> >
Única nota mil da rede pública no Enem superou dificuldade de escrever

Única nota mil da rede pública no Enem superou dificuldade de escrever

Moradora de Virginópolis (MG) que fez ensino médio em colégio federal está entre os 12 estudantes do país com a pontuação máxima na redação em 2024

Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 20:13

Ícone - Tempo de Leitura 3min de leitura

CURITIBA - A estudante Samille Leão Malta (19), estava na academia de ginástica quando a nota do Enem foi liberada para consulta, na segunda-feira (13). "A nota seria divulgada às 10h. Aí eu fui antes para academia, para esfriar a cabeça, mas a nota saiu adiantada. Pedi para a minha mãe ver e ela me mandou uma mensagem perguntando: você tirou nota mil na redação, como assim?", conta, em entrevista à Folha nesta terça-feira (14).

Apenas 12 estudantes alcançaram nota mil, a pontuação máxima, na redação do Enem 2024. É o menor número de participantes com pontuação máxima já registrado no exame —foram 60 pessoas na avaliação anterior.

Estudante Samille Leão Malta, 19, concluiu o ensino médio em um colégio federal, em Viçosa (MG), e tirou nota mil na redação do Enem 2024. (Reprodução/Arquivo pessoal)

Além disso, dentro do grupo de 12 estudantes, apenas Samille concluiu o último ano do ensino médio em uma escola pública.

"Eu fiquei em choque. Mas esperei para ter certeza, por causa da instabilidade do site do Inep [instituto nacional responsável pela aplicação da prova]. Vai que é um 'bug'. Só contei para a minha professora do cursinho de redação. Fiquei muito feliz."

Samille nasceu nos EUA, na cidade de Brockton, Massachusetts, mas é filha de pais brasileiros e aos 7 anos já estava em Virginópolis, uma cidade de pouco mais de 10 mil habitantes na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais.

Todo o ensino fundamental foi feito em escolas da rede particular. Primeiro em Virginópolis, depois em Guanhães, cidade vizinha, com pouco mais de 30 mil habitantes.

Em seguida, para fazer o ensino médio, ela se mudou para Viçosa, município da Zona da Mata mineira, e onde ela se matriculou em um colégio federal, o Colégio de Aplicação Coluni, da UFV (Universidade Federal de Viçosa).

No ano passado, ainda conseguiu uma bolsa parcial para fazer um cursinho de redação, com aulas presenciais de uma hora e meia, semanalmente. Uma vez por mês, também havia um simulado.

"Quando eu era mais nova, eu escrevia mais. Mas atualmente eu escrevia mais por causa dos estudos para o Enem mesmo. Era uma coisa que eu não considerava que tinha facilidade", afirma ela, que acredita ter mais afinidade com disciplinas como matemática. Samille quer ser médica.

"Eu me dedicava o mesmo tanto para cada uma das disciplinas. Mas aí, depois de cada simulado, ao longo do ano, eu fui focando naquilo que eu via que estava com dificuldade. No cursinho de redação, quando eu vi que estava estagnando nos simulados e só tirava 920, eu tirei mais tempo para redação para ultrapassar essa barreira", conta ela.

"Fiz muitos simulados para treinar a questão do tempo. Não tinha facilidade com tempo não. Por isso estudei muito. Treinei para não precisar fazer rascunho, por exemplo, porque era uma coisa em que eu gastava muito tempo", explica ela.

Samille revela que, nas aulas do cursinho, a professora definiu eixos temáticos para aplicar nos simulados e ajudar os alunos a desenvolverem repertórios e argumentos. "Já tinha feito redações sobre temas relacionados", conta ela, em referência à proposta do Enem 2024, sobre "desafios para a valorização da herança africana no Brasil".

Questionada sobre quais outros fatores podem ter ajudado, Samille conta que se esquivou dos formatos de redação "prontos". "Existem muitos modelos de redação. E tem gente que decora o modelo e só substitui umas frases pelas outras. Mas não foi a estratégia que eu adotei. Eu sabia que neste ano eles estavam mais rígidos na correção", diz a estudante.

"Nos simulados, a cada tema eu procurava realmente entrar naquele problema, encontrar uma solução. Tentar ter uma visão crítica para apontar alguma coisa realmente importante dentro do tema. Até por isso eu demorava mais tempo para entregar o texto", recorda.

Agora, depois de concluir o ensino médio em Viçosa, onde morou com uma amiga, Samille voltou a morar em Virginópolis com sua mãe, que é enfermeira, e a irmã mais nova.

O próximo passo é a inscrição no Sisu (Sistema de Seleção Unificada). "Eu tenho minhas preferências, pela distância e pelo renome, mas depois vou decidir", diz ela.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais