Poucos dias após o anúncio do resultado das eleições de 2018, Sergio Moro informou que deixaria a carreira de juiz federal no Paraná para assumir o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, a convite do então presidente eleito Jair Bolsonaro. Nesta sexta-feira (24), após diversos atritos com o presidente, o ex-juiz anunciou sua saída do ministério. O estopim do acirramento entre o agora ex-ministro e o presidente foi a exoneração do ex-diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, publicado na manhã desta sexta no Diário Oficial da União.
Apesar de ter tomado posse com o discurso de que teria total autonomia, Moro acumulou recuos e derrotas durante sua passagem. Apontado como um possível candidato a presidência em 2022, o ex-juiz federal passou a ser visto como um potencial adversário de Bolsonaro nas próximas eleições. Relembre alguns atritos entre o ministro e o presidente.
Bandeira de Bolsonaro durante a campanha eleitoral, um dos primeiros atos foi a flexibilização do porte de armas, medida que tinha certa desconfiança por parte de Moro. Em entrevistas, o ministro tentou se desvincular da autoria do projeto e as sugestões que havia apontado, como a limitação de registros de duas armas por pessoa, acabou ignorada.
Uma das primeiras interferências da presidência na gestão de Moro aconteceu ainda em fevereiro de 2019, quando apoiadores de Bolsonaro criticaram a nomeação de Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penintenciária. Fundadora do Instituto Igarapé, Szabó atuou na ONG Viva Rio e defendia o desarmamento, o que irritou aliados do presidente. Sua nomeação foi revogada.
Uma das primeiras interferências de Bolsonaro no Ministério da Justiça foi a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Na época, o presidente disse que os ministros tinham liberdade, mas era ele "quem mandava". Houve repercussão negativa e ele acabou recuando, momentaneamente da decisão, que acabou sendo efetivada dias depois.
O primeiro grande duelo entre apoiadores de Bolsonaro e de Moro foi durante o episódio que terminou com a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Justiça para o Banco Central. O órgão participou das investigações de movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, motorista de Flávio Bolsonaro, filho do presidente. Moro queria que o Coaf continuasse sob sua guarda, mas foi derrotado na Câmara com o aval de Bolsonaro.
Em nova ofensiva na Polícia Federal, Bolsonaro decidiu trocar o chefe da PF no Rio de Janeiro e disse que poderia muda o diretor-geral do órgão, Maurício Valeixo. Na ocasião, o presidente disse que Valeixo era subordinado a ele e não a Moro. Houve reação negativa por parte da categoria e o diretor-geral permaneceu no cargo.
Durante a crise entre o ministro e o presidente, a imprensa noticiou que Moro havia procurado o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, para pedir que ele reconsiderasse a decisão que restringia o compartilhamento de relatórios do Coaf com os ministérios públicos e a Polícia Federal.
Em conversa com secretários estaduais de Segurança Pública, Bolsonaro disse que estudava recriar o Ministério da Segurança Pública, o que, na prática, enfraqueceria o ministério de Moro. Posteriormente, duante viagem à Índia, Bolsonaro disse que a chance de isso acontecer era zero.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta