O fato de a suspensão do teste clínico da vacina Coronavac não ter sido comunicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ao Instituto Butantan gerou desconforto e estranheza no governo paulista.
Aliados do governador João Doria (PSDB) questionaram a divulgação da informação por meio de nota, em horário nobre de noticiários de televisão, justamente nesta segunda (9).
Pela manhã, o tucano havia inaugurado as obras da fábrica de vacinas que produzirá em larga escala a Coronavac, caso tudo dê certo, no Brasil a partir de setembro do ano que vem.
Doria também havia anunciado a chegada do primeiro lote do imunizante, 120 mil das 6 milhões de doses prontas importadas da China, para o dia 20 de novembro.
A divulgação levou a uma correria das autoridades de saúde estaduais para tentar descobrir do que se trata.
Como se sabe, essas interrupções ocorrem quando qualquer envolvido no estudo clínico sofre um efeito adverso ou morre, seja ele um voluntário que tomou a vacina ou o seu placebo.
Há algumas semanas, o governo confirmou a nova diretoria da Anvisa, o que gerou preocupação entre autoridades paulistas de eventual direcionamento político de suas ações na disputa em curso entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro.
Dono de um discurso negacionista da pandemia, o presidente tem no governador seu maior antípoda no manejo da crise. Enquanto Bolsonaro questiona a obrigatoriedade da vacinação e já repreendeu seu ministro da Saúde por considerar o uso do imunizante chinês, o tucano fez uma grande aposta na Coronavac.
Investiu na parceria com Sinovac chinesa e montou um cronograma ambicioso para o caso de o imunizante ser eficaz e seguro.
Pelos seus planos, seria possível imunizar toda a população paulista, ou uma parcela bem relevante, já no primeiro trimestre de 2021.
Já há oito estados interessados em comprar a Coronavac, que se mostrou segura até aqui nos testes clínicos da chamada fase 3 -sua eficácia ou não deve estar estabelecida até o fim do mês. Para um presidenciável como Doria, é um trunfo potencial para 2022.
Com isso, está em curso uma guerra da vacina no país. Bolsonaro já havia dito que não compraria a Coronavac, mas teve de voltar atrás, e o governo federal tem seu próprio acordo de co-produção da vacina britânica da AstraZeneca/Universidade de Oxford com a Fundação Oswaldo Cruz.
Integrantes do governo temem que Bolsonaro use decisões técnicas para atrasar o cronograma por motivos políticos, embora saiba que isso poderia provocar reação em secretarias de Saúde de outros estados.
Foi assim quando a Anvisa dificultou a importação de insumos para a montagem de kits do imunizante pelo Butantan, por exemplo. Outras 40 milhões de doses chinesas serão feitas desta forma.
Naturalmente, as autoridades paulistas estão cautelosas, justamente porque não sabem a natureza do evento ocorrido.
A rádio CBN afirmou que um voluntário teria morrido, mas não se sabe o motivo -quando alguém morre num estudo desses, a paralisação é automática.
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