Dizendo-se decepcionado com o governo federal, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), comparou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com os líderes autoritários Hugo Chávez, da Venezuela, Alberto Fujimori, do Peru, e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia.
Ao apresentar nesta terça-feira (17) um balanço de seu mandato, Witzel - que almeja uma candidatura ao Palácio do Planalto - disse também que o presidente é despreparado.
"Evidente que ele [Bolsonaro] não se preparou. Você não consegue falar com ele sobre economia, sobre reforma da Previdência. A pauta é muito mais ideológica do que concreta e determinadas decisões não podem ser delegadas. Precisam ser direcionadas. Esperava mais", afirmou Witzel.
Em um café da manhã com jornalistas, o governador fez questão de afirmar que respeita o papel da imprensa e a diversidade de opiniões. Queixando-se do vocabulário de Bolsonaro, disse que "o presidente tem um comportamento difícil. E não é de agora".
Witzel lembrou não ter conseguido cumprimentar Bolsonaro durante a solenidade de posse do presidente da República.
Alvo de ataques de Bolsonaro e bolsonaristas desde que deu sinais de que pretende ser seu adversário na disputa presidencial de 2022, Witzel disse que o vocabulário usado pelo presidente "é típico de gente com [Alberto] Fujimori, [Recep Tayyip] Erdogan, e aquele maluco lá da Venezuela, o Hugo Chávez".
Disposto a se distanciar do bolsonarismo, em cuja onda surfou até o Palácio Guanabara, Witzel criticou o neoliberalismo praticado pelo governo federal e defendeu uma correção na política econômica, sob pena de o Brasil ser tomado por uma convulsão social a exemplo de outros países latino-americanos.
"Estamos fazendo um antagonismo do PT com o Bolsonaro, discussões sobre o que se deve ensinar na escola e têm tomado um tempo. Essas discussões ideológicas animam as redes sociais. Enquanto isso os desempregados clamam por emprego e os empresários clamam por oportunidade."
Para o governador fluminense, a apresentação de propostas como a reforma do Estado, com extinção de municípios, ocupam o Parlamento sem produzir avanço econômico.
"Essa é minha crítica. Não faria isso. Acho que não é o momento de ficarmos discutindo mais despesa. Estamos no limite. Propor redução de salário? Você vai reduzir salário de professor?"
Ele lembrou que grande parte do serviço público é composta por policiais, professores e funcionários da área de saúde. "Vai reduzir o salário deles em 30%? O que vai acontecer? O que aconteceu no Chile, o que está acontecendo na Bolívia, na Colômbia e na Venezuela."
Repetindo uma frase de efeito do presidente Bolsonaro durante a campanha, o governador do Rio disse que "aquele discurso mais Brasil menos Brasília está ficando no papel" e que o ativismo social tem que ter limites, sob pena de se transformar o ambiente hostil ao investimento.
Ao responder se estaria decepcionado com o governo Bolsonaro, Witzel perguntou: "Só eu? É só olhar os níveis de reprovação do presidente".
Apesar das duras críticas ao presidente e à política econômica de seu governo, Witzel minimizou o risco de retaliações. Apropriando-se de um apelido cunhado por Bolsonaro para o ministro da Economia, Paulo Guedes, Witzel diz recorrer ao posto Ipiranga para discussões de interesse do Rio.
"O que eu vejo é uma animosidade pessoal do presidente, mas que não se reflete em seu staff, que tem muita responsabilidade do que tem que fazer e sabe das consequências caso não façam o que determina a lei", disse o governador, lembrando que submeter o estado do Rio a prejuízo indevido poderia configurar improbidade administrativa e crime de responsabilidade.
"Estou indo no posto Ipiranga. Estou sendo atendido."
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