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Carnaval de Vitória: saiba quem julga e o que é avaliado nos desfiles

Carnaval de Vitória: saiba quem julga e o que é avaliado nos desfiles

Para ganhar o título, cada escola de samba vai ter que passar pelo crivo de 27 jurados, que vão avaliar 9 quesitos

Eduarda Lisboa

Repórter / elisboa@redegazeta.com.br

Publicado em 21 de fevereiro de 2025 às 13:12

Confira os detalhes sobre os nove quesitos técnicos que serão avaliados no Sambão do Povo

"Dez... Nota Dez!!!!". É isso o que cada uma das escolas de samba querem ouvir como resultado de sua apresentação nos desfiles do Carnaval de Vitória, que começam nesta sexta-feira (21), a partir das 22h, e vão até domingo (23) no Sambão do Povo. Mas você sabe quem são os jurados e quais são os quesitos avaliados? 

As escolas de samba que desfilarão pelos grupos A (nesta sexta), Especial (no sábado) e B (no domingo) em busca da tão desejada nota máxima, terão que encarar a "canetada" de 27 jurados. Criteriosamente, eles vão avaliar nove quesitos técnicos: Bateria, Samba-enredo, Evolução, Harmonia, Enredo, Alegorias e Adereços, Fantasias, Comissão de Frente e Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

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São três avaliadores para cada quesito. Eles darão notas que variam de 9 a 10, com possibilidade de fracionamento, como 9,1, 9,5, 9,7... Cada jurado precisa justificar suas avaliações abaixo de 10 em uma espécie de caderno, que deve ser preenchido e entregue a uma comissão da Liesge (Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial) ao final do desfile. 

Desde 2024, há mudanças no regulamento. O mestre-sala e a porta-bandeira só começam a ser avaliados após a sinalização do mestre e do coreógrafo, por exemplo. Outra alteração é que o julgador precisa ser ainda mais claro na justificativa da nota, explicando quesitos como criatividade e beleza.

Regras do jogo

Para entrar no clima, A Gazeta vai apontar tudo o que os jurados deverão observar nos desfiles. Vamos desvendar os nove quesitos em julgamento, revelando os pontos importantes que devem ser analisados em cada um deles. 

Existem questões técnicas que também são avaliadas pela organização do espetáculo e que podem tirar décimos preciosos das agremiações (isso já decidiu muito carnaval). Tópicos como cronometragem (não estourar o tempo na avenida), entrada e saída de alegorias da passarela, concentração e dispersão estão entre os aspectos avaliados por uma comissão específica.

No Grupo Especial de Vitória, por exemplo, cada agremiação tem, no mínimo, 52 minutos para desfilar na avenida após o sinal verde, sendo que o tempo não pode ultrapassar 62 minutos. Caso o tempo seja menor ou maior do que o proposto no regulamento, a escola perde 0,1 ponto para cada minuto ou fração de minuto precedente ou excedente.

Outro exemplo é a ala das baianas, que, mesmo não entrando como quesito de avaliação, é obrigatória. Cada escola deverá levar no mínimo 30 delas para a avenida, ou perderá 0,1 décimo por cada componente faltante.

Entre as outras obrigações que as escolas devem cumprir, algumas delas são:

  • Ter, no mínimo, 1 mil componentes divididos entre as alas;
  • Ter uma bateria com, no mínimo,100 ritmistas com os seus instrumentos;
  • Ter entre 10 e 15 pessoas na Comissão de Frente;

Entenda os quesitos e conheça os jurados

BATERIA

Novo Império desfila no Sambão do Povo no Carnaval de Vitória 2023
Bateria da Novo Império no Carnaval de Vitória 2023 Crédito: Rodrigo Gavini

É o "coração" de uma escola de samba. Na hora de dar notas, o julgador precisa avaliar a sustentação dos instrumentos, além de considerar a perfeita conjugação dos sons emitidos, a criatividade e a versatilidade dos instrumentistas. Lembrando que a bateria precisa ter, no mínimo, 100 instrumentistas, caso contrário perde 0,1 décimo para cada componente faltante. Não vale desafinar e "atravessar" o samba na avenida, hein?!

Os jurados responsáveis por julgar a batida das escolas são:

  • Nelson Pestana - percussionista com mais de 40 anos de carreira;
  • Léo de Paula - percussionista e compositor;
  • Walter Honorato - ex-integrante da bateria da Imperatriz Leopoldinense.

SAMBA-ENREDO

Chegou O Que Faltava desfila no Sambão do Povo no Carnaval de Vitória 2023
Desfile da Chegou O Que Faltava no Carnaval de Vitória 2023 Crédito: Rodrigo Gavini

O jurado precisa avaliar a letra e a melodia, além da qualidade e a mensagem transmitida pelo samba que embala os desfiles. A adequação da letra ao enredo, sua riqueza poética, beleza e bom gosto, além do perfeito entrosamento dos versos com os desenhos melódicos, devem ser observados. Um bom samba-enredo precisa ter boas rimas e um refrão de fácil acesso, tanto para o público da arquibancada quanto para os seus componentes.

Nesse quesito, os jurados são:

  • Marcos Monteiro - doutor em educação e autor do livro "Conhecendo o Mundo Encantado das Escolas de Samba";
  • Sandro Carvalho - pesquisador e enredista;
  • Potiguara Menezes - músico, compositor e arranjador.

HARMONIA

Unidos de Jucutuquara desfila no Sambão do Povo no Carnaval de Vitória 2023
Unidos de Jucutuquara fez os componentes cantarem seu samba no desfile de 2023 Crédito: Rodrigo Gavini

Esse é um dos quesitos mais interpretativos do carnaval e leva em  a sintonia e a interação entre os componentes da escola. É necessário observar se os membros estão (literalmente) cantando o samba. Sim, não cantar durante o desfile tira pontos da agremiação. O canto dos componentes deve estar em sintonia com a voz do "puxador" — o intérprete que leva a música para a avenida.

Neste ano, os jurados são:

  • Elmo Evangelista - compositor e carnavalesco;
  • Tiago Ribeiro - doutor em Artes;
  • Walter Bacildo - regente da Orquestra Acadêmica do Instituto Federal do Espírito Santo.

EVOLUÇÃO

Unidos da Piedade desfila no Sambão do Povo no Carnaval de Vitória 2023
Unidos da Piedade e suas alas compactas no desfile de 2023 Crédito: Fernando Madeira

Esse é outro quesito que costuma decidir muitos carnavais. Aqui, os avaliadores fazem uma análise da organização e movimentação das escolas durante o desfile. A coesão do desfile é julgado com rigor. Então, é proibido correr, ou mesmo deixar "buracos" durante a apresentação.

Além disso, as alas precisam respeitar a ordem proposta no início da apresentação. É importantíssimo que a escola mantenha o ritmo cadenciado do desfile, sem atrasar, por exemplo. Atrasos na cronometragem, normalmente, fazem com que alas corram no final da apresentação, para que o tempo do desfile não seja ultrapassado. Uma catástrofe para o quesito Evolução.

Os jurados deste ano são:

  • Marcos Guimarães - especialista em carnaval;
  • André Camargo - professor de Língua Portuguesa e jornalista;
  • Betina Miranda - pós-graduada em Dança e Consciência Corporal.

ENREDO

Boa Vista desfila no Sambão do Povo no Carnaval de Vitória 2023
Boa Vista desfilou com o enredo  “Humor: tanto riso, oh, quanta alegria…No tom da canção a Boa Vista contagia” no Carnaval  2023 Crédito: Fernando Madeira

Há dois aspectos importantes a serem observados: concepção e realização. Os jurados avaliarão a criatividade e a fidelidade das histórias contadas nas avenidas. É necessário averiguar se a escola está apresentando o desfile proposto, isto é, desenvolvendo e explorando a história que deseja contar na passarela do samba.

A clareza e a coerência na roteirização do desfile, incluindo adequação das fantasias e alegorias, devem ser avaliadas. Um exemplo: não adianta desenvolver uma história sobre a abolição da escravatura usando alienígenas como destaque nas alas.

Para esse quesito, os avaliadores em 2025 são:

  • João Gustavo Melo - doutor e mestre em Artes pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e graduado em Comunicação Social;
  • Raphael Homem - formado em Jornalismo e Letras;
  • Lucas do Passos - licenciado em Letras-Português e professor da Universidade Federal do Espírito Santo.

ALEGORIAS E ADEREÇOS

MUG desfila no Sambão do Povo no Carnaval de Vitória 2023
Alegoria da MUG no Carnaval de Vitória 2023 Crédito: Rodrigo Gavini

É o luxo, a originalidade e a beleza dos carros alegóricos e dos elementos cenográficos. A concepção e a realização devem ser julgadas. Lembrando que, nesse quesito, entram também os tripés e seguimentos sem rodas. É preciso observar o acabamento, a harmonia de cores e se os elementos estão seguindo a ordem enviada para os jurados em um caderno prévio.

A adequação ao enredo é primordial. Os destaques, com suas respectivas fantasias, devem ser julgados como partes integrantes das alegorias. No Grupo Especial de Vitória, cada escola precisa desfilar com três elementos alegóricos.

Uma curiosidade: as alegorias precisam ter uma largura mínima de 4,5 metros, e o máximo de 8,5 metros, com comprimento máximo de 20 metros, exceto o abre-alas, que pode chegar até a 30 metros. A altura máxima é de 9 metros, incluindo o destaque ou a escultura.

Os convocados para essa tarefa são:

  • José Antônio Rodrigues - especialista em carnaval;
  • Thiago Lacerda - doutorando em História da Arte;
  • Jéssica Galon - mestra em Teoria e História da Arte.

FANTASIAS

MUG desfila no Sambão do Povo no Carnaval de Vitória 2023
As fantasias em uma das alas da Mocidade Unida da Glória no Carnaval 2023 Crédito: Fernando Madeira

Os jurados avaliam o impacto visual, a criatividade e a harmonia das fantasias. A concepção e realização precisam ser observadas, e a adequação das fantasias ao enredo é primordial. O mosaico impulsionado pelas formas e cores costuma impressionar os jurados. O acabamento e cuidado na confecção ganham pontos.

É preciso apresentar roupas leves, que não atrapalhem a evolução dos componentes. Roupas rasgadas e faltando elementos, como chapéus e sapatos, levam penalização à escola. Nada mais belo que uma escola bem vestida, com cores harmônicas e adequadas ao enredo.

Para este quesito, os jurados serão:

  • Mauricio de Paula - graduado em História e pós-graduado em Arte e Cultura;
  • Gustavo Luiz dos Santos - formado em Medicina com especialização em Carnaval;
  • Josué Vasconcelos - professor de Design de Moda.

COMISSÃO DE FRENTE

Comissão de frente da Novo Império
Comissão de frente da Novo Império no desfile de 2023 Crédito: Carlos Alberto Silva

É o cartão de visitas de uma escola de samba. Poderá se apresentar a pé ou sobre rodas, trajando fantasias dentro da proposta do enredo. Aqui, os jurados avaliam a inovação, a coreografia e a interação com o público. Em outros carnavais, até o início da década de 1980, agremiações tradicionais do Rio de Janeiro, como Portela, Mangueira e Império Serrano, tinham como hábito trazer a velha guarda em suas comissões. Hoje, o quesito virou um espetáculo à parte do carnaval, com shows de pirotecnia e movimentos acrobáticos e ilusionistas. Quem "manda" agora são os bailarinos e coreógrafos. No Espírito Santo, uma comissão de frente deve desfilar com no mínimo 10 e no máximo 15 pessoas.

Os jurados são: 

  • Carla Soares - coreógrafa; 
  • Amanda Correa - bailarina e coreógrafa de comissões de frente;
  • Liviane Pimenta - bailarina formada pela Royal Academy of Dance.

MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA

Unidos de Jucutuquara desfila no Sambão do Povo no Carnaval de Vitória 2023
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Unidos de Jucutuquara no desfile de 2023 Crédito: Fernando Madeira

Representam a nobreza do carnaval, pois levam o pavilhão e o manto sagrado de uma escola de samba para a avenida. O julgador deverá considerar a sincronia e a performance do primeiro casal de cada escola — os que vêm depois não contam ponto.  Os jurados analisam a indumentária, verificando sua adequação para a dança, não esquecendo de avaliar a beleza e o bom gosto.

A exibição de dança é considerada e a bandeira não pode enrolar ou encostar no mestre-sala. Se um dos componentes cair, a escola perde a chance de ganhar o título. Lembrando que o mestre-sala e a porta-bandeira não "sambam" e, sim, executam um bailado de características próprias.

Para avaliar esse quesito, os jurados deste ano são:

  • Marcia Frey - bailarina e coreógrafa;
  • Ruben Gabira - ator e bailarino;
  • Alana Felix - formada em Jornalismo e mestre em Culturas e Identidades Brasileiras.

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