Uma decisão que mudou a história do bairro Campo Grande, em Cariacica, na Região Metropolitana de Vitória. Expedito Cordeiro Garcia, um simples vendedor do Estado do Rio de Janeiro, decidiu deixar a terra de origem em busca de novos ares em território capixaba. Mas o que ele fez de tão relevante para dar nome a uma importante avenida?
Deu trabalho encontrar! Nem mesmo a Prefeitura de Cariacica tinha informações sobre Expedito Garcia. Também procuramos a Biblioteca Pública e o Arquivo Público do Espírito Santo, mas sem sucesso. Não desistimos e conhecemos o pesquisador e economista José Eugênio Vieira. Diretor superintendente do Sebrae-ES, ele nos convidou para uma conversa que permitiu contar a vocês, leitores, essa história.
Há mais de uma década, José Eugênio Vieira também estava atrás de saber quem foi Expedito Garcia. E conseguiu encontrar uma das filhas dele, que contou detalhes sobre a vida do pai. Filho de José da Rosa Garcia e Adalgisa Cordeiro Garcia, Expedito era de família humilde que morava em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro. E foi em um baile no clube do Flamengo que ele conheceu quem seria a futura esposa: Lilia Nuro Garcia.
Foi no período da Segunda Guerra Mundial — entre 1939 a 1945 — que Expedito, que já era um vendedor, escolheu o Espírito Santo como destino para se aventurar em novos projetos. E as apostas foram feitas em Cariacica, onde abriu três empresas: a Companhia Comercial de Couros, Industriais Bovinos Capixaba e a Imobiliária Itacibá.
O pesquisador que conversou com a reportagem contou que a imobiliária impulsionou o processo de urbanização da cidade. Foram criadas ruas e praças, estimulando o crescimento bairro Campo Grande, onde está localizada a atual Avenida Expedito Garcia. A estrada que ligava o bairro Itacibá às BRs 101 e 262, por exemplo, era perigosa e atravessava o bairro Itaquari. Para permitir que o trecho fosse melhorado, Expedito doou terras da imobiliária ao antigo Departamento Nacional de Estradas e Rodagem (DNER).
A contribuição foi essencial para que Campo Grande se tornasse o bairro que é hoje. Além de empresário, Expedito era membro da maçonaria e participava de iniciativas sociais. Foi sócio-fundador do Siribeira Clube, em Guarapari, e do Santo Antônio Futebol Clube, em Vitória. Também ajudou a fundar em terras capixabas dois clubes internacionais de serviço voluntários: o Lions e o Rotary.
O jornal A Gazeta noticiava no dia 24 de setembro de 1959 um trágico acidente aéreo, ocorrido no dia anterior, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com um avião da Vasp. Entre os mortos estavam Expedito Garcia, com 45 anos, e uma das filhas, a Maria Lúcia Garcia, de 17 anos.
O acidente aconteceu às 18h49 do dia 23 de setembro de 1959 e repercutiu em todo o país. O jornal O Globo informou que, logo após decolar, a aeronave com destino ao Rio de Janeiro e a cerca de três quilômetros da pista explodiu no ar, matando quatro tripulantes e 16 passageiros que transportava.
Segundo a publicação, a explosão ocorreu após falha em um dos motores e o estrondo foi ouvido a quilômetros de distância. A aeronave se desintegrou no alto de um morro e os destroços foram lançados a centenas de metros do local do desastre. Os corpos foram quase todos mutilados e carbonizados, o que dificultou a identificação das vítimas.
Ainda segundo o Jornal O Globo, um filho de Expedito, o Gilberto Garcia, ouviu pelo rádio a notícia do acidente enquanto jantava. Sabendo que o pai e a irmã tinham viajado para São Paulo a negócios, ele buscou mais informações sobre a tragédia e descobriu que os familiares estavam entre as vítimas. Os corpos de Expedito e Maria Lúcia foram trazidos de volta ao Espírito Santo, onde foram sepultados.
Se não fosse o trágico acidente, seria natural imaginar que Expedito Garcia continuaria contribuindo para o progresso do bairro Campo Grande. A passagem dele pelo Espírito Santo — consideravelmente curta — foi marcada por grandes realizações. A estrada de terra, que antes era um obstáculo, virou uma das avenidas mais movimentadas no Estado, conhecida até como "maior shopping a céu aberto" devido ao intenso comércio na região. E carrega o nome de quem lá atrás ajudou a transformá-la. Uma homenagem para que o tempo não apague a memória.
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