A Universidade de Wuppertal, na Alemanha, afirmou nesta segunda-feira (29) que o novo ministro da Educação, Carlos Decotelli, não possui nenhum título da instituição.
Também declarou que o economista permaneceu na universidade como pesquisador visitante por apenas três meses, de janeiro a março de 2016, e não dois anos, como consta no currículo publicado pelo ministro na plataforma Lattes, mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
De acordo com a assessoria de imprensa da universidade alemã, nesses três meses Decotelli desenvolveu pesquisa sob orientação da professora Brigitte Wolf, especialista em teoria do design com foco em metodologia, planejamento e estratégia.
Em contato com a reportagem, Wolf afirmou que foi procurada por Decotelli em 2014. Na ocasião, diz ela, o economista requisitou uma posição em seu departamento como pesquisador de pós-doutorado.
"Convidei-o para Wuppertal e ele chegou no início de 2016. Ele ficou por vários meses na Universidade de Wuppertal para trabalhar em seu projeto de pesquisa sob minha supervisão", escreveu a acadêmica, hoje aposentada.
"Em seguida, ele precisou voltar para o Brasil para realizar a pesquisar empírica. Durante esse processo de investigação, ele viajou para a Universidade de Wuppertal diversas vezes para supervisão. Ele terminou sua pesquisa e a documentou", acrescentou.
"Como qualquer outra universidade alemã, a Universidade de Wuppertal não fornece o título acadêmico de pós-doutorado. O resultado de um pós-doutorado é a pesquisa apresentada", finalizou.
A pesquisa está publicada no site da FGV em inglês como "Pesquisa de Pós-Doutorado - Maquinário Agrícola - Design e Sustentabilidade" e datada como "Wuppertal 2017".
Instada a responder se a Universidade de Wuppertal não checou as credenciais acadêmicas de Decotelli antes de aceitá-lo como pesquisador, Wolf declinou e pediu que esclarecimentos fossem feitos à FGV.
"Ele não era um pesquisador de pós-doutorado na nossa universidade. A Universidade de Wuppertal não pode tecer comentários sobre títulos adquiridos no Brasil", esclareceu a assessoria de imprensa.
Na semana passada, a Universidade Nacional de Rosario, na Argentina, negou que o economista tivesse concluído o doutorado na instituição, como afirmava em seu currículo Lattes. Segundo o reitor, Franco Bartolacci, a tese apresentada por Decotelli foi rejeitada.
"Ele [Decotelli] cursou o doutorado, mas não finalizou, portanto não completou os requisitos exigidos para obter a titulação de doutor na Universidade Nacional de Rosario", disse Bartolacci.
O reitor esclareceu ainda que a tese apresentada por Decotelli foi reprovada. "Ela foi avaliada negativamente pelo jurado constituído para tal efeito [avaliar o trabalho]", disse.
Após a declaração, o currículo Lattes de Decotelli foi alterado para dizer que ele havia obtido créditos na universidade, sem obtenção de título.
O ministro foi acusado ainda de plagiar ao menos quatro trabalhos acadêmicos em seu mestrado, apresentado em 2008 na Fundação Getúlio Vargas do Rio, além de um relatório da Comissão de Valores Mobiliários. Ele nega as acusações e diz que revisará o trabalho.
Em nota divulgada enviada à reportagem, a FVG afirmou que, por causa do regime de trabalho remoto adotado durante a pandemia, não poderia checar as informações a respeito do plágio na dissertação de mestrado.
"Qualquer informação a respeito demandará acesso a arquivos físicos da época pelos respectivos orientadores responsáveis, o que só poderá se dar após o retorno destes a atuação presencial, eis que todos pertencentes ao chamado grupo de risco", afirmou.
?Afirmou ainda que Decotelli foi "professor convidado" da instituição, sem informar de quais cursos e por que período.
"Quanto aos cursos de doutorado e pós-doutorado, realizados com outras instituições educacionais, cabe a estas prestar eventuais esclarecimentos e não à FGV, para quem o Prof. Decotelli atuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como professor de qualquer das escolas da Fundação. Da mesma forma, não foi pesquisador da FGV, tampouco teve pesquisa financiada pela instituição."
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