O segundo turno das eleições municipais de 2020 foi marcado por viradas eleitorais e disputas acirradas que, em mais de 40% dos casos, terminaram com menos de dez pontos percentuais de diferença entre os dois candidatos.
Isso fez a última semana das campanhas em muitas das 57 cidades que votaram no domingo (29) serem batalhas com o objetivo de convencer indecisos a irem às urnas.
Este ano, o período entre o primeiro e o segundo turno foi reduzido para duas semanas devido ao adiamento provocado pelo Covid-19.
O número de cidades com disputa em duas etapas, 57, é o mesmo de 2016, mas pode ultrapassar as eleições anteriores porque Macapá só irá votar em primeiro turno no dia 6 de dezembro, devido ao apagão. Até o momento, as pesquisas apontam que a capital do Amapá deve ter duas rodadas eleitorais.
Este ano, 95 cidades brasileiras estavam aptas a terem segundo turno, por registrarem mais de 200 mil eleitores.
Candidatos que ficaram em segundo lugar no primeiro turno conseguiram uma virada e foram eleitos em 17 cidades, quantidade superior às eleições anteriores. Três dessas viradas aconteceram em capitais: Cuiabá, Manaus e Maceió.
Em 2016 foram 14 viradas e houve apenas um prefeito de capital eleito que não liderou o primeiro turno: Alexandre Kalil (hoje no PSD, à época no PHS), em Belo Horizonte.
A eleição mais acirrada em capitais foi a de Cuiabá. No último domingo (29), o vencedor fez 6.094 votos a mais que o segundo colocado. Um dia antes da votação, o candidato que liderou o primeiro turno, Abílio Jr. (Podemos), pedia em transmissão nas redes sociais que os seus seguidores tentassem convencer outras pessoas a votarem nele.
"Se você quer nos ajudar a ganhar a eleição, até as 23h59 de hoje é o limite para você dar essa força para a gente", disse Abílio em vídeo. "Converse com quem está na dúvida."
Acabou derrotado pelo prefeito e candidato à reeleição Emanuel Pinheiro (MDB), que conseguiu virar o resultado da primeira votação e conquistar 51,15% dos votos válidos. O emedebista também concentrou os esforços no segundo turno nos indecisos.
Entre todas as cidades com segundo, a disputa mais apertada aconteceu em Taboão da Serra (Grande SP), e acabou também com uma virada. O deputado estadual Aprígio (Podemos) encerrou o pleito à frente do adversário, Daniel Bogalho (PSDB), por apenas 1.695 eleitores de diferença. Teve 50,6% dos votos válidos.
Bogalho era apoiado pelo prefeito Fernando Fernandes (PSDB) e no primeiro turno teve mais de um ponto percentual à frente de Aprígio.
Dois dias antes da eleição, a campanha do tucano tentava convencer o eleitor que havia uma "onda azul", cor associada ao partido, na cidade. Não convenceu. Além de Cuiabá e de Taboão da Serra, outras 23 cidades terminaram com um candidato eleito com menos de 55% dos votos válidos.
Outra capital que teve uma virada eleitoral foi Manaus, onde David Almeida (Avante) ganhou do ex-governador Amazonino Mendes (Podemos) com 51,27% dos votos válidos.
Na capital amazonense, a campanha foi encerrada de forma abrupta no sábado (28), após o anúncio de que a mãe de David havia morrido após contrair o novo coronavírus.
O MDB foi o partido com mais viradas, em quatro cidades. Além de Cuiabá, conseguiu duas vitórias contra o PT nas duas maiores cidades do interior da Bahia, Feira de Santana e Vitória da Conquista.
Em ambos os casos os prefeitos das cidades, emedebistas, tentavam se reeleger contra um candidato apoiado pelo governador petista Rui Costa.
Em Feira, houve uma inusitada união de forças no segundo turno entre o candidato do PT, Zé Neto, e a presidente do PSL da Bahia, Dayane Pimentel, contra o prefeito Colbert Martins (MDB). Não deu resultado e Colbert foi eleito para um novo mandato. O MDB também levou Franca (SP) de virada.
No interior de São Paulo, o Podemos conseguiu uma tripla virada: além de Taboão, ganhou em Mogi das Cruzes (Grande SP) e em São Vicente (Baixada Santista).
O Novo elegeu seu único prefeito no domingo, também em uma virada, em Joinville (SC). Na cidade catarinense, o empresário Adriano Silva venceu o deputado federal Darci de Matos (PSD).
A virada mais expressiva foi em Caxias do Sul, contra o candidato Pepe Vargas (PT), ex-prefeito da cidade e ex-ministro do governo Dilma Rousseff. No primeiro turno, Pepe teve 34% dos votos válidos e o tucano Adiló Didomenico, 15%. Adiló acabou o segundo turno eleito com 59,57% dos votos válidos.
As disputas menos acirradas aconteceram em dez cidades nas quais um dos candidatos conseguiu mais de 60% dos votos válidos. Um dos exemplos é o Rio de Janeiro, onde Eduardo Paes (DEM) obteve 64% dos votos válidos contra Marcelo Crivella (Republicanos).
Só em duas cidades um dos candidatos conseguiu mais de 70% da votação. Blumenau (SC) reelegeu o prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) com 72,10% dos votos válidos.
Já Boa Vista elegeu o vice-prefeito Arthur Henrique (MDB), apoiado pela atual prefeita Teresa Surita (MDB). Ele conseguiu 85,3% dos votos válidos contra o deputado federal Ottaci (SD).
Teresa Surita, ex-mulher do ex-senador e cacique do MDB Romero Jucá, foi prefeita por cinco mandatos na capital de Roraima. Em 2016, ela teve quase 80% dos votos válidos no primeiro turno. Logo após a vitória, Arthur Henrique discursou ao lado dos seus dois padrinhos políticos.
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