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Talita Moretti: a primeira mulher motorista de ônibus no ES

Talita Moretti: a primeira mulher motorista de ônibus no ES

A motorista encontrou resistência para trabalhar no Estado. Durante um teste, foi dado a ela o pior veículo da empresa para que ela provasse que sabia dirigir

Publicado em 7 de março de 2020 às 07:26

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Talita Moreti Ferreira foi a primeira mulher motorista de ônibus do Espírito Santo. (Acervo Pessoal)

Quando os passageiros que estavam no ponto final do Ibes, em Vila Velha, entraram no ônibus 290, na manhã do dia 8 de junho de 1973, eles presenciaram uma cena inédita: uma mulher estava no volante. 

Era o primeiro dia de trabalho de Talita Moretti, a primeira mulher motorista de ônibus do Espírito Santo. A cena foi registrada pelos jornais capixabas, o que incomodava Talita. "Não gosto de ser entrevistada. Como eu, tem outras motoristas em todo o Brasil", disse ao jornal A Gazeta em entrevista na época. 

Esta é uma das matérias da série que conta as histórias das mulheres que foram pioneiras no ES em diversas áreas e faz parte das publicações da semana em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, próximo domingo.

A história de Talita foi capa do Jornal A Gazeta em 1973. (Iara Diniz)

Apesar da resistência, Talita sabia que aquela não era uma cena comum. As mulheres da época ainda enfrentavam o preconceito da sociedade para exercer atividades fora de casa. E quando ousavam se aventurar em profissões consideradas "masculinas", eram mais cobradas do que os homens.

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Ela tinha que provar sempre mais que era competente e podia ser motorista, mesmo sendo mulher

Litarlene Pretti
Filha de Talita 
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TRAJETÓRIA

Talita nasceu na Bahia, em 1939, mas viveu a maior parte da sua vida no Espírito Santo. Com um espírito muito independente, não gostava de serviços domésticos, queria mesmo era trabalhar fora.

Aos 20 anos, descobriu a paixão por dirigir veículos pesados e não parou mais. "Ela começou a dirigir ônibus e carreta por todo Brasil. E dirigia bem, viu?", ressaltou Litarlene. 

A Loura, como era conhecida, chegou a ter uma autoescola em Linhares. Em 1969, se mudou para Ilhéus, onde começou a trabalhar como motorista de ônibus pela Viação Souza Santos. Anos depois veio para o Espírito Santo, mas teve dificuldade para conseguir emprego como motorista. 

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Toda empresa que ela ia não acreditava que ela podia dirigir ônibus. Falavam que por ser mulher, eles tinham que pedir autorização ao dono para que ela fizesse o teste

Litarlene Pretti
Filha de Talita
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Talita tirou carteira de habilitação para veículos pesados desde 1959. (Arquivo Pessoal)

A oportunidade veio na Viação Alvorada. Depois de muito insistir, Talita conseguiu autorização para fazer um teste e passou. Mas confessou que lhe deram um carro velho para provar suas habilidades.

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O que fizeram para me testar foi me dar um ônibus, de número 100, acho que o pior da empresa. Felizmente passei

Talita Moretti
Em entrevista para A GAZETA em 1973
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Talita começou a trabalhar na viação Alvorada, fazendo a linha do Ibes, em Vila Velha. (Acervo Pessoal)

O início da carreira de Talita como motorista no Estado foi difícil. "Falavam que o lugar dela era no fogão, não no volante", comentou Litarlene. Com o tempo, a competência e dedicação de Loura fez com que ela se destacasse no ambiente de trabalho.

"Começaram a ver que ela era muito boa e passaram a convidá-la para fazer excursões. Uma vez foi para São Paulo com vários colegas buscar uma frota de ônibus. Ela provou que dava conta do recado e que o lugar dela era no voltante, fazendo o que ela mais amava fazer", afirmou.

Talita em viagem a São Paulo para levar uma tropa de ônibus para o Espírito Santo. (Acervo Pessoal)

Talita se aposentou após 30 anos de trabalho, devido a um acidente doméstico que a impediu de voltar a dirigir. "Aquilo foi um sacrifício para ela porque dirigir era o que ela mais gostava de fazer", lembra Litalerne. Em 2014, Talita teve uma parada cardíaca e morreu, em Linhares. 

O pioneirismo de Loura permitiu que outras mulheres também pudessem exercer a profissão. Hoje, 86 mulheres ocupam o cargo de motoristas de ônibus Transcol na Grande Vitória. Um número ainda pequeno, mas reflexo da história de mulheres que lutaram por espaços de trabalho. 

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