É hora da Capixapédia desvendar os mistérios de um antigo capítulo da história da aviação no Estado: o primeiro aeroporto em território capixaba.
O cenário escolhido para receber os primeiros pousos do Estado foi o Cais de Santo Antônio, em Vitória, uma plataforma fixa às margens da baía de Vitória. Já não era mais de Santo Antônio e sim o Cais do Hidroavião, que começou a operar em 1939, sob responsabilidade do Governo do Estado. A topografia e a calmaria das águas influenciou na escolha do local, além do bairro contar, na época, com uma linha de bonde para o Centro da cidade.
A razão da escolha de um aeroporto 'aquático' para iniciar as operações da aviação no Espírito Santo é desconhecida. Mas o que se sabe, segundo o jornalista e escritor Álvaro Silva, é que a obra representa o atraso histórico na infraestrutura brasileira.
"Foi um dinheiro jogado fora. Os hidroaviões já estavam ultrapassados na década de 30. Então não consigo entender o por quê desse investimento", comenta Álvaro, que escreveu o livro "Patrulha da Madrugada - O Início da Aviação no Espírito Santo", em homenagem ao seu pai, que foi piloto.
A chegada dos voos rasantes no rio mudou o cenário daquele tão pouco povoado bairro da capital. Os olhos das crianças brilharam mais com os 'pássaros enormes' que encantavam os meninos e meninas do local. "Era bonito demais de se ver", resume o aposentado Ruy de Oliveira, 81 anos.
"Seu" Ruy era um menino com menos de 10 anos quando viu aquela engenhoca chegar perto da sua casa. E engana-se quem pensa que o espaço não era movimentado. Segundo o aposentado, pelo menos dois aviões comerciais lotados pousavam no Cais todos os dias.
"Nem se compara com o que é hoje, mas mesmo assim tinha bastante movimento. A gente via muita gente embarcar e desembarcar aqui", reforça ele.
Para o escritor Álvaro Silva, a localização da cidade de Vitória contribuía para essa grande movimentação do aeroporto, que recebia desde simples monomotores a pesados quadrimotores de carga e passageiros.
"Alguns aviões que vinham do exterior e faziam escala em Salvador não tinham permissão para fazer a linha Salvador-Rio direta. Então, obrigatoriamente, algumas aeronaves tinham que pousar aqui antes de ir para o Rio, o que fazia com que as autoridades e personalidades do exterior ficassem pelo menos algumas horas no Estado", revela Álvaro.
Do presidente Getúlio Vargas ao ator de Hollywood Tyrone Power, muita gente conhecida desembarcou no primeiro aeroporto capixaba.
Por falar em pouso, o procedimento era muito simples. A aeronave descia no rio, alguns metros de distância da costa, de modo a não oferecer risco para a população ribeirinha. Em seguida, barcos iam até o hidroavião e traziam os passageiros, cerca de 17 em cada aeronave, para a costa.
O tempo de vida do Cais foi curto, menos de dez anos, mas o suficiente para registrar um capítulo marcante da história da aviação estadual: o primeiro (e único) acidente de pouso registrado em solo capixaba, em 1943. A aeronave colidiu com muita força na água, quebrando o casco e atracando. Felizmente, não houve feridos nesse episódio tenso.
O marco para o fim das operações no Cais foi a Segunda Guerra Mundial. Assim que terminou a Guerra, os hidroaviões entraram em desuso porque eram caros e de operação difícil. O Cais de Santo Antônio foi um dos últimos a encerrar as operações aéreas no país, em 1948. A sede do antigo aeroporto se transformou em um restaurante capixaba.
Imagens e Edição: Danilo Meirelles
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