esclarecer uma postagem enganosa no Twitter e apontou serem falsas as declarações que o Brasil foi escolhido pela OMS como um dos três países que melhor atuaram na pandemia e que vacinas mRNA causam covid.

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