O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse nesta sexta-feira (17) que a ditadura militar é um "tema polêmico" e que ainda não há uma pacificação sobre o que ocorreu durante o período (1964-1985). O tema não foi abordado no Enem 2019.
Weintraub concedeu uma entrevista coletiva para falar sobre um balanço da última edição do exame. O ministro defendeu que não houve questões polêmicas e ideológicas no exame.
Ao ser questionado pela Folha sobre se ele achava que a ditadura era um tema polêmico e que deveria estar fora do Enem, o ministro disse:
"Como aqui no Brasil existe ainda uma coisa não pacificada de como foi o período do regime militar, o objetivo do Enem não é polemizar e sim selecionar as melhores cabeças. Nós, nem fui eu, o banco examinador resolveu não colocar [questões sobre a ditadura na prova], não é para ter questão polemica", disse Weintraub.
Ele ainda fez menção às ditaduras de Cuba e Venezuela. "Para mim, ditadura é isso, uma situação muito pesada".
Apesar de ter dito isso, Weintraub defendeu, logo depois, que não participou de qualquer decisão sobre o conteúdo da prova e não viu o exame antes. O presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Alexandre Lopes, afirmou que não houve nenhum tipo de orientação para censurar determinados temas.
Como o exame é a principal porta de entrada para o ensino superior público, os conteúdos do Enem servem como referências para as escolas de ensino médio. Foi a primeira vez, desde 2009, em que não houve questões da ditadura no Enem.
O presidente Jair Bolsonaro é um defensor do período da ditadura militar no Brasil e já teceu elogios a torturadores. No ano passado, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, defendeu em publicações nas redes sociais uma revisão histórica sobre a ditadura em livros didáticos.
Em 2019, o governo criou uma comissão para fazer um pente fino ideológico no banco de questões usado para elaborar o Enem. O Inep divulgou posteriormente que 66 questões foram classificadas como inadequadas por essa comissão, mas nunca apresentou quais foram os itens barrados.
Lopes, presidente do instituto, afirmou que uma nova comissão será criada neste ano para analisar a validade das questões. Ele negou, mais uma vez, que há ou haverá orientações de cunho ideológico e político no trabalho da comissão.
O presidente Bolsonaro afirmou em anos anteriores que o Enem trazia questões ideológicas. Na edição de 2018, criticou uma questão que trouxe a menção a um dialeto falado por gays.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta