"Dez... Nota Dez!!!!". Qual agremiação não sonha em ouvir uma "chuva" de notas dez durante a apuração (quase sempre apertada) de um desfile de carnaval? Quanto mais agora, quando os campeonatos costumam ser decididos por décimos.
As escolas de samba que desfilarão no Grupo Especial do Carnaval de Vitória neste sábado (3), em busca da tão desejada nota máxima, terão que encarar a "canetada" de 27 jurados. Criteriosamente, eles vão avaliar nove quesitos técnicos: Bateria, Samba-enredo, Evolução, Harmonia, Enredo, Alegorias e Adereços, Fantasias, Comissão de Frente e Mestre-Sala e Porta-Bandeira.
Serão três avaliadores para cada quesito. Eles darão notas que variam de 9 a 10, com possibilidade de fracionamento, como 9,1, 9,5, 9,7... Cada jurado precisa justificar suas avaliações abaixo de 10 em uma espécie de caderno, que deve ser preenchido e entregue a uma comissão da Liesge (Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial) no final do desfile. As mesmas regras de pontuação devem ser praticadas nos Grupos A e B. Afinal, o manual do julgador será o mesmo para todas as divisões.
Neste ano a folia capixaba vem com algumas novidades, entre elas a avaliação dos casais mais amados da avenida. Em 2024, o Mestre-Sala e a Porta-Bandeira só começarão a ser avaliados após a sinalização do mestre e do coreógrafo. Outra mudança, segundo o diretor de carnaval da Liesge, João Filipe, é que agora o julgador vai precisar ser ainda mais claro na justificativa da nota, explicando quesitos como criatividade e beleza.
“Algumas questões subjetivas foram modificadas, tornando o manual do julgador mais objetivo, principalmente na justificativa, deixando mais clara e transparente” ressaltou João Filipe.
Para entrar no clima, A Gazeta vai apontar tudo o que os jurados deverão observar nos desfiles. Vamos desvendar os nove quesitos em julgamento, revelando os pontos importantes que devem ser analisados em cada um deles.
Existem questões técnicas que também são avaliadas pela organização do espetáculo e que podem tirar décimos preciosos das agremiações (isso já decidiu muito carnaval). Tópicos como cronometragem (não estourar o tempo na avenida), entrada e saída de alegorias da passarela, concentração e dispersão estão entre os aspectos avaliados por uma comissão específica.
No Grupo Especial de Vitória, por exemplo, cada agremiação tem 62 minutos para passar pelo Sambão do Povo. Se ultrapassar esse limite, começa a ter desconto na pontuação. Outro exemplo é a ala das baianas, que, mesmo não entrando como quesito de avaliação, é obrigatória. Cada escola deverá levar no mínimo 30 delas para a avenida, ou perderá 0,1 décimo por cada componente faltante.
É o "coração" de uma escola de samba. Na hora de dar notas, o julgador precisa avaliar a sustentação dos instrumentos, além de considerar a perfeita conjugação dos sons emitidos, a criatividade e a versatilidade dos instrumentistas. Lembrando que a bateria precisa ter, no mínimo, 100 instrumentistas, caso contrário perde 0,1 décimo para cada componente faltante. Não vale desafinar e "atravessar" o samba na avenida, hein?!
O jurado precisa avaliar a letra e a melodia. A adequação da letra ao enredo, sua riqueza poética, beleza e bom gosto, além do perfeito entrosamento dos versos com os desenhos melódicos, devem ser observados. Um bom samba-enredo precisa ter rimas ricas e um refrão de fácil acesso, tanto para o público da arquibancada quanto para os seus componentes.
Esse é um dos quesitos mais interpretativos do carnaval. É necessário observar se os membros estão (literalmente) cantando o samba. Sim, não cantar durante o desfile tira pontos da agremiação. O canto dos componentes deve estar em sintonia com a voz do "puxador" — o intérprete que leva a música para a avenida.
Outro quesito polêmico que costuma decidir muitos carnavais. É uma espécie de harmonia da dança em sintonia com o ritmo do samba. A coesão do desfile é julgado com rigor. Então, é proibido correr, ou mesmo deixar "buracos" durante a apresentação. Além disso, as alas precisam respeitar a ordem proposta no início da apresentação. É importantíssimo que a escola mantenha o ritmo cadenciado do desfile, sem atrasar, por exemplo. Atrasos na cronometragem, normalmente, fazem com que alas corram no final da apresentação, para que o tempo do desfile não seja ultrapassado. Uma catástrofe para o quesito Evolução.
Há dois quesitos importantes a serem observados: concepção e realização. É necessário averiguar se a escola está apresentando o desfile proposto, isto é, desenvolvendo e explorando a história que deseja contar na passarela do samba. A clareza e a coerência na roteirização do desfile, incluindo adequação das fantasias e alegorias, devem ser avaliadas. Um exemplo: não adianta desenvolver uma história sobre a abolição da escravatura usando alienígenas como destaque nas alas.
É o luxo e a beleza dos carros alegóricos e dos elementos cenográficos. A concepção e a realização devem ser julgadas. Lembrando que, nesse quesito, entram também os tripés e seguimentos sem rodas. É preciso observar o acabamento, a harmonia de cores e se os elementos estão seguindo a ordem enviada para os jurados em um caderno prévio. A adequação ao enredo é primordial. Os destaques, com suas respectivas fantasias, devem ser julgados como partes integrantes das alegorias. No Grupo Especial de Vitória, cada escola precisa desfilar com três elementos alegóricos.
Uma curiosidade: as alegorias precisam ter uma largura mínima de 4,5 metros, e o máximo de 8,5 metros, com comprimento máximo de 20 metros, exceto o abre-alas, que pode chegar até a 30 metros. A altura máxima é de 9 metros, incluindo o destaque ou a escultura.
A concepção e realização precisam ser observadas. A adequação das fantasias ao enredo é primordial. O mosaico impulsionado pelas formas e cores costuma impressionar os jurados. O acabamento e cuidado na confecção ganham pontos. É preciso apresentar roupas leves, que não atrapalhem a evolução dos componentes. Roupas rasgadas e faltando elementos, como chapéus e sapatos, levam penalização à escola. Nada mais belo que uma escola bem vestida, com cores harmônicas e adequadas ao enredo.
É o cartão de visitas de uma escola de samba. Poderá se apresentar a pé ou sobre rodas, trajando fantasias dentro da proposta do enredo. Nos tempos "clássicos" do carnaval (ou seja, até o início da década de 1980), agremiações tradicionais como Portela, Mangueira e Império Serrano tinham como hábito trazer a velha guarda em suas comissões. Hoje, o quesito virou um espetáculo à parte do carnaval, com shows de pirotecnia e movimentos acrobáticos e ilusionistas. Quem "manda" agora são os bailarinos e coreógrafos. No Estado, uma comissão de frente deve desfilar com no mínimo 10 e no máximo 15 pessoas.
Representam a nobreza do carnaval, pois levam o pavilhão e o manto sagrado de uma escola de samba para a avenida. O julgador deverá considerar a indumentária, verificando sua adequação para a dança, não esquecendo de avaliar a beleza e o bom gosto. A exibição de dança é considerada e a bandeira não pode enrolar ou encostar no mestre-sala. Se um dos componentes cair, a escola perde a chance de ganhar o título. Lembrando que o mestre-sala e a porta-bandeira não "sambam" e, sim, executam um bailado de características próprias.
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