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Vídeo antigo sobre febre amarela é tirado de contexto para atacar vacina contra covid-19

Vídeo antigo sobre febre amarela é tirado de contexto para atacar vacina contra covid-19

Autor da publicação usa uma reportagem da TV Globo, de 2018, sobre a morte de duas pessoas devido aos efeitos colaterais da vacina contra a febre amarela em São Paulo, e relaciona os óbitos com o imunizante contra a covid-19

Publicado em 12 de setembro de 2024 às 06:00

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Vídeo antigo sobre febre amarela é tirado de contexto para atacar vacina contra covid-19
Vídeo antigo sobre febre amarela é tirado de contexto para atacar vacina contra covid-19. (Reprodução X/Arte A Gazeta)

Conteúdo investigado: Vídeo do telejornal SPTV 1ª Edição, da TV Globo, compartilhado nas redes sociais, no qual o jornalista César Tralli noticia a morte de duas pessoas após se vacinarem contra a febre amarela. A publicação insinua que as mortes ocorreram pela vacina contra a covid-19. Na legenda, a postagem diz “agora que Bolsonaro não é mais presidente, a vacina mata. E quem está dizendo isso é a Globo!”.

Onde foi publicado: X e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: Um vídeo antigo voltou a viralizar no X e no WhatsApp com alterações enganosas que apontam que a TV Globo teria admitido que vacinas contra a covid-19 matam. O autor do post utilizou um vídeo do SPTV 1ª edição, de 2018, no qual o jornalista César Tralli, então apresentador do telejornal, noticia a morte de duas pessoas imunizadas contra a febre amarela. Naquele momento, o país enfrentava centenas de casos da doença e um terceiro óbito estava para ser confirmado.

Em nenhum momento o jornalista afirma que as vacinas matam. Ele alerta que há contraindicações no caso da imunização contra a febre amarela (veja o vídeo original aqui, em uma verificação do portal g1 sobre o assunto) e ressalta que médicos suspeitavam que a baixa imunidade das pessoas vacinadas estava ocasionando as mortes.

O vídeo original sofreu edições e cortes. No material adulterado, Tralli faz o seguinte comentário sobre a vacina contra febre amarela: “Gente, é importante lembrar o seguinte: a vacina tem, sim, contra indicações. Tem riscos à saúde. O secretário municipal da saúde aqui de São Paulo, Wilson Pollara, me confirmou agora há pouco por telefone que duas pessoas já morreram aqui em São Paulo depois de tomar a vacina, um homem e uma mulher. Os médicos suspeitam que eles estavam com a imunidade baixa. E outras três mortes de pessoas que tomaram a vacina também estão sendo investigadas. Uma delas deve se confirmar: mais um homem. Todas essas pessoas tomaram vacina de outubro para cá”.

A versão adulterada elimina a frase “só deve tomar essa vacina contra a febre amarela quem for viajar ou mora em área de risco”, dita pelo apresentador. Conforme a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) o imunizante é contraindicado para:

O texto descritivo da matéria, que fica no rodapé da tela, também foi alterado. Enquanto no vídeo original estava escrito “febre amarela”, no conteúdo modificado ele é substituído, logo no início, por “vacinas matam”. Ainda na legenda do post no qual essa versão foi publicada, o autor escreveu: “Resumindo, Bolsonaro sempre teve razão!”.

O vídeo confunde ao induzir que a TV Globo estaria falando da vacinação contra a covid-19 e que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria correto ao questionar a eficácia da vacina. A pandemia chegou ao país em 2020, um ano após o início da gestão do então mandatário. A imunização contra a covid no Brasil começou em 2021 e sempre foi colocada em xeque por Bolsonaro, que nunca apresentou evidências científicas de falhas.

O Ministério da Saúde atestou, repetidas vezes, que todos os imunizantes utilizados contra a doença têm eficácia comprovada e que, “previamente à sua introdução, passaram por todas as fases de estudos pré-clínicos e estudos clínicos (fase I, II e III)”.

Sobre a vacina contra a febre amarela, a Fiocruz, em nota publicada no site, esclarece que ela é raramente associada a eventos graves, como reação de hipersensibilidade (0,0009%), reação anafilática (0,000023%), doença neurológica (0,0004%) e doença viscerotrópica (0,0003% em maiores de 60 anos e 0,001% em menores de 60 anos).

Não foi possível contato com o autor do post, já que o X está fora do ar no Brasil.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação distribuída na rede social X alcançou até o dia 10 de setembro, 144 mil visualizações.

Fontes que consultamos: A partir da publicação original, foi realizada uma pesquisa no Google com os termos “vacina febre amarela mortes” ou “vacina febre amarela mortes SPTV”. O buscador exibiu os resultados das notícias e rapidamente foi possível encontrar as informações sobre o caso de 2018, incluindo o vídeo publicado na época pelo portal g1, da TV Globo, em 19 de janeiro de 2018, com a reportagem exibida no telejornal SPTV. Além disso, é possível encontrar a notícia das mortes causadas pela vacina contra a febre amarela em sites como Agência Brasil e g1 a partir do buscador Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O vídeo com a edição alterada já foi verificado por veículos como Fato ou Fake Estadão Verifica. O conteúdo também foi checado por UOL Confere, Terra e Reuters, que apontaram que o conteúdo distribuído nas redes sociais e pelo aplicativo de mensagens WhatsApp é enganoso.

Investigação e verificação

Investigado por: SBT News e SBT, Tribuna do Norte e NSC Comunicação
Texto verificado por: A Gazeta, NEXO e O POVO

O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada e mantida pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. A Gazeta faz parte dessa aliança. 

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