Os ditados populares variam de acordo com o desenvolvimento da humanidade e assim são chamados por sempre estarem "na boca do povo". Há aqueles usados apenas regionalmente, mas muitos outros são conhecidos em todo o Brasil. De forma geral, os ditados ou provérbios populares buscam explicar o cotidiano e se aplicam a diversos temas.
Atrás de palavras simples, existem grandes lições. É o que justifica o historiador capixaba Fernando Achiamé.
O historiador explica que há um lado bíblico no ditado. "Tem um duplo sentido. A mãe pode falar sobre crianças procurarem algo e acharem palmadas, mas também é falado de forma positiva na Bíblia. Se você procura uma coisa boa, vai achar uma coisa boa."
Achiamé explica: a garantia é melhor que a expectativa. "Mais vale uma coisa certa do que um sonho. Se você tem algo já garantido é melhor que algo só esperado."
Segundo o historiador, quando se tem pouca coisa, algo em pouca quantidade, alguém pode pedir a sua parte como prioridade. Um tom de egoísmo, busca pela vantagem. Ele ainda lembra que o ditado é "tipicamente brasileiro", uma vez que os ingredientes são da nossa terra.
"O que o povo consagra como sabedoria, fica. Vai sendo reproduzido pelos tempos", diz Fernando Achiamé.
Outro ditado parecido com esse é "a palavra é de prata, o silêncio é de ouro". "Significam que não falando, você não corre risco, não se compromete, não diz besteira, não come mosca", detalha Achiamé.
"Quem enxerga um pouco, vê uma possibilidade, pode se dar bem. Os outros não enxergam, estão cegos no sentido de ver aquela chance. Assim, quem tem um pouco mais de alcance pode ter vantagem", explica.
O historiador novamente detalha que este é um provérbio "tipicamente brasileiro". "Sabemos que a cobra engole o sapo. Por exemplo, quando se tem uma reunião de grandes figuras, uma pessoa ignorante pode ser engolida, pode ficar de lado, sem ser vista, vencida facilmente", completa.
"Tem um sentido bíblico. As consequências estão de acordo com as ações. Se você planta laranja, colhe laranja. Tudo está de acordo com o que você faz. Neste caso, se você planta vento, ele pode ficar fora do controle e se transformar em tempestade".
O historiador exemplifica que quando um carro está correndo, vemos que a pessoa está com pressa. "Na época que o ditado surgiu só existiam as carruagens, mas dá pra ver quando alguém está muito acelerado ou muito devagar. É possível notar o equilíbrio ou a ausência dele".
Segundo Achiamé, o provérbio surgiu em uma época em que as pessoas compravam cavalos e olhavam os dentes para avaliar a qualidade do animal. Por isso, quando não é preciso pagar por algo, quando recebe de presente, não importa muito a qualidade.
O ditado popular é inspirado em um relacionamento amoroso e secreto do século XIV, vivido em Portugal. Inês de Castro, uma dama da corte portuguesa, foi amante de D. Pedro I - na época casado com Constança, uma outra mulher. Após a morte da esposa, o príncipe passou a viver com Inês e os dois chegaram a ter filhos. Anos depois, enquanto Pedro estava em uma viagem, seu pai, o rei D. Afonso IV, mandou matar Inês. Quando voltou e descobriu o que havia ocorrido, D. Pedro ficou revoltado e matou duas pessoas que participaram da execução de Inês. Achiamé explica: "É uma lamentação, naquele momento não havia mais o que fazer, não adiantava chorar pelo leite derramado", finaliza com uma referência a um outro ditado popular.
Isso explica que não importa o nome, a regra vale para todos, segundo Fernando Achiamé.
O historiador explica que esse ditado também tem um toque brasileiro. Segundo ele, um trauma pode levar alguém a ter uma cautela acima do normal. Mesmo que a situação pareça favorável e inofensiva, algum detalhe pode reacender um antigo medo - neste caso, a linguiça, que tem formato semelhante ao da cobra, não provoca nenhum mal, mas é parecido com um animal perigoso. O mesmo vale para o ditado "gato escaldado tem medo de água fria".
De acordo com o historiador, uma pessoa sábia não faz muito barulho. "Quando a gente pensa naquela cachoeira, pensamos naquele barulho. Por outro lado, aquele grande rio, por exemplo o Rio Doce, não emite sons", completa.
O provérbio tem a mesma explicação que "na briga entre o mar e o rochedo, quem sofre é o marisco". De acordo com o historiador, este é um ditado antigo. "Entre dois gigantes, que muitas vezes podem se entender, o menor é que pode sofrer mais, saindo mais prejudicado", completa.
Fernando Achiamé lembra a importância do tempo. Segundo ele, este ditado valoriza a passagem do tempo, que é mais forte muitas vezes que as ações humanas - como na pintura da casa, que sofre desgaste natural.
O historiador explica que quando uma pessoa fala algo de forma imediata, pode haver um arrependimento. Quando isso ocorre, é como se ela estivesse sendo chicoteada. "Quando você fala, sofre com isso", completa.
Fernando Achiamé lembra que, diferente de outros ditados, mais antigos e com referências bíblicas, este provérbio mostra um lado atual da sociedade: o mundo digital. "Devido às redes sociais, estamos a três ou quatro patamares de conhecer todo mundo."
"Você não pode impor a uma pessoa. Você precisa conquistar a confiança. Poucas palavras mostram uma lição", diz o historiador.
O historiador exemplifica o caso de pessoas famosas que são comuns em seus locais. "Na terra dele, é uma pessoa normal. Todos conhecem a trajetória", completa dizendo que o poder ou fama não é tão valorizada em determinados lugares.
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