A campanha da senadora Simone Tebet (MDB-MS) à presidência do Senado mudou de maneira radical o discurso em relação ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), passando a atacá-lo diretamente.
Bolsonaro apoia o candidato rival do MDB na disputa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Recentemente, acrescentou publicamente que sentia "simpatia" por ele. O senador mineiro também é o nome do atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que vem se engajando na articulação para fechar alianças.
Tebet vinha adotando um tom cordial em relação ao Palácio do Planalto, afirmando que sua candidatura seria independente, mas que isso não significava oposição. Buscava uma "independência harmônica" e que poderia "ajudar o governo nas pautas prioritárias do país".
Nesta terça-feira (19), no entanto, sua equipe divulgou nota com diversas críticas ao presidente, afirmando que Bolsonaro perdeu a guerra das vacinas, fala em seus "arroubos autoritários e machistas" e afirma que os candidatos do MDB à presidência da Câmara e do Senado ganham votos a "cada vez que ele abre a boca".
A reportagem apurou que um dos estopins para a mudança de postura teria sido uma ofensiva do Planalto para tentar rachar a bancada do MDB e provocar a desistência de Tebet.
A nota foi divulgada enquanto a senadora participava em Mato Grosso do Sul de um segundo evento de lançamento de sua candidatura. Ela estava acompanhada do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), presidente nacional do partido e candidato ao comando da Câmara.
Com a mudança de tom, sua candidatura se alinha a Baleia, que busca um discurso de independência em relação ao Planalto e que reúne em sua aliança diversos partidos de oposição.
"Numa semana de sucessivas notícias ruins para Bolsonaro, Baleia Rossi e Simone Tebet unificam o discurso dos candidatos independentes, fazendo com que as bancadas do MDB da Câmara e Senado atuem juntos a partir de agora", afirma o texto.
"A avaliação feita pelos candidatos é de que a derrota do Planalto na guerra de vacinas contra o governador João Doria, o recibo passado pelo ministro Pazuello, o barulho das redes e ruas, além dos últimos arroubos autoritários e machistas de Bolsonaro, aumentaram as perspectivas de o MDB reconquistar as duas Casas do Legislativo, como nos seus áureos tempos", completa.
A nota divulgada afirma que os dois candidatos propõem a criação de uma trincheira no Legislativo "em defesa da democracia". Fala que os dois candidatos consideram a democracia brasileira forte o suficiente para conter possíveis radicais, como fizeram os Estados Unidos durante a invasão do Congresso americano, em Washington, no último dia 6.
"Definitivamente, os ventos mudaram no Congresso Nacional. Pode-se dizer que Bolsonaro virou o maior cabo eleitoral dos candidatos independentes. Cada vez que ele abre a boca, Simone Tebet e Baleia Rossi conquistam novos votos", finaliza a nota, que diz ainda que a campanha rival cantou vitória antes do tempo.
Em vídeo também divulgado por sua equipe, Tebetl e Baleia aparecem em reunião com o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), pedindo empenho para conseguir votos nas duas eleições do Congresso.
A senadora fala da necessidade de "instituições fortes e democráticas para defendermos o país numa quadra que se avizinha que infelizmente não nos anima. É uma crise sem precedentes que vai exigir esforço de todos nós".
A mudança de tom acontece em um momento de dificuldade da campanha de Tebet, que ainda luta para fechar apoios. Quando sua candidatura foi lançada, Pacheco já contava com uma boa base.
O senador mineiro tem o apoio de nove partidos (DEM, PDT, PL, PP, PROS, PSC, PSD, PT e Republicanos) e seus aliados calculam que ele já tenha entre 44 e 46 votos, considerando esses partidos e dissidências de outras siglas.
São necessários 41 votos para vencer a disputa. Como a votação é secreta, no entanto, há chances de traições.
A bancada do MDB vai realizar uma reunião na noite desta terça-feira (19) para avaliar as candidaturas. Na semana passada, havia pressão da bancada para analisar as reais chances de vitória de Tebet e verificar se a manutenção de sua candidatura não poderia atrapalhar a eleição na Câmara.
O entorno de Tebet, no entanto, afirma que essas informações são plantadas pela equipe de Pacheco e que o MDB permanece unido.
Mesmo com todo o apoio angariado, Pacheco lançou apenas nesta terça-feira sua campanha para a presidência do Senado, defendendo unificação das instituições para pacificar a sociedade.
A candidatura foi lançada por meio de uma nota de duas páginas, sem a realização de evento oficial.
Pacheco indicou um tom de continuidade no documento, no qual ressaltou o trabalho de Alcolumbre. Afirmou que reconhece a necessidade de manter os "méritos e avanços da gestão atual".
Embora não ressalte nenhuma instabilidade ou crise política --como fez sua adversária--, Pacheco afirmou que vai assegurar as prerrogativas dos senadores, para o "livre e eficiente exercício de seus mandatos". Pacheco também afirmou na nota que vai defender a República, a democracia, o Estado democrático de Direito e a Constituição.
Ressaltou a defesa da independência dos Poderes, mas afirmou que as instituições podem se unir para atingir um "bem geral".
"Buscar permanentemente a unificação das instituições em torno de um objetivo comum --o bem geral-- e a pacificação da sociedade brasileira, sob o manto do diálogo e da busca do consenso, tendo como paradigma a independência harmônica entre os Poderes", afirma o texto.
O senador mineiro também destacou que o foco imediato da atuação do Senado, por conta da pandemia, deve ser o trinômio saúde pública, crescimento econômico e desenvolvimento social, com o "objetivo de preservar vidas humanas, socorrer os mais vulneráveis e gerar emprego, renda e oportunidades aos brasileiros e brasileiras, sem prejuízo de outras matérias de igual relevância, que merecerão, a seu tempo, atenção e prioridade".
Pacheco não citou no texto nenhuma proposta específica em relação a esses temas, como a prorrogação do auxílio emergencial.
Por fim, o senador também se comprometeu a submeter ao plenário as propostas de reformas e proposições que considera indispensáveis para o desenvolvimento do país.
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