Foi nas alturas que a capixaba Rosa Helena Schorling deu seu maior grito de liberdade. No controle de um avião, a jovem de 19 anos se consagrou como a primeira mulher piloto no Espírito Santo, em 1939.
O brevê de piloto, documento que uma pessoa recebe ao estar habilitada a pilotar um veículo aéreo, foi concedido a Rosa em 1939. Na época, ela se tornava a oitava aviadora do país. As conquistas históricas, porém, se expandiram para outras áreas, onde a capixaba se destacou pelas lutas por mais representatividade feminina.
"Ela tinha dentro dela um desejo de realizar atividades que eram consideradas masculinas, de ousar nisso, de encarar o patriarcado da aviação e paraquedismo brasileiro", ressalta Fabrício Fernandes, jornalista e autor do livro "Rosa Helena Schorling- Além da folha de vento".
Rosita, como era conhecida, era uma mulher a frente do tempo. Filha de um alemão de pensamento moderno e uma poetiza austríaca, ela cresceu em Domingos Martins, na região Serrana do Estado. Apesar do preconceito dos mais conservadores, contou com o incentivo dos pais para desempenhar qualquer tipo de função.
Aos 12 anos já dirigia carros e tinha carteira de motorista nacional. Aos 19, foi para o Rio de Janeiro aprender a pilotar avião. Dois anos depois, entrava para história do país ao se tornar a primeira mulher a saltar de paraquedas no Brasil, em 1940.
O salto concretizou o sonho da capixaba em conquistar o espaço aéreo, em uma época em que as atividades eram dominadas por homens. A conquista de Rosa abriu caminho para outras mulheres da época se aventurarem no paraquedismo brasileiro.
Rosa foi enfermeira, professora e pianista, mas o que amava mesmo era voar. A paixão pelas alturas foi herdada do pai, que foi mestre de balões na Alemanha. Ele, inclusive, foi um dos maiores incentivadores dos sonhos da filha.
"Ela contava que sempre teve apoio do pai, que ele nunca impediu que ela fizesse algo pelo fato de ser mulher. Assim como ela, ele também era a frente do tempo", declara Giliard Freitas, filho dos ex-cuidadores de Rosita.
Apesar do apoio dos pais, Rosa enfrentou preconceitos da sociedade conversadora por ser mulher e se aventurar na aviação. Por causa disso, ela chegou até a terminar um noivado. "Ele chegou para mim e disse assim: 'Nós não estamos com o casamento marcado? Você escolhe eu ou o avião?' Eu falei: o avião", lembrou a aviadora durante uma entrevista à TV Gazeta, em 2016.
A pioneira do paraquedismo feminino no Brasil contabilizou 137 saltos na carreira. Se destacou como a primeira aviadora capixaba e oitava do país.
Em 2017, após quebrar o fêmur durante uma queda, Rosa morreu, aos 98 anos. A capixaba morava em Domingos Martins, com um casal de cuidadores. Ela não deixou filhos.
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