O futebol ainda não tinha chegado ao Brasil e a regata era um esporte querido pelos vitorienses em 1874. A cidade estava envolvida com as chamadas Regatas de Santa Catarina. Era dia de festa e um fato marcou a data: uma escrava se jogou ao mar para salvar um jovem e acabou ganhando a liberdade como recompensa e o sobrenome de uma família tradicional de Vitória.
O fato aconteceu há quase 145 anos. Hoje, a santa não é tão cultuada em terras capixabas, mas tinha grande prestígio entre os moradores da época, como lembra o historiador e comentarista da Rádio CBN Vitória, Fernando Achiamé.
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"Na época, o dia da santa era até feriado, 25 de novembro. No dia 29, um domingo, foi feita a regata, onde hoje é a Praça Oito. Antes, no local tinha um cais, chamado Cais Grande. As canoas saíam do Penedo e iam até ali, era o ponto de chegada. Não eram barcos modernos, eram canoas pesadas - a turma tinha músculos para remar. A cidade estava dividida entre peroás e caramurus", conta Achiamé.
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PEROÁS E CARAMURUS
Segundo o professor, caramurus eram as pessoas ligadas ao Convento de São Francisco e tinham a cor verde. E os peroás eram da Igreja de São Benedito do Rosário, com cor azul. Nesse ano, tinha uma canoa lilás chamada peroá dissidente.
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Estava tudo preparado e muita gente embarcava em canoas maiores para assistir à regata no meio da Baía de Vitória. O resgate heroico foi registrado no livro História do Espírito Santo, de Maria Stella de Novaes".
O RESGATE
"Alinhadas, diante do Penedo, as canoas aguardavam apenas o tiro acompanhado de girândolas e foguetes. Sinal da partida, o jovem Artur Neto, cujo apelido era Capitão, aceitou um lugar num batelão, para assistir à corrida, no centro da baía, apesar da agitação do mar. Nas primeiras remadas, a embarcação submergiu, perto do cais! 'Salvem o Capitão', foi o grito angustioso geral", diz a publicação.
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Uma escrava da família Neto, Catarina de Oliveira, atira ao chão seu xale (pano da costa) e, corajosa, rompe a multidão e joga-se ao mar. "Desaparece... O barbeiro Fontes Corrêa despe-se do fraque, do colete, com relógio e corrente de ouro, chapéu e bengala, para seguir o exemplo de Catarina. Passados alguns momentos de ansiedade, ei-la que surge, a nadar, com um braço e o outro preso ao sinhô moço", detalha a obra.
SOBRENOME DOS DONOS
De acordo com o livro, a multidão a recebeu delirante. "Formou-se um préstito, para acompanhar a heroína e o quase afogado à residência do Sr. Manuel Pinto Neto, pai do Capitão. Não faltou a banda de música Peroá nessa manifestação. Liberta, naquele momento, Catarina passou a assinar Catarina de Oliveira Neto".
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O historiador explica que a família Neto era conhecida na cidade. "Tem a Rua Aleixo Neto, a Rua Eugênio Neto. É uma família importante de advogados".
Após a liberdade de Catarina, a festa prosseguiu, com entusiasmo, e os peroás venceram, com a vitória da sua canoa toda azul.
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