Conteúdo investigado: Vídeo publicado por um médico no Instagram questiona a segurança das vacinas contra a covid-19 e afirma que pessoas estão adoecendo após receberem os imunizantes. O médico também atribui casos de herpes-zóster e câncer aos imunizantes.
Onde foi publicado: Instagram
Conclusão do Comprova: Diferentemente do que afirma médico em vídeo publicado no Instagram, é falso que as vacinas contra a covid-19 causem câncer e outras doenças respiratórias. Segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, também não há nenhuma comprovação científica ligando casos de herpes-zóster aos imunizantes.
A Anvisa confirmou que, até o momento, não há qualquer evidência sobre a relação de herpes-zóster com o uso das vacinas contra covid. A agência não recebeu notificações de eventos adversos relacionados a essas doenças.
De acordo com a Anvisa, todas as vacinas analisadas e autorizadas são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos, e seguem sendo monitoradas. Também segundo o órgão, até o momento, o monitoramento das vacinas não aponta alterações no perfil de segurança das doses aplicadas na população brasileira, independentemente de serem doses do esquema primário ou de reforço.
Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: Até o dia 8 de julho, a publicação teve 63.718 visualizações e 1.071 comentários no Instagram.
O que diz o autor da publicação: Por meio de mensagem no Instagram, o Comprova entrou em contato com o médico Leandro Almeida, autor da publicação, mas não obteve resposta aos questionamentos feitos.
Como verificamos: Foram feitas pesquisas por dados e informações em fontes oficiais, como o Instituto Butantan, o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para esclarecer as questões sobre as vacinas contra a covid, entramos em contato com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e com Anamélia Lorenzetti Bocca, especialista em imunologia celular pela Universidade de Brasília (UnB). Também entramos em contato com a Anvisa.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 8 de julho de 2022.
Para o Comprova, a Anvisa afirmou que todas as vacinas analisadas e autorizadas são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos e que seguem sendo monitoradas. De acordo com a OMS, uma vez identificada uma vacina promissora, ela passará primeiro por testes laboratoriais e, posteriormente, o fabricante pode solicitar a realização de ensaios clínicos. Esses ensaios geralmente envolvem vários milhares de participantes voluntários saudáveis. A segurança dos testes é garantida pelas autoridades reguladoras nacionais.
Além disso, os estudos continuam a ocorrer após a introdução de uma vacina no mercado. A chamada fase de farmacovigilância permite que os cientistas monitorem a eficácia e a segurança entre um número ainda maior de pessoas, por um período de tempo mais longo.
As vacinas brasileiras aprovadas pela Anvisa têm os possíveis efeitos adversos descritos nas bulas. Os relatos são atualizados através de registros científicos e publicados no próprio site da agência.
Nos documentos, é possível ter acesso a dados importantes que garantem a segurança das vacinas, como os resultados da eficácia do produto em diferentes grupos e descrição de possíveis eventos adversos. Nenhum dos imunizantes usados no país (Pfizer, Coronavac, Janssen e Astrazeneca) tem câncer, herpes-zóster ou outra doença respiratória citados como possíveis efeitos adversos da vacinação contra o coronavírus.
Renato Kfouri, diretor da SBIm, afirma: “As vacinas tanto na segunda, terceira e quarta dose têm os mesmos perfis de segurança. São raríssimos eventos adversos graves. O número de casos evitados, no caso da covid, supera de longe os efeitos colaterais”.
Desde dezembro de 2021, o Ministério da Saúde recomenda a aplicação da quarta dose da vacina contra covid para o grupo de imunossuprimidos. Em junho deste ano, a orientação foi ampliada para pessoas acima de 50 anos e profissionais de saúde, com intervalo mínimo de quatro meses a partir do primeiro reforço. A indicação, segundo documentos do órgão, considera dados clínicos que apontam a eficácia e a segurança da segunda dose de reforço do imunizante.
Segundo o ministério, achados preliminares de estudos recentes feitos em Israel indicaram que, após a vacinação com a quarta dose, houve aumento de cinco vezes nos anticorpos após uma semana da aplicação. Outro fato que baseou a recomendação do ministério foi a aprovação dos órgãos de saúde dos Estados Unidos, incluindo o Food and Drug Administration (FDA) e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), para indivíduos com 50 anos ou mais receberem a segunda dose de reforço.
O Ministério da Saúde afirmou que, no momento da orientação, existiam poucos dados referentes “à magnitude e duração do benefício de uma quarta dose de reforço” e que “não há dados disponíveis no momento que permitem avaliar a ocorrência de eventos adversos raros para a segunda dose de reforço”. Entretanto, o órgão “reconhece que diferentes estratégias de vacinação por parte dos países devem ser utilizadas com base na situação epidemiológica e na disponibilidade de vacinas”. Além disso, o órgão mencionou o surgimento de novas variantes do coronavírus como outro motivo para a recomendação.
Ao contrário do que atribui o autor do post, os especialistas ouvidos pelo Comprova afirmaram que não existe nenhuma relação comprovada entre herpes-zóster e a vacina contra a covid-19. A Anvisa relatou não haver evidência científica que mostrasse isso e também não foram recebidas notificações sobre uma possível ocorrência.
Anamélia Lorenzetti Bocca, coordenadora do Laboratório de Imunologia Celular no Instituto de Biologia da UnB, conta que é normal existir análises sobre uma possível correlação entre uma vacina e a ocorrência de diversas doenças porque o número de pessoas vacinadas e os diferentes estados da resposta imunológica são muito amplos.
Normalmente, são investigações de um caso específico de uma pessoa ou análises observacionais, que não garantem uma relação de causa e efeito. Entre estas análises estão trabalhos sobre a herpes-zóster, mas, até o momento, não existe nenhuma conclusão ligando a doença com a vacina contra a covid-19. “Não se pode ter como consenso resultados de relato de caso. O número de pessoas para se estabelecer uma correlação significativa deve ser bem grande”, afirma Bocca.
Segundo Renato Kfouri, na verdade, há indícios mais fortes para uma relação entre herpes-zóster e a covid, do que com a vacina contra a doença. Uma pesquisa realizada por profissionais da Universidade Estadual de Montes Claros, em Minas Gerais, mostrou um crescimento de 35% desse tipo de herpes durante a pandemia. O documento não faz diferenciação entre vacinados e não-vacinados, mas os cientistas acreditam que o aumento é um forte indício de correlação entre a herpes e a infecção pelo coronavírus. Outros estudos internacionais também apontam para um risco aumentado de ocorrência de herpes-zóster em pessoas que tiveram contato com o coronavírus, e não com o imunizante que protege contra a doença (1, 2 e 3).
A Anvisa informou que não há evidência nos estudos pré-clínicos (feitos com animais) e clínicos (feitos com pessoas) de que as vacinas contra covid-19 sejam capazes de induzir mutações genéticas ou desenvolvimento de câncer. Informações da Fiocruz também descartam a possível relação. O Comprova mostrou anteriormente que a vacina não está relacionada com câncer ou HIV.
Os especialistas ouvidos pelo Comprova afirmaram que não há relação entre a vacinação contra a covid e outras doenças respiratórias. “Até o momento não existe nenhuma relação entre aplicação das vacinas de covid, que estão circulando, com essas doenças. Aliás, às vezes, ocorre o contrário, porque as vacinas estimulam o sistema imunológico enquanto essas doenças ocorrem com depressão da resposta imunológica do paciente”, afirmou Bocca.
O autor da publicação também sugere que os testes contra covid poderiam estar relacionados com o desenvolvimento de outras doenças, principalmente as respiratórias. Segundo Renato Kfouri, os diversos testes contra a covid são colhidos através de swabs nasais, uma espécie de cotonete longo, que têm contato com a região da nasofaringe, onde os vírus respiratórios normalmente se alojam.
O imunologista afirma que é um procedimento inócuo, sem nenhum risco de contaminação de outras doenças: “São cotonetes estéreis e não trazem nenhum prejuízo para a saúde”.
Leandro Guilherme Ladeia Almeida é graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Barbacena (Fame). Em site pessoal, afirma que é especializado em Endocrinologia pelo Instituto de Pesquisas e Ensino Médico (Ipemed) e pós-graduado em Medicina Ortomolecular, Bioquímica e Fisiologia do Exercício. Também afirma ser especialista em metabologia, nutrigenética, fertilidade, desempenho humano, bioquímica e fisiologia.
No portal do Conselho Federal de Medicina (CFM), ele aparece como médico sem especialidade registrada. Possui situação regular e inscrição em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Não foram encontradas outras checagens ou notícias sobre o médico.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais.
A postagem aqui verificada mente ao dizer que não há segurança nas vacinas contra a covid-19 e que os imunizantes são causadores de doenças graves. Conteúdos como esse propagam deliberadamente falsidades e colocam em risco a segurança sanitária do país.
Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que vacinas contra covid-19 não provocam câncer, diferentemente do que afirma médico dos EUA; que vacina da covid não fez ‘explodir’ doenças cardíacas em crianças e que imunizante contra o coronavírus é seguro e não gera HIV, câncer ou HPV.
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