O ano era 1926 e desembarcava na estação ferroviária de Mimoso do Sul Febrônio Índio do Brasil, um dos assassinos mais famosos do país. Para os moradores da cidade da Região Sul do Espírito Santo, se apresentava como Doutor Bruno Ferreira Gabina e, com a falsa identidade, duas crianças morreram durante sua breve estadia no Estado.
Naquela época, segundo o historiador Renato Pires Mofati, o interior era carente em profissionais de saúde e o falso médico não teve problemas para sustentar seu disfarce. De acordo com Mofati, as crianças teriam morrido por terem usado medicação errada, prescrita pelo falso médico. O nome Bruno Ferreira Gabina, segundo pesquisadores, ele tomou de um dentista com quem trabalhou e desapareceu misteriosamente.
De acordo com a pesquisa do historiador, Febrônio deixava a marca de sangue por onde passava. Após sua breve passagem pelo Sul do Estado, voltou a tomar o trem e foi para o Rio de Janeiro, onde ficou definitivamente.
“Ele iniciou seus crimes a partir de 1917, com a arrogância de um psicopata, compulsivo, sádico, inteligente e adorava criar personagens para si mesmo. Seus disfarces, com as investigações, foram pouco a pouco descobertos: caseiro, gerente de hotel, mascate viajante, dentista, barbeiro, policial, médico, conselheiro espiritual, entre outros”, conta o historiador mimosense.
Nascido em São Miguel de Jequitinhonha, Minas Gerais, Febrônio Índio do Brasil é um dos mais famosos casos de loucura na história do Judiciário brasileiro, registrado na década de 1920, no Rio de Janeiro. De acordo com reportagem do jornal A Gazeta de 2004, ele foi acusado de abusar sexualmente e tatuar, com frases místicas, dez jovens. Em uma de suas 37 detenções, Febrônio tatuou a frase “Eis o Filho da Luz”, no próprio tórax. Ele acreditava ter a missão de purificar outros jovens.
Seus crimes causaram comoção e a vida do assassino sempre gerou curiosidade de pesquisadores. O nome Febrônio era tão temido na época a ponto dos cartórios e da Igreja Católica proibirem os pais de registrar ou batizar filhos com o nome.
O assassino até escreveu um livro - “Revelações do Príncipe do Fogo” - obra com uma prosa apocalíptica, de caráter místico. A personalidade dele fascinou alguns escritores do movimento modernista de 1922, principalmente, Mário de Andrade, que tinha um exemplar do livro em sua biblioteca.
O psiquiatra Heitor Carrilho, depois de analisar o comportamento de Febrônio durante dois anos, opinou pela sua internação no Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro. Considerado o primeiro preso psiquiátrico do país, segundo pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Febrônio viveu na instituição até 1984, quando faleceu aos 89 anos, vítima de enfisema pulmonar. Ele ficou preso por 57 anos.
Em 25 de novembro de 2004, o programa "Linha Direta - Justiça", da TV Globo, contou a história do Febrônio Índio e o tema foi destaque no jornal A Gazeta do mesmo dia.
Instituição de caráter até então inédito no Brasil, o caso médico-legal de Febrônio Índio do Brasil se encontra no cruzamento de uma série de transformações que marcam o início do século XX na sociedade brasileira. Preso em 1927 no Rio de Janeiro sob a acusação de estupro e homicídio de dois menores, seu processo judicial inaugura as relações do direito com os saberes psicológicos e psiquiátricos no Brasil, uma vez que seus crimes e sua loucura, ao mesmo tempo que o tornam juridicamente inimputável, condenam-no à internação no Manicômio Judiciário, onde morreu após 57 anos de confinamento.
Com informações do historiador Renato Pires Mofati, do jornal A Gazeta e da pesquisa "O paciente 00001: o caso Febrônio Índio do Brasil", desenvolvida pelo Medialab em parceria com o Instituto de Psicologia da UFRJ
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