A ligação mais conhecida entre a Desportiva Ferroviária e o Flamengo se deu ainda no ano de 1988, quando o então jovem atacante Sávio, aos 14 anos, se transferiu do clube de Jardim América para o Rubro-Negro, onde anos mais tarde viria a despontar como uma estrela. O capixaba se tornou ídolo e brilhou não só no Fla, mas posteriormente no poderoso Real Madrid, da Espanha.
O que muitos torcedores grenás e rubro-negros não sabem ou não presenciaram é que a relação entre os dois clubes é antiga, mais precisamente, no ano de 1973. Com o intuito de montar um esquadrão para a disputa do Campeonato Brasileiro, a Locomotiva precisava de reforços e procurou o clube carioca, com quem tinha boa relação, para contratar jogadores pouco aproveitados.
Um jovem meia driblador, mas que tinha pouco espaço no Flamengo era o objetivo dos dirigentes capixabas. Um prodígio à procura de mais minutos em campo. Quem era ele? Zico, o Galinho de Quintino, que conseguiu desabrochar o talento natural para o futebol e eternizou-se com a camisa 10 do clube, onde se tornou uma divindade para muitos torcedores.
A negociação corria bem e o time de Cariacica vivia a expectativa de contar com o talentoso armador. Mas como dito anteriormente, corria, porém travou. Ou melhor, foi interrompida. Chegou ao ouvido do treinador rubro-negro naquele ano, Zagallo, que havia um clube de outro Estado interessado em tirar Zico da Gávea. Ao tomar conhecimento da história, o Velho Lobo brecou a negociação, e o jogador permaneceu em solo carioca.
Mas a Locomotiva Grená não saiu dos trilhos com a negativa do Flamengo. Zico não veio, mas o folclórico atacante Fio Maravilha, aquele que foi eternizado na canção de Jorge Ben Jor e ganhou notoriedade nacional com gols decisivos, acabou acertando com a Desportiva.
Dos 508 jogos com a camisa do Flamengo, dez deles foram diante da Desportiva. Zico marcou nove gols na equipe grená, mas lembra da dificuldade das partidas, mesmo quando amistosas. Em uma entrevista publicada pelo Lance, em 2015, o Galinho também lembrou que foi no Araripe que ele foi selecionado pela primeira vez para fazer exame antidoping.
"Isso faz muito tempo. No Engenheiro Araripe, em Vitória (Cariacica), era sempre complicado jogar e, por incrível, que pareça eu me lembro que lá foi a primeira vez que eu caí em um exame antidoping. Sem experiência nenhuma, fiquei lá mais de uma hora até dar vontade de fazer xixi, revelou Zico ao portal, em tom de descontração.
Já em uma fase não tão goleadora, o atacante deixou o Rubro-Negro e acertou no finzinho de 1972 com o Avaí, de Santa Catarina. A passagem foi curtíssima em terras catarinenses, teve apenas um jogo realizado e sem brilho. De lá, João Batista de Sales, o Fio Maravilha, veio de mala e cuia para o time de Jardim América, com a missão de ser o maquinista do ataque grená.
A chegada do atacante chamou mais a atenção pela proeminente arcada dentária, impossível de ser escondida. Dono de um sorriso fácil, Fio Maravilha e a Locomotiva de Jardim América pouco fizeram no Brasileiro de 1973. Com uma campanha discreta, a Tiva terminou na 27ª colocação entre as 40 equipes na disputa.
Mais discreto do que o desempenho do próprio time, o centroavante encerrou a passagem pela Desportiva com 14 jogos disputados e nenhum gol. Para a torcida grená que esperava cantarolar "Fio Maravilha, faz mais um pra gente ver" no Engenheiro Araripe, os gols ficaram aprisionados nos versos da música.
Um sucesso nas paradas, porém não nos gramados do Espírito Santo. Ainda assim um belo "causo" na história do futebol capixaba.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta