Um vídeo de cerca de dois minutos em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursa em uma loja da Maçonaria entrou na lista dos assuntos mais comentados do Twitter na manhã desta terça-feira. As imagens foram extraídas de um vídeo mais longo, que já havia sido publicado em 2017, antes mesmo de Bolsonaro assumir sua candidatura ao Planalto.
Sem data, a gravação mostra Bolsonaro se apresentando como deputado federal e está sendo usada como arma com potencial de causar estragos numa de suas bases mais sólidas, a evangélica.
Durante sua fala no vídeo, ele diz não ser “candidato a nada”, alerta para um “perigo ideológico” e afirma que é preciso “fugir da política tradicional”. Nas redes sociais, as imagens têm sido usadas por opositores para aumentar a rejeição do presidente em um dos segmentos mais fortes de seu eleitorado, os evangélicos.
O trecho que viralizou nas redes tem sido compartilhado por páginas de entretenimento, além de usuários declaradamente críticos ao presidente. Os internautas apontam contradição pela relação dele com as igrejas Católica e, especialmente, Evangélica.
No vídeo, Bolsonaro diz estar em seu sétimo mandato como parlamentar” e nega que, naquele momento, estivesse fazendo campanha à Presidência.
A Folha de S.Paulo conversou com três pastores bolsonaristas. Dois afirmam que o impacto será nulo na campanha à reeleição. Outro admitiu que alguns eleitores crentes podem se abalar com as imagens.
"Se provar que é isso fake news, estrago nenhum", diz Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. "Se for verdade, pouco estrago, porque não é questão religiosa."
Mas o tema já foi usado para motivar a base cristã. Há um exemplo um tanto anedótico: em 2018, então adversário de Bolsonaro, Cabo Daciolo acusou os irmãos evangélicos Marco Feliciano e Malafaia de se envolverem com maçonaria. Não há qualquer prova disso.
A deputada bolsonarista Carla Zambelli se casou em 2020 numa cerimônia maçônica, o que na época até rendeu piada do hoje senador eleitor Sergio Moro, ainda ministro do governo Bolsonaro.
"Sendo um casamento maçom, eu não sabia se podia falar, porque é tudo segredo. Eu não sei se posso dizer que sou testemunha ou que não sou testemunha do casamento", brincou o ex-juiz.
Muitos grupos religiosos, como parte dos evangélicos, comparam a maçonaria a uma seita. O Vaticano já afirmou que os princípios maçons são incompatíveis com a doutrina da Igreja Católica.
Em 1983, o então cardeal Joseph Ratzinger, futuro papa Bento 16, assinou documento em nome da Santa Sé reforçando "o parecer negativo da igreja a respeito das associações maçônicas".
"Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem se aproximar da Sagrada Comunhão", afirmou à época.
Em 2018, o general Antônio Hamilton Mourão, maçom há mais de duas décadas, incluiu em sua campanha como vice de Bolsonaro visitas a templos dessa fraternidade de homens que, com pretensões filantrópicas e filosóficas somadas a um histórico de acertos políticos, existe sob ares de sociedade secreta. Apresentava-se então como fiador do então deputado que queria virar presidente.
Apesar de muitos maçons preferirem o adjetivo "discreto" em vez de "secreto", ainda há zelo ao apontar quem é quem e quais são os ritos para entrar no clube. Entre maçons ilustres estão presidentes americanos (ao menos 15 deles, como George Washington), pensadores (Voltaire), músicos (Beethoven), imperadores (dom Pedro 1º) e militares (Duque de Caxias). O ex-presidente Michel Temer, o ex-governador paulista Márcio França e o ex-prefeito de São Paulo Bruno Covas, morto em 2021, também são.
No vídeo que atiçou as redes sociais, Bolsonaro discursa numa espécie de altar adornado com símbolos tradicionais da Maçonaria, como o esquadro e o compasso, além de outros símbolos triangulares. Fala sobre corrupção, questões ideológicas e afirma ter "saído da zona de conforto" do mandato parlamentar para andar pelo Brasil e investigar "quais são os grandes problemas que temos que enfrentar".
O comando da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia a hipótese de exibir, em inserções, o vídeo em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece discursando em uma loja da Maçonaria.
Segundo petistas, a ideia é usar as imagens caso Bolsonaro suba o tom da campanha, trazendo a pauta religiosa à disputa. O vídeo está na lista dos assuntos mais comentados do Twitter nesta terça (4), assim como "maçonaria", "decepção" e "Bolsonaro satanista".
O uso do registro seria uma forma de deter avanços mais agressivos de Bolsonaro sobre os evangélicos.
Em uma espécie de altar com símbolos tradicionais da maçonaria, como o esquadro e o compasso, Bolsonaro fala sobre corrupção, questões ideológicas e diz ter "saído da zona de conforto" do mandato parlamentar para viajar pelo Brasil e investigar "quais são os grandes problemas que temos que enfrentar".
O vídeo está publicado ao menos desde 2017 num canal no YouTube chamado O Democrata, atualmente identificado com as páginas Todos Com Ciro, de apoio ao candidato derrotado Ciro Gomes (PDT).
O uso da gravação, em meio à disputa do segundo turno entre Bolsonaro e Lula, numa disputa marcada pelo discurso fortemente religioso do atual chefe do Executivo e pelo peso do eleitorado evangélico, oferece munição a opositores do presidente, que tentam fazer com que o material chegue a essa fatia.
A maçonaria é uma confraria mundial, que teve origem na Idade Média e possui forte representação no Brasil. Os membros refutam a pecha de sociedade secreta e preferem classificá-la de instituição dedicada às bandeiras filosófica, filantrópica, educativa e progressista.
*ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, CATIA SEABRA e informações de agências
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