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O dia em que uma medalha olímpica de um capixaba quase foi vendida na internet

O dia em que uma medalha olímpica de um capixaba quase foi vendida na internet

Esquiva Falcão colocou o Brasil em um pódio olímpico no boxe após 44 anos com a prata em Londres-2012. O pugilista anunciou a intenção de venda, mas felizmente desistiu após o "desespero" dos fãs e a desaprovação da esposa

Publicado em 4 de agosto de 2021 às 08:00

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Esquiva Falcão conquistou a prata no boxe em Londres
Esquiva Falcão conquistou a prata no boxe em Londres. (Montagem | Bernardo Coutinho)

O sonho olímpico nasceu e foi registrado pela primeira vez em um cartório do Espírito Santo. Foi lá que uma criança ganhou o nome de Esquiva Falcão, em referência a um movimento defensivo do boxe. O capixaba que hoje tem 31 anos já passou por poucas e boas. O ápice da carreira foi nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, quando conquistou a medalha de prata no boxe.

A vida após o pódio olímpico ofereceu duros rounds a Esquiva Falcão. Em março de 2020, pouco antes das primeiras restrições para conter a pandemia do novo coronavírus no Brasil, o atleta chegou a anunciar que venderia a medalha de prata, conquistada oito anos antes.

PAI E REFERÊNCIA

A trajetória do pugilista Esquiva começa no berço. O pai é uma referência no esporte. Touro Moreno criou mais de um filho competidor. Assim como Esquiva, o boxeador Yamaguchi Falcão também foi medalhista em Londres - conquistou o bronze. A dupla voltou a colocar o Brasil em um pódio olímpico do boxe após 44 anos.

Esquiva Falcão e Yamaguchi Falcão desfilam no carro de bombeiros na grande Vitória. Os dois boxeadores foram medalhistas em Londres
Esquiva Falcão e Yamaguchi Falcão desfilam no carro de bombeiros na Grande Vitória, em 2012. Os dois boxeadores foram medalhistas em Londres. (Bernardo Coutinho)

Os feitos de Esquiva não se restringem aos Jogos Olímpicos. O capixaba é dono de um histórico invejável no boxe profissional, onde estreou em 2013.

A profissionalização do atleta no boxe, em princípio, o impede de participar de Jogos Olímpicos. Até 2012, quando lutou em Londres, Esquiva era um pugilista amador. Quando se tornou profissional, abriu mão de outro ciclo olímpico. Na Rio-2016, um novo sistema de classificação permitiu que o capixaba entrasse na disputa, mas isso não aconteceu. Ele também ficou de fora dos Jogos de Tóquio, em 2021.

Foram três vitórias até chegar à final da categoria peso médio-até 75kg em Londres. A grande decisão não foi como esperava. Esquiva foi derrotado por Ryota Murata, do Japão, por 14 a 13. Entre tantos sonhos na vida de um atleta de alto rendimento, ganhar uma medalha olímpica costuma estar entre os principais objetivos. A conquista pesa no peito e enfeita o melhor lugar da residência.

Para o capixaba não foi diferente. Com festa, chegou ao Aeroporto de Vitória dias depois do êxito no continente europeu. Ao lado do irmão, foi levado em um carro do Corpo de Bombeiros pelos principais trechos da capital. Foi recebido pelo então governador Renato Casagrande no Palácio Anchieta, sede do governo do Estado.

Data: 16/08/2012 - ES - Serra - Esquiva Falcão e Yamaguchi Falcão são recebidos pelo governador Renato Casagrande. Os dois boxeadores foram medalhistas em Londres - Editoria: Esportes - Foto: Bernardo Coutinho - Jornal A Gazeta(Bernardo Coutinho)

VENDA DA CONQUISTA NA INTERNET

Mas o pós-título não foi de tantas comemorações. Antes da medalha olímpica, o atleta capixaba não fazia questão de esconder as dificuldades que passou na infância.

Em uma entrevista especial ao Jornal A Gazeta, ainda em 2019, Esquiva Falcão lembrou dos obstáculos que enfrentou quando criança, bem antes de se tornar vice-campeão olímpico.

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O esforço que ele [meu pai] fez por nós deu certo. Já moramos até embaixo da ponte porque fomos despejados e não tínhamos onde morar. Meu pai conta que ia em um mercadinho furtar comida para dar para a gente, o dono conhecia meu pai e fingia que não via. Meu pai voltou depois e acertou tudo com o cara, pediu desculpa, explicou a situação

Esquiva Falcão
Atleta capixaba
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Entrevista de Esquiva Falcão ao jornal A Gazeta, em 2019
Entrevista de Esquiva Falcão ao jornal A Gazeta, em 2019. (Cedoc A Gazeta)

Em março de 2020, usou sua conta no Twitter para anunciar que venderia a medalha olímpica. A prata conquistada em Londres tinha preço definido: U$ 50 mil dólares. À época, algo equivalente a R$ 210 mil.

Esquiva anunciou venda de medalha pela rede social
Esquiva anunciou venda de medalha pela rede social. (Montagem | Twitter)

Na publicação, o pugilista não detalhou o motivo da venda, e ainda disse que "só não foi ouro porque o juiz roubou", se referindo ao combate na final, contra o japonês.

A maior parte dos seguidores lamentou a intenção de venda. Um dos usuários chegou a escrever que daria o dinheiro a Esquiva caso ganhasse um prêmio na mega-sena.

"Que isso, cara, não faça isso. Sua vida está nela, sua glória. Essa medalha era pra estar guardada num cofre de um banco, de tão preciosa que é pra você e para o esporte olímpico", pediu um internauta.

Um outro comentário no post chama atenção. Suelen Marques, companheira de Esquiva Falcão, disse que iria esconder a medalha para que ele não efetuasse a venda.

Esquiva anunciou venda de medalha pela rede social
Suelen Marques não gostou da ideia de Esquiva. (Montagem | Twitter)

Dois meses depois, ele desistiu de vender a medalha. Em meio à pandemia, Esquiva e a esposa, Suelen, têm vendido mini pizzas para melhorar a condição financeira. Um ano após anunciar a intenção de venda, a rede social voltou a ser usada pelo atleta como um ring. Foi lá que começou a luta para conseguir um patrocínio.

Em pouco tempo e com muitas interações na internet, o capixaba garantiu um patrocinador em Brusque, Santa Catarina. O suporte financeiro veio da rede de uma grande loja de departamentos

BUSCANDO O TOPO DO BOXE

Treino aberto com Esquiva Falcão, medalhista olímpico na Vitória Combat
Treino aberto com Esquiva Falcão, medalhista olímpico na Vitória Combat, em 2016. (Guilherme Ferrari)

Esquiva Falcão ocupa atualmente a quinta colocação no ranking do boxe profissional na categoria peso-médio, com atletas até 72,5kg. Não há nenhum outro brasileiro entre os 15 melhores da categoria, segundo a Federação Internacional de Boxe.

O sonho de conquistar o cinturão está mais perto do que nunca. Nos próximos nocautes, Esquiva pode ter a oportunidade de lutar pelo título mundial.

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