Em 1992, quando o aquecimento global nem era um assunto amplamente debatido, Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, já sofria com um calor intenso — tão forte que só quem já visitou a "capital secreta" sabe como é. Para tentar dar uma refrescada, a prefeitura da época decidiu construir uma solução praticamente milagrosa.
A fé depositada na futura estrutura era tanta que foi chamada de "Monumento ao Divino Espírito Santo". Não teve outro jeito: ela entrou para a história da cidade e inúmeros capixabas têm, ainda hoje, fortes lembranças dela. Mas, afinal, para que servia? Com 12 toneladas de ferro, a torre era (acredite) para "fazer chover".
A invenção saiu do papel e começou a ganhar forma a partir de julho de 1992. Localizada bem no Centro do município, ela foi inaugurada dois meses após o início dos trabalhos, em 29 de setembro daquele ano. O idealizador foi Theodorico Ferraço, que estava no segundo mandato como prefeito.
Atual deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Estado, ele afirmou que a inspiração veio de um projeto semelhante na cidade de Barcelona, na Espanha. "O projeto foi uma homenagem. Uma torre turística nos moldes de Barcelona. Hoje no Rio de Janeiro tem também, mas houve erros no projeto", disse na época.
Lendária no Espírito Santo, a obra custou mais de 200 milhões de cruzeiros, a moeda brasileira no início da década de 90. A promessa era fazer chover artificialmente num raio de 150 metros, com o objetivo de reduzir a temperatura em até 10ºC. É preciso dizer se realmente funcionou?
Além de “torre de fazer chover”, a estrutura ganhou vários apelidos: “mijódromo”, “chuveirão” e até “baleia-mãe”. Apesar desses nomes menos gloriosos, o Monumento ao Divino Espírito Santo tinha na base 12 hastes metálicas que simbolizavam as Doze Tribos de Israel antiga, outra referência religiosa.
Na base, a torre de 33 metros de altura tinha uma pirâmide feita de concreto e revestida de mármore branco e granito preto. Ao longo da estrutura, foram afixadas chapas galvanizadas em forma de losangos nas cores do arco-íris. No topo, havia quatro canhões que jorravam água.
Por alguns meses, mais do que diminuir o calorão de Cachoeiro de Itapemirim, a torre se tornou um ponto turístico da cidade. Ainda no começo dos anos 90, ela também ganhou outra utilidade: com milhares de luzes, se transformou em uma árvore de natal gigante que enfeitava o Centro da cidade.
Já no que diz respeito à chuva artificial, não deu muito certo. Os habitantes que passavam pela região reclamavam que a água respingava nos óculos e desarrumava penteados. Além de ter feito com que pessoas andassem de guarda-chuvas só para transpassar a torre.
Alvo de críticas demais e elogios de menos, a "torre de chuva" projetada pelo arquiteto Paulo Pena Firma acabou sendo desativada apenas dois anos após a inauguração. Cerca de uma década depois, em fevereiro de 2002, ela foi completamente desmontada. Mas o que será que pensa o idealizador?
“Cheguei à conclusão que durante os seis primeiros meses foi um sucesso total, aí depois passou a ser uma situação muito incômoda para os transeuntes”, comentou o ex-prefeito Thodorico Ferraço, em recente entrevista ao repórter Mario Bonella, da TV Gazeta.
Para o desmonte, a estrutura foi serrada em quatro partes. A ferragem encaminhada para o Centro de Manutenção Urbana, no bairro São Geraldo, depois foi reutilizada para construção de pontes e passarelas na cidade. Atualmente, o espaço onde existia a torre, entre as praças Jerônimo Monteiro e dos Taxistas, deu lugar a vagas do estacionamento rotativo.
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