Reza a lenda que o município de Águia Branca, localizado na região Noroeste do Espírito Santo, abriga uma serpente que circula pelo cemitério dos imigrantes poloneses, emitindo sons arrepiantes e movimentos inexplicáveis pela noite, assombrando crianças e adultos menos corajosos. De acordo com moradores da cidade, a serpente teria se formado no túmulo que guardava os restos mortais de uma jovem que batia na mãe.
De acordo com o descendente de poloneses e professor de Filosofia aposentado Luiz Carlos Cuerci Fedeszen, há no cemitério um monumento com uma cruz, que é cercado por correntes. "Desde que nasci escuto a história. A lenda conta que uma filha batia muito na mãe e, quando ela morreu, teria então virado uma serpente. Isso pôs medo na criançada e nos adultos. Por um tempo, ninguém passava lá perto, hoje existe um bairro residencial. Há quem diga que ouve uivos à noite. Tem também gente que atribui as rachaduras no piso e nas correntes que envolvem o monumento à serpente", disse.
Para a professora de ensino fundamental Ludmilla Massucatti Souza Oliveira, a duração da lenda até os tempos atuais fortalece a cultura regional. "Todo ano trabalhamos com as crianças o folclore do município, inclusive temos o dia do folclore polonês. A história conta que foi feito um monumento com uma grande cruz e que a serpente circulava em algumas correntes. A lenda dizia que havia uma mulher com uma única filha, que batia muito nela. A senhora então lhe dizia: 'No dia que você morrer, vai virar uma serpente'. A jovem então morreu, foi sepultada e, com o passar dos anos, os moradores falavam que ouviam gemidos no cemitério", afirmou.
Segundo Oliveira, as pessoas tomavam as rachaduras no túmulo, além de barulhos nas correntes e sons de choro como evidências. "As pessoas na época falavam que consertaram as rachaduras, mas o túmulo rachava de novo. Ouviam uivos, sentiam medo. Com o tempo, fizeram a cruz no local do túmulo da menina, além das correntes. As pessoas falavam que as correntes à noite viravam a serpente. O pessoal tinha medo dela, dizendo que ela assombrava e iria matar as pessoas", narrou.
Para Elizabeth Kordas, filha de poloneses e moradora da região, também professora de ensino fundamental, uma das razões para a manutenção da lenda era fazer medo nas crianças para que não desobedecessem os pais. "Por volta de 1932, meus pais chegaram da Polônia e aqui era pura mata, eles então colonizaram o local. Desde criança escuto a história da serpente, meus pais contavam até que o túmulo começava a se mexer e por isso foi acorrentado, não queriam que a cobra saísse de lá", concluiu.
Na versão oficial, pesquisada pelo professor aposentado Luiz Carlos Cuerci Fedeszen, a lenda surgiu da falta de muro e cerca no cemitério. "Um polonês antigo, aproveitando a rachadura, criou a lenda para afugentar os vândalos e isso se tornou uma verdade em Águia Branca. A imigração na cidade começou em 1929, então foi nessa época. Eu sempre senti vontade de me aprofundar, mas tinha gente que não gostava de falar sobre o assunto. Hoje é tema de pesquisas entre os alunos, para manter viva a nossa cultura", contou.
(Reportagem originalmente publicada em 2020, pela jornalista Isabella Arruda)
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