Demitido após 14 meses à frente do Ministério da Educação, Abraham Weintraub deixou como marca a ruptura de diálogo do governo federal com professores, estudantes, redes de ensino e universidades, segundo avaliação de entidades educacionais.
Ainda que não tenha conseguido avançar ou concluir nenhum dos projetos anunciados para a educação, as entidades avaliam que Weintraub teve a atuação esperada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao colocar em pauta no MEC uma agenda ideológica.
"Sem nunca ter trabalhado com educação, Weintraub não estava no ministério por acaso, mas para cumprir um papel político, replicar o posicionamento ideológico do governo. Ele não olhou para as questões educacionais, mas cumpriu o papel que esperavam dele, transmitir uma mensagem política", disse o educador Mozart Neves Ramos, do Instituto de Estudos Avançados da USP.
Desde que assumiu o ministério, Weintraub atacou universidades e institutos federais, criticou pesquisadores, estudantes e professores. Mas ações concretas não avançaram, como a tentativa de mudar a forma de escolha dos reitores e o programa Future-se para alterar o financiamento do ensino superior.
"As ações dele não andaram porque a sociedade se organizou e reagiu, mas acredito que ele tenha alcançado o seu objetivo de transformar o MEC em um instrumento de ideologia. Ele desmoralizou as universidades públicas, ofendeu estudantes, retirou bolsa e recurso de pesquisas", disse Iago Montalvão, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Reitores de universidades e institutos federais disseram que, mais do que os ataques e ofensas, a inação do ministro para buscar soluções para os problemas do ensino superior é que prejudicou o desenvolvimento nos últimos meses.
"Temos questões urgentes que precisam ser resolvidas, como o orçamento para o próximo ano, e só esperamos que o próximo ministro entenda o papel e importância da rede federal de ensino. A gente não via isso com o Weintraub, que nunca defendeu nosso orçamento ou projetos para o nosso desenvolvimento", disse Jadir José Pela, presidente do Conselho de Reitores dos Institutos Federais (Conif).
Apesar dos embates mais evidentes com as universidades, as entidades destacaram que a ausência de projetos para a educação básica também deixa marcas. Weintraub, por exemplo, não conseguiu a aprovação do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), descontinuou ações para o Novo Ensino Médio, do programa para a expansão de escolas em tempo integral e construção de creches.
"Esperamos que agora seja possível retomar os programas parados e voltar a discutir ações para a educação básica. Estamos em um momento bastante complicado para o ensino no país e não podemos perder tempo com questões ideológicas", disse Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime (entidade que representa os secretários municipais de educação).
Presidente-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, disse que a saída de Weintraub ocorre em um dos momentos mais críticos da educação brasileira, que emergencialmente precisa de um novo modelo de ensino por causa da pandemia e está em situação financeira próxima ao colapso.
"Weintraub não deixou legado nenhum, marca nenhuma. Mas a inação em um momento como o que vivemos significa ainda mais destruição, mais prejuízo", disse.
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