Há muito tempo, o futebol era considerado como uma atividade violenta e exclusivamente praticada por homens. No pensamento da época, mulheres tinham que ser delicadas e ficar reservadas ao espaço privado. Na atualidade, (ainda bem que) já não é mais assim.
O que pouca gente sabe é que uma capixaba que nasceu em Vitória no ano 1917 se pôs fora dos enquadramentos sociais que eram impostos a ela e, na sua infância, brincou de várias atividades que seriam unicamente para os meninos.
Em uma fazenda em Maruípe, Celeste Ribeiro montava a cavalo, ajudava seus avós a cuidar do gado e em seu tempo livre soltava pipa, rodava pião e jogava bola de gude. Porém a paixão verdadeira da menina era o futebol.
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"Caxirica", como foi apelidada (não se sabe o porquê), jogava no terreiro da fazenda com seus tios e garotos da vizinhança, e mesmo com a repressão de sua avó e de todos vizinhos ela sempre dava um jeito de ter uma bola no pé.
Sua reputação de boa jogadora se espalhou e ela não demorou a ser convidada para jogar no campinho que havia na região. Quando Celeste ainda era viva, contou ao José Carlos Mattedi - que escreveu um artigo sobre a Caxirica em seu livro "Anjos e Diabos do ES" - que jogava em meio aos meninos sem problemas.
Caxirica chegou a se gabar por ter sido uma ponta de lança (posição na época parecida com a meia-atacante) goleadora. Chegou até ser chamada para um pequeno time masculino em Jucutuquara, porém sua avó proibiu.
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À época, a mulher relatou que sua paixão pelo futebol era eterna, mas foi obrigada a largá-la aos 18 anos por uma pressão social já que sua família sofria um enorme preconceito por ela ser uma moça "diferente do comportamento aceito". Caxirica perdeu seu apelido dos campos de várzea, mas a proibição a carregou para outro lado de sua personalidade
Decepcionada, ela começou a tocar cavaquinho e participar de grupos amadores de chorinho para afogar as mágoas. Celeste era uma apreciadora da farra e amigos para festejar não lhe faltavam. Futebol para ela, a partir deste momento, somente como espectadora. Acompanhava os jogos do Rio Branco aqui no Estado, mas se tornou fanática mesmo pelo Fluminense.
MOMENTO DE REPRESSÃO
A época em que Caxirica teve seu nome apagado da história era, com certeza, um momento muito repressor para mulheres, porque não era a única jogadora frustrada. Ela tinha amigas que também jogavam e sentiam o mesmo preconceito.
O futebol feminino no Brasil sofreu várias vezes com a repressão social e jurídica. Hoje em dia é um esporte olímpico e tem visibilidade mundial, porém nossa cultura, mesmo depois de Cristiane e Marta, ainda não dá a mesma audiência e importância que ao futebol masculino.
No Espírito Santo o campeonato estadual teve sua primeira aparição somente em 2010, de acordo com o site da Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo. A profissionalização do esporte no Estado ainda engatinha, mas, aos poucos, evitaremos que outras 'Caxiricas' desapareçam de nossa história.
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As informações dessa publicação estão contidas no livro "Anjos e Diabos do Espírito Santo - Fatos e Personagens da História Capixaba Volume II", do escritor José Carlos Mattedi
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