O Hospital das Clínicas abre nesta quarta-feira (22) um banco de imagens que reunirá dados de pacientes com suspeita ou que tenham tido testes positivos para coronavírus.
A intenção dos pesquisadores é, por meio desses dados, desenvolver uma inteligência artificial capaz de identificar casos de pacientes com Covid-19 e recomendar o melhor tipo de tratamento.
Raios-X e tomografias do pulmão são a matéria-prima do sistema. Segundo Giovanni Cerri, presidente do InovaHC (instituto de inovação do hospital), é possível identificar padrões no acometimento dos pulmões de pacientes com coronavírus que podem ajudar no diagnóstico.
"A ideia é que o algoritmo faça a identificação da infecção pelo novo coronavírus por reconhecimento de imagens já na triagem na unidade de saúde. A ferramenta vai classificar pacientes positivos para a Covid-19 e cruzar dados de sintomas, dados clínicos, fatores de risco e as imagens da tomografia e raio-X", explica.
Ele explica que a intenção não é substituir os exames PCR, aqueles feitos com a saliva, mas, sim, aumentar a precisão do diagnóstico e trazer informações sobre o estado de saúde do paciente antes mesmo do resultado do teste ficar pronto.
O acervo é colaborativo, e desenvolvedores ou outras entidades podem se cadastrar na plataforma tanto para alimentá-la com imagens quanto para usar os dados para testar algoritmos e mecanismos de inteligência artificial próprios.
"Além da imagens, a plataforma terá dados clínicos como idade, sexo, comorbidades, teste positivo ou não para o novo coronavírus, se internado ou não, se está em uso de ventilação mecânica. Com isso, pretende-se entender melhor a doença e ajudar o médico a identificar quais pacientes podem ter uma piora na evolução do quadro", afirma a médica e professora do Departamento de Radiologia e Oncologia da Faculdade de Medicina da USP Claudia Leite.
A ferramenta é acessível de maneira remota, por celulares ou tablets, ou conectada a aparelhos de tomografia e raio-x conectados à rede.
Ao enviar uma imagem, por exemplo, o médico poderá consultar um laudo, criado pela inteligência artificial, com o grau de comprometimento do pulmão e até a probabilidade de ser um caso da Covid-19.
Essa última informação pode ser útil para casos que ainda não receberam o resultado do teste ou então para falsos negativos.
Leite dá um exemplo: um paciente cujo exame dê negativo, mas o laudo de inteligência artifical aponte 95% de chance de ser coronavírus, pode precisar refazer o diagnóstico.
Por enquanto, a plataforma usa um algoritmo importado, mas, com ajuda de desenvolvedores e outros pesquisadores (por isso a importância da rede colaborativa), Cerri acredita que a medicina brasileira conseguirá criar seu próprio algoritmo.
"O Brasil tem suas características demográficas, sua pirâmide etária diferente da Europa, por exemplo. Um lugar pode não representar a realidade para outro. Nossas especificidades são diferentes, e por isso essa experiência nacional é muito importante, para que depois seja até adicionada à de outros países", explica.
"Esperamos que o Brasil seja capaz de desenvolver algoritmos próprios e não precise comprar este tipo de tecnologia de fora", completa Leite.
Inicialmente, o banco de dados conta com imagens de 600 pacientes, mas os pesquisadores afirmam que diversas entidades já se comprometeram a contribuir.
Além do Instituto de Inovação e do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da USP, também fazem parte da iniciativa o Colégio Brasileiro de Radiologia, os hospitais Sírio-Libanês, InCor, Oswaldo Cruz, Samaritano (RJ), o laboratório Fleury, a Americas Serviços Médicos, a Amazon, a GE Healthcare, a Huawei, a Petrobras, o banco Itaú (Todos pela Saúde), a consultoria Deloitte e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Por parte do estado, apoiam o projeto o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e secretarias estaduais de desenvolvimento econômico e da saúde.
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