Aliado de Jair Bolsonaro na Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual Douglas Garcia (PSL), 26, afirma que pode haver risco de quebra da ordem democrática no país, mas não por parte do presidente.
"O TSE [Tribunal Superior Eleitoral] hoje pode, sim, representar uma ameaça à democracia se resolver, no tapetão, tirar o presidente", afirma em entrevista à reportagem.
Garcia menciona o julgamento de ações contra a chapa de Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão. Um dos casos foi suspenso nesta quarta (9) após pedido de vistas do ministro Alexandre de Moraes.
"Alguns ministros do TSE têm esse predisposto a ser essa ameaça da democracia", diz.
Ele afirma que não concorda com intervenção militar, mas que apoiadores de Bolsonaro são resguardados pela liberdade de expressão ao levantarem pautas antidemocráticas.
Garcia é investigado no inquérito das fake news, conduzido no Supremo Tribunal Federal (STF) por Moraes, e no Ministério Público de São Paulo para apurar se ele utilizou estrutura pública para promover ataques virtuais, no que seria um braço do chamado "gabinete do ódio" federal.
O deputado também é investigado por ter preparado um dossiê com dados de supostos antifascistas. Garcia diz que a lista foi entregue às autoridades, mas seus adversários o acusam de vazá-la.
Na opinião do deputado, os antifas são terroristas. Ele também vê o movimento negro como racista e as manifestações ao redor do mundo como atos de terrorismo.
Negro, homossexual e vindo da periferia, Garcia faz parte do Movimento Conservador, liderado por seu chefe de gabinete, Edson Salomão. Atualmente, o deputado está suspenso do PSL e é alvo de representações no Conselho de Ética da Assembleia.
É uma falácia. Eu uso meu gabinete para trabalhar na estrutura para o estado de São Paulo, ou seja, atendimento de escola, hospital etc.
A pessoa que me denunciou é a própria deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que faz exatamente aquilo que ela nos acusa de fazer.
Meu trabalho como deputado é fazer papel de adversário aos que são meus opositores políticos e isso eu faço muito bem na tribuna e no meu gabinete. Faço com total legitimidade, assim como os demais deputados. Estão tentando criminalizar a atividade parlamentar.
Nunca fiz nenhuma ameaça a instituição, muito menos ao STF. O que eu fiz foram críticas contundentes à atuação de alguns ministros, como Alexandre de Moraes, como Gilmar Mendes, que infelizmente ultrapassam seu poder e acabam interferindo em outra esfera.
De forma alguma. Todo poder não emana do povo? O Supremo não é o guardião da Constituição elaborada por representantes do povo? É claro que o Supremo tem que ter medo do povo nas ruas, assim como eu tenho que ter. É o povo que dá legitimidade para as instituições atuarem, não o contrário.
Tudo deve existir à base da democracia. Se o povo concorda que determinada instituição não deve existir, a gente está respeitando o sistema democrático ou não?
Essas regras são elaboradas por representantes do povo e podem ser mudadas de acordo com a vontade do próprio povo. Tudo ainda está dentro da democracia, não vejo como sair dela.
Não, não concordo com o fechamento do STF, nem do Congresso e muito menos intervenção militar. Mas defendo que essas pessoas tenham liberdade de expressão.
Não. Bolsonaro sempre agiu e agirá democraticamente. O golpe que temo não é por parte do presidente, mas de alguma outra instituição ouvindo o discurso da oposição.
A partir do momento que isso acontecer, você tem uma quebra institucional, que não virá por parte do presidente. A gente precisa saber como o Brasil irá reagir diante disso.
Há, por exemplo, o Tribunal Superior Eleitoral ,que está fazendo análise de um pedido da cassação da chapa Bolsonaro-Mourão com base em pessoas que ficam o tempo inteiro disseminando fake news, que é o caso da oposição ao presidente. É claro que isso é uma ameaça à democracia, ele foi eleito por 57 milhões de pessoas. Dilma Rousseff [PT] estava completamente embaralhada na questão da sua campanha e o TSE arquivou, ignorou. O TSE hoje pode, sim, representar uma ameaça à democracia se resolver, no tapetão, tirar o presidente.
Sim, mas estou dizendo a materialidade. Qual a materialidade do que estão acusando o presidente. É de caixa dois? Enriquecimento ilícito? É uma falácia que estão inventando para tirá-lo no tapetão. Já a Dilma tinha materialidade, o PT tem o maior número de escândalos. Não estou acusando o TSE de ser uma ameaça à democracia. Mas alguns ministros do TSE têm esse predisposto a ser essa ameaça da democracia.
Por que Alexandre de Moraes não deixou seu voto contrário [na quarta-feira]? A partir do momento que ele pede vistas, isso representa uma ameaça a qualquer momento. A gente tem a impressão de que eles podem cassar a chapa. Isso é uma ameaça à instituição Presidência da República.
Há outras análises que representam esse rompimento institucional também no STF. A escolha do diretor-geral da Polícia Federal pelo presidente é atribuição exclusiva dele. Quando Moraes dá uma canetada, ele acaba interferindo em outro Poder.
E agora ele está obrigando o presidente a mostrar os dados da Covid-19. Você vê uma ameaça constante de alguns ministros a derrubar as decisões do presidente. Isso simboliza uma tentativa de rompimento institucional.
O movimento negro é racista, repugnante, completamente agressivo e violento. O movimento negro no Brasil defende a segregação, vê as pessoas com cores diferentes como seres inferiores. Não lutam por igualdade, eles lutam por superioridade. Não me sinto representado. Vejo essas manifestações como atos de terrorismo.
Nunca me senti vítima de racismo. Eu sei que o racismo existe, não estou negando a existência. Mas o Brasil não é um país racista. Isso não significa que não exista racismo no Brasil.
Eu pedi que as pessoas me enviassem denúncias daquelas que eles suspeitavam que fazem parte desse grupo Ação Antifa. Os antifas não são democráticos. Eles têm a violência como forma de alcançar seus objetivos. Portanto, são criminosos.
Provocaria se estivesse nas mãos de militantes opositores. Mas não é o caso. A lista está nas mãos da Polícia Civil e da Polícia Federal.
Fiz 16 boletins de ocorrência por ameaça contra minha vida. Algumas pessoas eu consegui caracterizar, são até mesmo servidores públicos. Deixaram públicos meus dados, minha família está em risco.
Douglas Garcia, 26
Nascido e criado na favela de Americanópolis, na periferia de São Paulo, exerce seu primeiro mandato como deputado estadual, tendo sido eleito com 74,3 mil votos. Iniciou a graduação em direito, mas interrompeu o curso e pretende retomá-lo. É cofundador do Movimento Conservador (ex-Direita São Paulo) e milita contra o aborto, pela Escola sem Partido e a favor das armas. Foi criador do bloco de Carnaval Porão do Dops em 2018.
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