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As curiosidades do Farol Santa Luzia, que virou cartão-postal no ES

As curiosidades do Farol Santa Luzia, que virou cartão-postal no ES

Em funcionamento, farol é marcador seguro para a navegação. Com peças que vieram da Escócia, estrutura foi montada em 1871 e é a montagem mecânica mais antiga do Estado

Publicado em 1 de outubro de 2021 às 14:14- Atualizado há 3 anos

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Farol Santa Luzia
Localizado em Vila Velha, o Farol Santa Luzia foi montado em 1871 a pedido do Barão de Cotegipe. (Nestor Muller | Cedoc A Gazeta)

Exemplar da cultura e da história de Vila Velha, o Farol Santa Luzia, que tem 150 anos — completados no dia 7 de setembro de 2021 — é a montagem mecânica mais antiga do Espírito Santo. O famoso ponto turístico está localizado em uma ponta da entrada da baía de Vitória. A reportagem de A Gazeta separou algumas curiosidades sobre o cartão-postal capixaba.

A área abriga uma vila residencial militar com três casas. Uma delas é a moradia do faroleiro — encarregado da manutenção do Farol, outra abriga a Sala da Memória, onde turistas podem ver toda a história do local exposta em desenhos em suas paredes e também a lanterna antiga. A última é onde funciona uma loja de artesanato com peças variadas, contemplando ainda mais os visitantes.

As peças que compõem o Farol Santa Luzia vieram da Escócia em 1870 e o local foi montado em 1871, a pedido do Barão de Cotegipe, ministro da Marinha Imperial na época. A torre mede 12 metros de altura e tem uma base octogonal de 9 m².

A torre mede 12 metros de altura e uma base octogonal de 9m²
A torre mede 12 metros de altura e tem uma base octogonal de 9m². (Arquivo | A Gazeta)

A luz possui alcance de até 32 milhas marítimas, que corresponde a 51 quilômetros. Atualmente, o Farol Santa Luzia ainda orienta a entrada dos navios na baía de Vitória, no Porto da Capital, em Tubarão e em Vila Velha.

O terreno onde está situado o Farol Santa Luzia foi doado à União em 1913 e, posteriormente, entregue à Marinha do Brasil, atual responsável pela área. Após ficar fechado para visitação por 10 anos, o local reabriu as portas em 2016. Para receber o público, passou por reparos e pintura.

PARA GUIAR NAVEGANTES

Segundo o historiador Roberto Abreu, fundador e associado do Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha (IHGVV), o ponto turístico foi pensado inicialmente apenas como uma "ferramenta" para os navegantes. Ele detalha que, na época, a navegação costeira no Brasil enfrentava um aumento e a Marinha Imperial decidiu instalar o farol na baía do Espírito Santo. "Primeiro, pensaram em colocá-lo na Ilha do Boi, mas depois decidiram pelo cabo de Santa Luzia, tendo ganho até terreno para a instalação", explicou.

Abreu afirma que o engenheiro cearense Zózimo Barroso projetava a instalação deste tipo de farol para a Marinha, como já tinha feito em outros pontos da costa brasileira. À época, como explicado anteriormente pela reportagem de A Gazeta, a contratação do farol — a torre pré-moldada de ferro fundido — foi feita em Glasgow, na Escócia.

"Tem estrutura que costura as chapas moldadas da torre, que recebe uma varanda com corrimão, cabine envidraçada, arrematada por uma cúpula e dotada de para-raio tipo Franklin, como marcação dos pontos cardeais e indicador do vento. O acesso interno é feito por escada caracol, também de ferro fundido, ferro batido", detalhou.

Farol de Santa Luzia foi construído a mando de Dom Pedro II em 1870
Farol Santa Luzia foi construído a mando de Dom Pedro II em 1870. (IHGVV)

POR QUE FAROL RECEBEU ESTE NOME?

Segundo o subsecretário de Cultura de Vila Velha, Manoel Goes Neto, navegantes exploradores de novas terras batizavam os lugares com o nome do santo do dia — e acredita-se que o Farol Santa Luzia foi batizado com este nome por ser avistado no Dia de Santa Luzia.

"Provavelmente recebeu este nome por estar na ponta de Santa Luzia. Sendo a santa a protetora dos olhos, os faróis marítimos são os olhos dos navegadores durante a noite", explicou.

EQUIPAMENTOS

O historiador Roberto Abreu relata que o primeiro lampião da área do Farol Santa Luzia veio de um fornecedor de Paris. Com as lentes do farol, também francesas, o giro acontece em uma estrutura apoiada em uma cuba com mercúrio para o atrito ser o menor possível e não dificultar a regulagem da luz do facho giratório que exibe.

"Tal facho segue uma frequência internacional que o navegante, ao ver, sabe que o farol o auxilia a conferir a posição da embarcação nas cartas náuticas (longitude e latitude) com uma precisão que dificulta qualquer ocorrência marítima a noite sob neblina ou nevoeiro eventual", explicou.

Os equipamentos do local foram trazidos pelo iate Helena e desembarcados na praia de Santa Luzia, hoje conhecida popularmente no Estado capixaba como Praia Secreta. "A base de alvenaria de pedra foi feita por pedreiros vindos do Rio de Janeiro que, a seguir, fizeram uma casa para o faroleiro e um depósito de materiais", disse.

Ainda em funcionamento e tendo passado por várias reformas e intervenções, o Farol Santa Luzia, segundo o historiador, é a montagem mecânica mais antiga do Espírito Santo. "O giro das lentes era feito por contrapesos que acionavam instrumentos de relojoaria para dar a frequência correta na hora da exibição do facho de luz", afirmou.

 Farol de Santa Luzia completa 150 anos no dia 7 de setembro de 2021
O Farol Santa Luzia completou 150 anos no dia 7 de setembro de 2021. (Arquivo | A Gazeta)

Outra curiosidade é de que os faroleiros se revezavam a noite inteira providenciando combustível para o lampião, realizando a limpeza dos equipamentos e da cabine, no ato de darem corda aos instrumentos. "O farol auxilia a aproximação da barra do Porto de Vitória e o posicionamento da área estipulada para fundeio, além de ser ponto de partida para acessar o canal. A navegação noturna também tem auxílio para saída do porto", detalhou Roberto Abreu.

"Assim que passaram a utilizar o petróleo como combustível do lampião, houve aumento no alcance da visualização do facho de luz, ajudado pela altura da torre e pelo posicionamento a tantos metros de altitude da base em relação ao nível do mar", especificou.

Com o passar dos anos e com os avanços tecnológicos, o historiador conta que o farol passou a ter funcionamento, em grande parte, por controle remoto e pelo Estado do Rio de Janeiro, tendo a manutenção feita pela Capitania dos Portos. "Preferem ficar operando ininterruptamente do que ligar às 17h e desligar às 7h do dia seguinte, por facilitar a regulagem", continuou.

Porta que dá acesso ao interior do Farol de Santa Luzia, entrada exclusiva para pessoas autorizadas
Porta que dá acesso ao interior do Farol Santa Luzia, entrada exclusiva para pessoas autorizadas. (IHGVV)

UTILIDADES DO FAROL

Roberto reforça que, mesmo na era do GPS, o farol tem a sua função como marcador seguro para a navegação, inclusive contornando algum defeito de equipamento a bordo das embarcações, e em momentos de intensa tempestade solar — que pode interferir em equipamentos eletrônicos de posicionamento, quando podem entrar em pane.

"O farol é útil também para a navegação aérea, sem falar para a navegação pesqueira, que ainda utiliza embarcações de pequeno porte. O facho de luz iluminando a atmosfera pode ser visto muito além da visualização de sua fonte, no alto da torre, há muitas milhas marítimas além do horizonte natural definido pela curvatura da Terra", especificou.

Em uma das intervenções, o historiador conta que a cuba de mercúrio foi substituída por rolamentos magnéticos, que garantem o giro preciso da lente. "Há todo um conjunto de equipamentos para garantir o centenário funcionamento, interrupto por 365 dias por ano. Visito o farol desde 1960, quando mudei para Vila Velha e conheci alguns faroleiros que ali atuaram. Creio que esta profissão é extinta quase em sua totalidade", concluiu.

SALA DA MEMÓRIA

A Sala de Memória foi idealizada e realizada, com recursos próprios, pelo Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha (IHGVV), em parceria com a Capitania dos Portos, e inaugurada em dezembro de 2017. O  espaço tem uma sala com informações sobre a história da navegação e a construção do farol e tem objetivo de oferecer informações mais didáticas sobre a história da estrutura e fortalecer a identidade capixaba, tudo isso com uma linda arte em ilustração nas paredes.

A obra traz uma linha do tempo recontando a história do Farol Santa Luiza desde a época do navegador Américo Vespúcio, o primeiro a demonstrar que o Brasil e as Índias Ocidentais não representavam regiões periféricas do leste da Ásia — como pensava Cristóvão Colombo, o descobridor das Américas —, até o período da instalação da estrutura em Vila Velha.

Arte da Sala da Memória foi feita pelo ilustrador Rodolpho Valdetaro
Arte da Sala da Memória foi projetada pelo ilustrador Rodolpho Valdetaro. (Arquivo | A Gazeta )

O projeto da obra, que demorou três meses para ser concluído e custou cerca de R$ 14 mil, foi concebido por Luiz Paulo Rangel, diretor do IHGVV na época. Convidado e contratado pelo Instituto, o responsável pela arte foi o ilustrador Rodolpho Valdetaro, que buscou levar à sala referências de ladrilhos portugueses e a estética do grafite que, segundo o artista, tiram a monotonia da obra.

ANOS DE PORTAS FECHADAS

O Farol Santa Luzia, que estava fechado desde 2006 porque dependia da assinatura de um termo de cooperação técnica entre a Prefeitura Municipal de Vila Velha e a Capitania dos Portos, foi reaberto em 2016, após a assinatura documento para que o potencial turístico do local fosse retomado após 10 anos.

O ponto turístico também passou por reformas e adequações para receber o público e o custo da obra foi de R$ 148.188,87, provenientes de convênio assinado em dezembro de 2015 com o governo do Estado. O projeto contemplou pintura, adequação do espaço para visitação, sinalização e segurança.

Registro do Farol de Santa Luzia em 1998
Registro do Farol Santa Luzia, feito em 1998. (Arquivo | A Gazeta )
Registro do Farol de Santa Luzia em 1998
Foto de 1998 mostra onde o Farol Santa Luzia está localizado, em Vila Velha. (Arquivo | A Gazeta )

COMO FAZER PARA VISITAR O FAROL 

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Errata Correção
6 de outubro de 2021 às 20:19

Anteriormente, a Prefeitura Municipal de Vila Velha havia informado que o navegador Américo Vespúcio havia denominado a ponta de entrada da baía de Vitória, onde está localizado o Farol Santa Luzia. Nesta quarta-feira (6), a PMVV reconheceu que a informação estava equivocada. A informação foi corrigida e o texto atualizado.

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