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Vídeo engana ao afirmar que prisão de Nego Di seria resultado de perseguição política

Vídeo engana ao afirmar que prisão de Nego Di seria resultado de perseguição política

Prisão do ex-BBB foi resultado de uma operação da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, iniciada em 2022, por acusações de estelionato e não por criticar o governo Lula (PT)

Publicado em 29 de julho de 2024 às 09:31

Ícone - Tempo de Leitura 6min de leitura
Vídeo engana ao afirmar que prisão de Nego Di seria resultado de perseguição política. (Reprodução TikTok/Arte A Gazeta)

Conteúdo investigado: Vídeo em que homem chama o governo Lula de ditadura e sugere perseguição estatal contra o influenciador Nego Di. No post, ele afirma que Monark estava certo quando alertou o comediante sobre suposta perseguição em uma conversa no X.

Onde foi publicado: TikTok e YouTube.

Conclusão do Comprova: Postagem engana ao afirmar que o influenciador Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di, foi preso porque estaria sendo perseguido por críticas ao governo Lula (PT) no durante as enchentes no Rio Grande do Sul.

Não há indício de que a prisão do comediante tenha sido efetuada por razões políticas. O influenciador foi preso em 14 de julho em operação deflagrada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, que investiga crime de estelionato praticado contra 370 pessoas. As autoridades apuram o caso desde 2022, portanto antes da posse de Lula na presidência.

O comediante também foi alvo da operação Rifa$, deflagrada em 12 de julho pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre. O ex-BBB e a esposa, Gabriela Sousa, são acusados de lavagem de cerca de R$ 2 milhões com rifas virtuais ilegais e fraudes nas redes sociais.

O vídeo verificado, publicado pelo youtuber Ricardo Albuquerque, conhecido como Peter Turguniev, revela que Monark, também influenciador digital, teria alertado Nego Di sobre uma possível “perseguição”. No vídeo, Peter apresenta um print do X, no qual o ex-podcaster aconselha o humorista a comprar bitcoins e estar preparado para deixar o país. Em resposta, Nego Di descartou os conselhos e afirmou que existe “um abismo” entre as atitudes e falas dos dois.

O diálogo ocorreu entre os dias 14 e 15 de maio, logo após o Tribunal de Justiça (TJ) determinar que Nego Di deveria apagar publicações com informações falsas sobre as enchentes. Ele chegou a postar, por exemplo, um vídeo antigo de uma pessoa morta em outra tragédia como se tivesse sido gravado no RS. A Justiça ordenou a exclusão imediata das postagens e proibiu o influenciador de reiterar as afirmações falsas, sob pena de multa de R$ 100 mil.

Após a resposta do comediante, Monark repostou comentário de um seguidor que concordou com o alerta feito à Nego Di e afirmou que o influenciador “ainda acredita que se pode ser livre e não sofrer as consequências”.

Ao contrário do que alega o vídeo verificado, todas as denúncias foram realizadas em âmbito estadual, por meio da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio Grande do Sul, sem participação de órgãos federais.

Sobre a prisão de Nego Di, o chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Fernando Sodré, negou em entrevista à CNN que a detenção tenha sido motivada por perseguição política. Ele destacou que as investigações começaram em 2022, antes mesmo de Lula tomar posse e de qualquer manifestação político-partidária feita por Nego Di. Ainda segundo Sodré, a investigação foi concluída em 2023, antes das enchentes.

O investigador aponta também que as provas do caso são técnicas e que, para a polícia, não há dúvida de que o influenciador tenha entrado em processo indevido e ilícito.

Em resposta ao Comprova, a defesa de Nego Di afirmou que a prisão de Anderson Bonetti, apontado como sócio do influenciador, realizada no dia 22 de julho é “decisiva para o esclarecimento dos fatos e comprovação da inocência do criador de conteúdo digital”. As advogadas Tatiana Borsa e Camila Kersch reforçaram ainda que o processo tramita em segredo de Justiça e, por esse motivo, a defesa irá se manifestar em momento oportuno.

A reportagem também entrou em contato com o autor do vídeo, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 26 de julho, a publicação checada pelo Comprova no TikTok tinha 33 mil visualizações. Já no Youtube, de onde o corte foi retirado, o vídeo passava de 85,3 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Localizamos no YouTube a publicação do vídeo original, a partir do qual foi feito o recorte. Também usamos como fonte uma reportagem publicada pela CNN. Para reunir informações sobre as denúncias contra o Nego Di consultamos o site da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio Grande do Sul e entramos em contato com a assessoria do influencer.

Acusações contra Nego Di

Nego Di foi preso em 14 de julho em uma residência na praia de Jurerê, em Florianópolis (SC), na Operação 300+, derivada de uma investigação que durou mais de um ano. Nesse período, foram analisados documentos, 370 ocorrências e seus anexos, centenas de laudas de dados bancários e 73 vídeos.

O sócio do ex-BBB, Anderson Bonetti, também é investigado. Em março de 2022, os dois criaram a loja virtual “Tadizuera”, vinculada à imagem do influenciador, na qual seriam vendidos produtos como televisores, ares-condicionado e celulares, abaixo do preço de mercado. Segundo as investigações, os itens, no entanto, nunca foram entregues aos compradores. O site foi suspenso por decisão judicial em junho de 2022, e o prejuízo ocasionado pela fraude é de cerca de R$ 5 milhões.

Em outra investigação do MPRS, Nego Di e sua esposa são suspeitos de fraude e lavagem de dinheiro. Segundo o órgão, o casal arrecadou cerca de R$ 2 milhões com a promoção de rifas virtuais ilegais. Os prêmios, que seriam valores em dinheiro e bens de alto valor, também não teriam sido entregues.

Na operação Rifa$, deflagrada em 12 de julho, em Santa Catarina, o MP apreendeu dois veículos de luxo, munição e arma de uso exclusivo das Forças Armadas sem registro. Gabriela foi presa em flagrante por porte ilegal do armamento, mas foi solta após pagar fiança de R$ 14 mil.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Durante o período das enchentes no Rio Grande do Sul, o humorista foi uma das figuras públicas que disseminou desinformação sobre a atuação dos governos federal e estadual. O Aos Fatos mostrou ser falso um boato amplamente divulgado por Nego Di de que o governo do RS estaria barrando jet-skis e barcos de voluntários. O Comprova já mostrou ser enganoso que todos os profissionais autônomos serão obrigados a pagar 26,5% em impostos com a reforma tributária e que a Europa estaria barrando importações do Brasil.

*Esta verificação contou com a participação de jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.

Investigação e verificação

Investigado por: Correio Braziliense, Terra e Residência Comprova
Texto verificado por: A Gazeta, O Popular, UOL, Folha, Band News FM, Estadão, SBT e SBT News

O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada e mantida pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. A Gazeta faz parte dessa aliança. 

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