Um dos símbolos oficiais do Estado, a bandeira do Espírito Santo tem mais de 100 anos e carrega em sua origem, desde as cores até a frase que a estampa, um viés religioso, mas também aspectos do desenvolvimento capixaba.
De acordo com historiadores, a frase “Trabalha e Confia”, que foi escolhida em 1908 pelo então chefe de Estado Jerônimo Monteiro, tem raízes nos ensinamentos jesuítas, com forte influência do positivismo em um período de modernização pelo qual passava o Espírito Santo.
Para entender a história de criação da bandeira, é preciso voltar a 1908. Nessa época, o Brasil passava por um processo de modernização, com “um sentimento nacionalista muito forte, de promover o desenvolvimento e a identidade própria dos Estados”, como lembra o historiador e professor de Arquivologia da Ufes André Malverdes.
No Espírito Santo, a chegada de Jerônimo Monteiro ao poder marcava uma série de avanços estruturais. Como presidente do Estado, como eram denominados os chefes do Executivo estadual na época, ele remodela o Palácio Anchieta e dota Vitória com luz elétrica, água encanada e bondes elétricos.
Dentro dessa perspectiva de modernização e busca pela identidade, Jerônimo Monteiro inicia também toda a construção simbólica do Estado.
“A frase 'Trabalha e Confia', a bandeira, as cores, o hino, o brasão, as armas do Estado, todos os elementos da simbologia republicana são criados por ele em meio ao progresso”, destaca o cientista político João Gualberto Vasconcellos.
Segundo João Gualberto, a frase “Trabalha e Confia” foi tirada de um mandamento de Santo Inácio de Loyola, fundador da ordem jesuítica. A frase original diz: "Trabalha como se tudo dependesse de ti e confia como se tudo dependesse de Deus."
Esse ensinamento chegou a Jerônimo Monteiro ainda jovem, em um colégio jesuíta, e foi escolhido por ele para estampar, em palavras mais reduzidas, o centro da bandeira capixaba.
A escolha dessa frase particularmente, porém, relaciona-se à onda positivista que chegava ao Brasil, durante um momento de "muito trabalho" e desenvolvimento do Estado. Essa corrente do positivismo acabou sendo adotada em outras bandeiras, como a do Brasil, explica André Malverdes.
“Os ensinamentos dos jesuítas eram lemas positivistas, no sentido de que é preciso trabalho para se obter avanço, resultados. É o mesmo sentido da frase 'Ordem e Progresso' da bandeira do Brasil. São frases que têm uma influência da corrente positivista, que chegou ao Brasil no momento pré-proclamação da República e contribuiu para o ideário republicano.”
Assim como a frase, a escolha das cores tem raízes religiosas. O azul, branco e rosa foram inspirados no manto de Nossa Senhora da Vitória, padroeira da Capital. Posteriormente, quando a bandeira foi oficializada, em 1947, Nossa Senhora da Penha, padroeira do Estado, recebeu as vestes da mesma cor.
Os tons escolhidos acabavam sendo um símbolo de modernização, já que o rosa até então era ausente em bandeiras. E houve quem tentasse mudá-la. Em 1989, Paulo Fundão, então relações públicas da extinta Companhia Ferro e Aço de Vitória, foi autor de um projeto que pedia a mudança da faixa rosa para vermelha.
O vermelho fazia parte da bandeira da França, que inspirou uma bandeira não oficial da província do Espírito Santo, antes da adoção da atual. A anterior tinha apenas as cores vermelho e azul.
Fundão argumentou que, ao estudar a heráldica, ciência que se dedica aos brasões, percebeu que bandeiras não admitem o uso de cores secundárias. O rosa, então, como mistura do vermelho com o branco, não poderia fazer parte do símbolo.
Na época, o governador Max Mauro encaminhou o projeto para o Conselho Estadual de Cultura. Após encontrar resistência da própria classe política e também da sociedade capixaba, a entidade rejeitou a ideia e Max vetou o projeto.
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