Você sabe o que é uma pedra-urna? Para entender a história que vamos te contar é preciso compreender, primeiramente, que ela nada mais é do que uma caixa de concreto — geralmente de 150 a 200 quilos — que serve como marco de uma construção, onde são depositados objetos simbólicos ou documentos importantes para preservação referentes à obra.
E justamente a pedra-urna da Praça Oito de Setembro, cartão-postal no Centro de Vitória, foi protagonista de uma misteriosa história que aconteceu no século passado. O objeto havia sido enterrado no local em junho de 1910. No entanto, em 1972, foi descoberto que os documentos históricos do Espírito Santo que estavam guardados ali simplesmente desapareceram.
A descoberta aconteceu porque, naquele ano, seria realizada uma obra de asfaltamento que mudaria o visual da Praça 8. A reforma representaria um risco para a preservação do objeto. Diante disso, o morador mais antigo de Vitória, André Carloni, o mesmo que dá nome a um bairro da Serra, fez uma grande movimentação para que a pedra-urna fosse encontrada e mantida em segurança antes dos trabalhos dos operários.
Mas o que de tão importante estava dentro da caixa de concreto? A urna continha moedas da época de 1910, canetas de ouro e a ata de inauguração do Porto de Vitória, assinada pelo então presidente da República Nilo Peçanha e pelo governador do Estado Jerônimo Monteiro.
O prefeito da época, Crisógono Teixeira da Cruz, prometeu a André Carloni que, antes da reforma da Praça 8, a urna seria retirada e os documentos seriam entregues ao Instituto Histórico e Geográfico do Estado ou que a caixa seria enterrada novamente, com outra laje sobreposta.
E a promessa se cumpriu. O prefeito da Capital determinou a retirada da urna do local onde estava enterrada havia mais de meio século.
Em 24 de julho de 1972, às 16h, foi marcada uma solenidade especial para a abertura da urna na presença de autoridades especialmente convidadas pelo governador. Os documentos seriam entregues ao Instituto Histórico e Geográfico do Estado.
Movida pela curiosidade, uma multidão resolveu acompanhar aquele momento. Temendo a invasão do público e até mesmo o desvio dos objetos históricos, 15 soldados da Polícia Militar chegaram ao local para isolar a área. Só após isso, foi iniciada a abertura da urna.
Sob um clima de expectativa das pessoas que se acotovelavam em busca de um lugar privilegiado em frente ao cordão de isolamento formado pelos militares, após exatamente uma hora, a equipe formada por oito operários do Departamento de Obras da Prefeitura de Vitória finalmente teria em mãos os objetos históricos que estavam guardados ali há 62 anos.
Para a surpresa de todos que acompanharam atentamente a abertura da urna, não havia nada dentro dela. Inconformados com o resultado da busca, o engenheiro Pedro Bassini, diretor do Departamento de Obras da Prefeitura de Vitória, e André Carloni, o guardião dos tesouros escondidos, asseguravam que a urna havia sido violada.
“Antigamente, o mar ia até a Praça 8, onde os barcos ancoravam, por isso foi preciso fazer o aterro”, disse Carloni ao jornal A Gazeta. Ele defendia que a violação teria acontecido em 1939, ano em que ocorreram as obras responsáveis por suspender a urna ao nível da rua, pois ela estava em um nível bem mais profundo que o calçamento.
Na edição do dia 25 de julho de 1972, A Gazeta contou aos leitores o desfecho da história. O texto dizia: “Não se esperava um resultado tão imprevisível para um fato de tanta importância para a vida da cidade. É de se prever, agora, que alguma coisa deve ser feita para descobrir o roubo ocorrido". No entanto, até hoje, não se sabe o que aconteceu com as moedas, ouro e memórias roubadas da emblemática pedra-urna da Praça 8.
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