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TSE propõe usar PL das Fake News para derrubar contas sem avisar usuário

TSE propõe usar PL das Fake News para derrubar contas sem avisar usuário

Ministro Alexandre de Moraes, que preside a corte, entregou sugestões aos chefes do Legislativo nesta terça (25)

Publicado em 25 de abril de 2023 às 19:56

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DANIELLE BRANT, MARCELO ROCHA E CÉZAR FEITOZA

BRASÍLIA - O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) enviou à cúpula do Congresso sugestões ao projeto de lei das Fake News que incluem a retirada imediata de conteúdos que provoquem risco à segurança da informação e violem direitos de crianças e adolescentes, sem a obrigação de que o usuário seja notificado disso.

As propostas foram encaminhadas pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A urgência do texto foi aprovada nesta terça-feira (25) e o mérito deve ser votado na próxima terça (2).

Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão
Plenário da Câmara dos Deputados: urgência da PL das Fake News foi aprovada nesta terça-feira (25). (Bruno Spada/Câmara)

As emendas propostas pelo TSE consideram o texto aprovado pelo Senado e que sofreu diversas alterações durante a tramitação na Câmara, onde está sob a relatoria do deputado Orlando Silva (PC do B-SP).

O ministro afirmou que as big techs impulsionam e monetizam o ganho de publicidade em cima de textos, imagens, fatos e, portanto, também podem ser responsabilizadas.

"Nós queremos equiparar as responsabilidades. E eu acrescento ao texto aprovado pelo Senado Federal a responsabilidade de todos os provedores — sejam de redes sociais ou de mensageria — por conteúdos em que eles ganham", disse Moraes.

O TSE sugere incorporar ao artigo que trata de moderação de conteúdo dispositivo que obriga as plataformas, sob pena de responsabilidade civil e administrativa, a indisponibilizar imediatamente conteúdos e contas, com dispensa de notificação aos usuários, se verificarem ou existir dúvida fundada de risco de dano imediato de difícil reparação ou para a segurança da informação ou do usuário.

Isso também poderá acontecer caso haja risco de violação a direitos de crianças e adolescentes, crime de racismo ou de grave comprometimento da usabilidade, integridade ou estabilidade do aplicativo. Esses pontos estão contemplados no texto aprovado no Senado.

O TSE sugere incluir outros quatro riscos. O tribunal quer que sejam consideradas condutas, informações e atos antidemocráticos e a divulgação ou compartilhamento de fatos sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados que atinjam a integridade do processo eleitoral, inclusive os processos de votação, apuração e totalização de votos.

Também quer acrescentar risco de grave ameaça, direta e imediata, de violência ou incitação à violência contra a integridade física de funcionários públicos ou contra a infraestrutura física do Estado para restringir ou impedir o exercício dos Poderes ou a abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

E ainda o comportamento ou discurso de ódio, inclusive promoção de racismo, homofobia, ideologias nazistas, fascistas ou odiosas contra uma pessoa ou grupo mediante preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

A corte eleitoral defende que provedores de redes sociais e serviços de mensagens sejam solidariamente responsáveis, civil e administrativamente, por conteúdos direcionados por algoritmos, impulsionados e publicitários cuja distribuição tenha sido realizada mediante pagamento.

Outra sugestão do tribunal é replicar no PL das Fake News dispositivos da resolução aprovada pelo plenário do tribunal a dez dias do segundo turno das eleições de 2022. A norma ampliou de forma inédita os poderes do TSE na condução do processo eleitoral.

A resolução permitiu ao TSE, "em decisão fundamentada", determinar a imediata remoção de conteúdos das redes sociais considerados "inverídicos ou gravemente descontextualizados que atinjam a integridade do processo eleitoral". A remoção de conteúdos falsos poderia ser sumária, em até duas horas.

Com isso, o tribunal passou a poder agir de ofício, ou seja, sem ser provocado por candidaturas ou Ministério Público Eleitoral, para lidar com desinformação sobre as urnas, por exemplo.

O instrumento também permitia a suspensão temporária de perfis, contas ou canais, nos casos em que haja "produção sistemática de desinformação, caracterizada pela publicação contumaz de informações falsas ou descontextualizadas sobre o processo eleitoral".

Moraes destacou aos chefes do Legislativo nesta terça que as propostas para o PL das Fake News foram elaboradas com base na experiência do TSE e STF (Supremo Tribunal Federal) no enfrentamento da desinformação nos últimos anos.

Tanto no TSE quanto em inquéritos que tramitam no Supremo é apurada a existência de milícias digitais voltadas a desacreditar o processo eleitoral.

Jair Bolsonaro (PL) e aliados são alvos de investigações, incluindo a ação que pode levar o ex-mandatário à inelegibilidade. O caso envolve o encontro promovido com embaixadores por Bolsonaro no Palácio da Alvorada em julho do ano passado, oportunidade em que ele questionou, sem apresentar provas, a confiabilidade das urnas eletrônicas.

"Nós não podemos permitir que, nas eleições 2024, e, depois, em 2026, continue havendo ataques de desinformação. Isso vai contra a democracia, vai contra a liberdade dos eleitores", disse.

Filho 03 do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou o envio de sugestões por parte do TSE. Segundo ele, "causa estranheza o Judiciário se metendo em projeto de lei".

"Sou formado em Direito. Eu aprendi na universidade que o juiz é inerte. Quem quer participar de confecção de projeto de lei tem que candidatar a parlamentar e vir aqui exercer esse direito. Isso sim é estranho."

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