"Um pânico geral tomou conta de todo o bairro de Santo Antônio e minutos depois ruas e praças se encheram de gente que procurava saber o que havia. Um estado de apatia a todos envolvia. Sentiu o mesmo fenômeno ocorrido com a explosão de Caratoíra. Mas desta vez. Fora um tremor de terra, no duro".
Com essas palavras o jornalista José Luiz Holzmeister descreveu o que aconteceu na noite de 28 de fevereiro de 1955, na ilha de Vitória. Há 63 anos, os capixabas viviam uma noite de mistério e terror com o segundo maior terremoto já registrado no Brasil.
O tremor de terra sentido em Vitória, Cariacica, Vila Velha, Guarapari e Colatina teve seu epicentro no mar a 300 km da costa do Espírito Santo. A força do sismo, de 6,1 na escala Richter, foi tão grande que, apesar da distância, acordou moradores, fez tremer portas e janelas de residências.
Um dos relatos mais impressionantes do terremoto foi do então vereador Raulino Gonçalves. "Estava em meu gabinete quando notei que lápis, réguas e todos os apetrechos de seus desenhos dançavam sobre a cartolina. Minha menina de 10 anos disse: 'pai, a cama está tremendo'. Portas e janelas tremiam como bambus ao vento", disse.
Logo após o forte terremoto, a reportagem do Jornal A Gazeta foi para as ruas fazer uma ronda e, nos bairros que passou, ouviu a confirmação do sismo. De Praia do Canto a Santo Antônio, de Maruípe aos Barreiros, na capital; alongando-se por Jardim América, Itaquari, Campo Grande, Itacibá, no município de Cariacica; e Cobilândia, Paul e Argolas, em Vila Velha. Houve relatos inclusive do interior, na cidade de Colatina, e também Guarapari, onde uma cama teria sido arrastada por um metro.
"Era como uma imensa bola de fogo", afirmou uma das testemunhas à reportagem do jornal A Gazeta na época. O Tenente Décio Nascimento, lotado no Quartel de Maruípe em fevereiro de 1955, também declarou que outros oficiais haviam mencionado uma bola de cor laranja-avermelhada.
O mistério sobre o sismo tomou conta da população por alguns dias e foi difícil confirmar a origem do fenômeno. De acordo com o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, o país não possuía equipamentos para medir a atividade no solo.
Os terremotos brasileiros eram registrados apenas por boletins sísmicos internacionais da Rede Mundial de Sismógrafos até 1967, quando foi instalado o Arranjo Sismográfico da América do Sul (SAAS) em Brasília.
O ano de 1955 começou literalmente agitado no país. Um mês antes do terremoto na costa do Espírito Santo aconteceu o maior sismo já registrado no Brasil. O tremor de terra na Serra do Tombador, na região Norte do Mato Grosso, registrou 6,2 na escala Richter em 31 de janeiro de 1955. Assim como o sismo capixaba, não houve consequências mais graves que alguns móveis fora do lugar, janelas e portas tremendo e pequenas rachaduras.
Os terremotos acontecem devido à movimentação das placas tectônicas, que são as partes menores da camada superficial da Terra. Apesar de serem movimentos lentos, o processo contínuo deforma as grandes massas de rochas. Quando o esforço entre as placas é grande e supera o limite de resistência, ela se rompe - originando uma falha geológica - dando início a um terremoto. A energia liberada com esse processo se propaga fazendo o terreno vibrar intensamente.
Apesar de grande potencial destrutivo e histórico, o Estado não registra grande atividade sísmica porque está distante das bordas das placas tectônicas. "É até complicado entender os motivos que levaram a esse terremoto de 1955", acrescenta a doutora em Geociências Mirna Neves. Ela, que também é professora no curso de Geologia da Ufes, acredita que não há perigo de novos tremores de terra violentos. "É razoável que o investimento seja feito no monitoramento de tempestades, já que esse tem maior potencial catastrófico", afirma.
A cidade de Vitória na década de 1950 era muito diferente, com um perfil tipicamente provinciano e com pouco mais que 50 mil habitantes. Foi nesse período que o processo de grandes aterros mudou completamente a geografia da pequena ilha.
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