O tremor de terra que surpreendeu os moradores da Grande Vitória no início da tarde da última quinta-feira (2) não foi o primeiro a acontecer na Capital. Em 24 de outubro de 1972, uma terça-feira, um abalo sísmico também de pequena intensidade, deixou várias pessoas apavoradas. Muitos moradores deixaram suas casas ou locais de trabalho e correram pelas ruas assustados. Vidros quebraram, móveis balançaram e duas mulheres chegaram a desmaiar.
O jornal A Gazeta noticiou o fato na época, e a redação chegou a receber várias ligações de pessoas assustadas com o acontecimento. A reportagem que veiculou no jornal do dia seguinte, 25 de outubro, apresentou a fala de um geofísico da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cícero Moraes, que disse que o abalo tinha ocorrência tradicional, e que o mesmo tremor chegou a ser registrado em Niterói, no Rio de Janeiro.
O tremor, diz a matéria, foi seguido de uma violenta explosão. Na época, o Observatório Nacional da Guanabara atribuiu o fenômeno à acomodação das camadas do solo em virtude da mudança brusca de temperatura, entretanto, não chegou a determinar o epicentro do abalo. "Faltando poucos minutos para as 13h, surgiram as primeiras notícias em relação ao tremor de terra. O Edifício Guruçá, na Praia da Costa, em Vila Velha, teve vários vidros de janelas trincados", diz a matéria.
A situação foi classificada como de "intranquilidade", e embora não tenha sido registrado nenhum caso fatal, duas mulheres desmaiaram. Os depoimentos colhidos por A Gazeta mostram que o abalo sísmico naquela data fatídica ocorreu entre 12h40 e 12h50. Na época, o Espírito Santo não possuía sismógrafo, aparelho capaz de medir a intensidade do tremor de terra e hoje conta com três: em Rio Bananal, Guarapari e Barra de São Francisco.
Comerciante e morador do bairro Santa Lúcia, em Vitória, Pedro Rocha contou que almoçava quando ocorreu o terremoto. "Logo vi o chão do apartamento estremecer, peguei meus pais e meu irmão e os levei para a rua. Foi uma coisa horrível e, de todos da minha família, apenas minha mãe não ficou nervosa", contou na época.
A reportagem diz que já passava um pouco das 13h quando a redação de A Gazeta recebeu uma ligação de Alfredo Chaves. "Alô, aqui quem fala é Luiz Carvalho, do Boteco do João. Já é a segunda vez que a terra estremece por essas bandas", disse. Em Cachoeiro de Itapemirim houve tumulto nas principais ruas da cidade e pessoas deixaram suas casas com receio de que elas desabassem.
O jornal também ouviu o representante comercial Maurício Tanure, que descansava do almoço em sua residência, em Alto Lage, Cariacica, lendo um jornal, quando a parede estremeceu e caiu o revestimento do reboco. Segundo ele, seu sócio Luiz César Scopal, morador da Capital, também notou o estremecimento da terra, mas nada aconteceu de pior no escritório.
O tremor também pôde ser sentido no Centro de Vitória, provocando correrias e pequeno tumulto nos edifícios mais altos da região. O abalo teria durado cerca de 3 segundos, e em várias casas o abalo chegou a alterar a posição dos móveis e soltar os tacos dos pisos. Surpreendentemente, o fenômeno passou despercebido em alguns prédios da Capital.
Até que a informação se confirmasse, muita gente chegou a atribuir o tremor de terra a explosões de dinamites, até que rádios noticiassem o contrário o que aconteceu por volta das 14h45. A moradora da Ilha do Príncipe, Hilda Modenesi, também sentiu o terremoto. "Estava sentada lendo um livro, aproximadamente às 12h45, quando tudo sob meus pés começou a tremer. Cheguei a achar que estava passando mal, mas depois compreendi que se tratava de um tremor de terra", contou à época.
Por fim, a moradora do morro da Companhia Vale do Rio Doce, Maria Helena Pipi, também prestou seu depoimento na ocasião e disse que, à princípio, havia pensado que estivesse passando pelas redondezas "mais um trem carregado de minério". Segundo informações extra-oficiais obtidas no Rio de Janeiro, o abalo sísmico alcançou o índice de 0,01 de magnitude, mas as autoridades oficiais da Agricultura preferiram não confirmar essa dedução.
Na noite de 28 de fevereiro de 1955, em Vitória, os capixabas viviam uma noite de mistério e terror com o segundo maior terremoto já registrado no Brasil. O tremor de terra sentido em Vitória, Cariacica, Vila Velha, Guarapari e Colatina teve seu epicentro no mar a 300 quilômetros da costa do Espírito Santo. A força do sismo, de magnitude 6,1, foi tão grande que, apesar da distância, acordou moradores, fez tremer portas e janelas de residências.
Logo após o forte terremoto, a reportagem do Jornal A Gazeta foi para as ruas fazer uma ronda e, nos bairros que passou, ouviu a confirmação do sismo. De Praia do Canto a Santo Antônio, de Maruípe aos Barreiros, na Capital; alongando-se por Jardim América, Itaquari, Campo Grande, Itacibá, no município de Cariacica; e Cobilândia, Paul e Argolas, em Vila Velha. Houve relatos inclusive do interior, na cidade de Colatina, e também Guarapari, onde uma cama teria sido arrastada por um metro.
No Espírito Santo, só neste ano de 2020, foram registrados três tremores de terra, de acordo com a Rede Sismológica Brasileira. O primeiro registro deste ano foi em Ecoporanga, região Norte do Estado, no dia 24 de fevereiro, às 20h13, e marcou um tremor de 1,8 de magnitude regional (mR).
O segundo tremor, já de maior escala, aconteceu no dia 17 de maio, às 23h20, na Plataforma Continental do Espírito Santo, ou seja, a 350 milhas (563 km) da baía, também na altura do norte capixaba. Já o último e mais recente, aconteceu na última quinta-feira (2), e teve 1,9 de magnitude. O epicentro foi localizado no bairro Maruípe, em Vitória.
Em entrevista para A Gazeta, o especialista George Sand Leão, que atua no Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, explicou que os registros no Estado são tremores de magnitude pequena embora o de 2.8 mR já desse para sentir se ficássemos próximos. "Não dá para causar nenhum tipo de estrago, não tem impacto nenhum com relação a grandes efeitos. São eventos de pequenas magnitudes, e às vezes nem a população sente", detalhou.
Sand finalizou dizendo que o que causa os tremores de terra, também chamados de abalos sísmicos, é justamente a movimentação das placas tectônicas. "Esses tremores são causas desse movimento do limite das placas tectônicas. A movimentação delas gera esse tremor de terra", concluiu.
Questionado sobre como é feita a conversão da magnitude brasileira para a Escala Richter, Sand explica que a medida é universal. "Escala Richter não existe. Richter fez uma escala chamada magnitude para a Califórnia. Não se converte da brasileira para a de Richter, é a mesma coisa", detalhou.
"O que temos são vários tipos de magnitude, e a que melhor representa a escala no Brasil é a regional. Por isso que sempre falamos magnitude, que é o que representa verdadeiramente a energia liberada em um terremoto no Brasil", concluiu George.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta