Nesta quarta-feira (20), completam-se 38 anos da morte precoce de Garrincha, imortalizado como o "anjo de pernas tortas". O apelido do inconfundível driblador se deu por conta de problemas congênitos, entre eles a diferença de alguns centímetros entre as pernas, além de valgismo - popularmente conhecido como "joelho para dentro".
Ainda que com essas adversidades, Manoel Francisco dos Santos, conseguia entortar adversários com a camisa da Seleção Brasileira ou do Botafogo. Pelo time canarinho, foram duas copas conquistadas - 1958 e 1962. Conquistou também uma legião de fãs ao redor do mundo.
Mas a eficiência com que passava pelos adversários era proporcional a dor que sentia ao jogar. Garrincha sempre conviveu com ela, especialmente nos joelhos. Devido às limitações físicas, o atleta sobrecarregava o próprio corpo e por vezes precisava atuar com infiltrações. Com a medicina esportiva não tão avançada como observada na atualidade, o ídolo botafoguense buscava por tratamentos alternativos.
E um deles o trouxe até Guarapari: no ano de 1963, a fama das propriedades milagrosas das areias monazíticas do município capixaba fizeram com que o astro da bola arrumasse as malas e viesse acompanhado da então amada, Elza Soares, para o Estado. "Enterrando-se" na Praia da Areia Preta, que ele buscou se livrar das dores. Foi devido a esta fama, inclusive, que o município ganhou o apelido de "Cidade Saúde".
Recomendado pelo treinador João Saldanha e com o consentimento do Botafogo, Garrincha repetiu por sete dias o procedimento em cobrir o joelho direito com a areia monazítica. As sessões tinham de ocorrer por duas horas diárias, intercaladas entre parte pela manhã e o restante à tarde.
A presença de um bicampeão mundial na cidade mexeu com o cotidiano de Guarapari. Assim que o craque chegava à praia para iniciar o tratamento, uma multidão se aglomerava em torno dele e de Elza Soares, mas eram as crianças que irradiavam uma alegria contagiante em ver o jogador tão de perto.
A passagem de Garrincha por Guarapari não se limitou ao tratamento. Ele e Elza Soares ficaram hospedados no luxuoso e extinto Radium Hotel. O local era ponto de estadia certa de personalidades, artistas, políticos e outros famosos. Além de uma estrutura e atendimento de alto nível, o hotel contava com um suntuoso cassino. Apreciador da noite e da boemia, não era difícil encontrar o jogador por lá nas horas vagas. Na cidade, Garrincha ainda foi consultado pelo médico Roberto Calmon, então prefeito guarapariense, antes de se enterrar nas areias pretas.
Após passar por Guarapari, Garrincha voltou a atuar, mas as dores nunca o abandonaram. Foi assim até aposentar-se em 1972 com a camisa do carioca Olaria. Antes, após a Copa de 1966, o astro passou por um declínio físico, influenciado pelo alcoolismo e o agravamento dos problemas no corpo que o acompanharam ao longo da carreira.
No ano em que se aposentou, Garrincha voltou ao Espírito Santo, desta vez em Alegre, na região Sul. Já fora de forma, ele chegou à cidade para um jogo festivo pelo time do Alegrense. A presença dele no município no dia 2 de setembro parou a cidade e lotou o estádio Benedito Teixeira Leão. Foram 60 minutos em campo e o astro não fez gol. Esta exibição foi apenas uma das muitas que ele realizou após pendurar as chuteiras.
Seis anos mais tarde, já praticamente entregue à bebida, Garrincha faleceu aos 49 anos, vítima de cirrose hepática, deixando triste os apreciadores do bom futebol. Felizmente, ele também deixou boas histórias, duas delas ocorridas em solo capixaba.
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