Em seu primeiro dia no cargo, o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, adotou uma postura discreta e concentrou o dia em reuniões com a equipe da pasta acompanhado de um assessor de comunicação do Palácio do Planalto, Samy Liberman.
Teich assumiu a pasta depois de seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, ser demitido sob críticas de não seguir orientações do presidente Jair Bolsonaro e de que havia assumido um protagonismo excessivo no cargo.
Na tentativa de mostrar alinhamento, o novo ministro priorizou a agenda do primeiro dia com auxiliares próximos de Bolsonaro e dispensou, até domingo, a tradicional coletiva para atualização de dados sobre o novo coronavírus.
Após a posse, Teich almoçou com Bolsonaro e, à tarde, teve reuniões com os ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
Ao chegar ao ministério, evitou contato com a imprensa e entrou pela garagem, diferentemente da praxe adotada pela maioria dos ex-ministros da pasta.
Em reuniões, parte dos secretários da gestão anterior do Ministério da Saúde se colocou à disposição para ajudar na transição.
Bolsonaro já afirmou que pretende indicar parte da equipe. Segundo assessores palacianos, embora alguns membros possam ser mantidos, o cargo número 2 deve ser indicado a uma pessoa de fora da pasta.
O atual secretário-executivo, João Gabbardo dos Reis, esteve em reuniões com o novo ministro para informá-lo de ações da pasta.
Teich deve passar pelo primeiro teste de fogo no cargo no domingo, quando ocorre uma reunião de ministros da saúde do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias mundiais.
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, esteve no fim da tarde na sede da pasta com o novo ministro.
Araújo conversou sobre o tema com Teich e disse, em entrevista, que o ministro vai apresentar a posição brasileira no combate à Covid-19, mas não detalhou se haverá uma defesa a um isolamento mais brando diante de outros países.
"Competirá a ele [o que será exposto], mas, pelo que nos conversamos, ele vai expor suas ideias e acho que são fundamentais para o enfrentamento", disse. "O G20 é o espaço onde os países trocam informações, trocam ideias, trocam as melhores práticas. Acho que o Brasil terá muito a contribuir. E a ouvir."
Em meio aos compromissos, um encontro com o Mandetta, previsto para sexta-feira, ainda não havia ocorrido até o fim da tarde.
Embora tenha citado em discurso de posse que tentaria fazer uma gestão próxima dos estados e municípios, o ministro assumiu o cargo com desentendimentos com gestores municipais e estaduais de saúde, que participam das decisões sobre o SUS.
Um dos representantes do Conass, conselho que representa secretários estaduais de saúde, foi barrado na porta na entrada da cerimônia. Outro foi avisado de que haveria o evento, mas que não estava convidado.
Em geral, todas as posses de ministros da saúde são acompanhadas pelo grupo.
O presidente do Conass, Alberto Beltrame, que está em isolamento por ter sido diagnosticado com coronavírus e havia enviado um representante para o evento, classificou a situação como um "fato inédito em toda a história do SUS".
"A colegialidade da gestão e o respeito a estados e municípios é o mínimo que se espera do Ministério da Saúde neste grave momento de crise de saúde pública que vivemos", disse.
Em nota, o Ministério da Saúde disse, que por causa da crise do coronavírus, o ato no Palácio do Planalto foi restrito a poucas pessoas e que representantes dos conselhos seriam convidados para uma reunião de apresentação e trabalho no ministério.
Por volta das 15h, Teich ligou para Beltrame, em uma primeira tentativa de aproximação com representantes dos estados e para pedir desculpas.
Segundo Beltrame, a conversa foi "franca e cordial" e as desculpas "foram aceitas".
Na ligação, diz, o ministro "manifestou compromisso com o SUS" e "disposição para o diálogo" com estados e municípios na gestão da crise.
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