Terceira escola do Grupo Especial a entrar no Sambão do Povo, já na madrugada de domingo (23), a Unidos da Piedade celebra a religiosidade afro-brasileira. Depois de forte chuva na concentração, o céu se abriu e a Unidos da Piedade entrou na avenida à 0h58 para começar a contar a história de Ibeji e celebrar os 70 anos da agremiação.
A tradicional e mais antiga escola do Carnaval de Vitória trouxe para a avenida o enredo “Ibeji”, em uma homenagem a esse orixá, que representa a criança e a fertilidade. A Mais Querida cumpriu o que prometeu: um desfile colorido e com elementos que transportaram os foliões de volta à infância.
E o público que acompanha a apresentação da escola teve uma doce surpresa, com integrantes jogando balas para a plateia. É o que o desfile da agremiação também representa a festa de São Cosme e Damião, comemorada em 27 de setembro e que celebra as crianças — data que ficou famosa pela tradição de se distribuir balas e doces. No sincretismo religioso — prática que relacionou os santos católicos com entidades e divindades das religiões afro-brasileiras —, Ibeji e São Cosme e Damião são figuras associadas por representarem gêmeos.
Um dos destaques da escola para este ano, aliás, era a participação de gêmeos idênticos no desfile. Alguns deles ganharam destaque no último carro alegórico.
Ainda na concentração, a Piedade já empolgava o público, que cantava junto o refrão do samba-enredo. Quando a escola pisou na avenida, foi para reverenciar Ibeji, o orixá da vida.
Com um elemento cenográfico, a comissão de frente era composta por mulheres que remetiam à ancestralidade africana e um grupo vestido de criança, trazendo o simbolismo do enredo. Um menino e uma menina também participaram da encenação "Do nascimento à festa de Ibeji".
A Piedade apresentou alegorias grandiosas, como o carro chamado "Os Ibejis Enganam a Morte", com 11 metros de comprimento e 10 metros de altura, marcando ali a presença do lendário intérprete da escola Edson Papo Furado e de Zilda Aquino, dona do Bar da Zilda, no Centro de Vitória.
Com a proposta de retratar crianças, muitas alas foram caracterizadas por elementos infantis e fantasias coloridas. Na Tambores da Boa Sorte, o desfile foi todo coreografado e com algumas brincadeiras. E uma ala foi toda formada por meninos e meninas que, inclusive com um casal mirim de mestre-sala e porta-bandeira, bastante aplaudida quando passou diante das arquibancadas.
A bateria Ritmo Forte fez a tradicional paradinha, e também arrancou aplausos do público, enquanto um dos puxadores do samba jogava doces. A distribuição de balas foi um ponto alto da apresentação, bem característico das festas de Cosme e Damião.
A chuva marcou boa parte do desfile da Piedade. Depois da estiada do início da apresentação, houve dois momentos em que choveu forte, mas, ainda assim, a animação tomou conta da avenida e das arquibancadas.
O presidente da agremiação, Jocelino Junior, pontua que a chuva compromete um pouco o andamento do desfile, sobretudo nos quesitos que são avaliados pela dança, como a comissão de frente, além de carros e fantasias ficarem mais pesados. Apesar disso, ele considera que a agremiação fez uma bonita apresentação graças à garra da comunidade.
A Piedade chegou para a disputa do título com 1.600 componentes divididos em 20 alas, três carros alegóricos, sendo um deles projetado para ser visto em 360°, e dois tripés. Eles fizeram o desfile em pouco mais de uma hora, dentro do tempo regulamentar.
Fundada no bairro Piedade, localizado na região do Centro de Vitória, no ano de 1955, a agremiação comemora os seus 70 anos na avenida em busca do primeiro lugar no pódio após 39 anos sem ser campeã. A escola carrega o título de maior campeã do carnaval capixaba e, atualmente, coleciona 14 títulos ao longo de sua trajetória.
Solte a criança que existe em você
No Orum e no Ayê, canta de felicidade
A Mais Querida vem na gira de Erê
Desce o morro pra dizer, arrepia Piedade!
No silêncio do olhar, a razão pra admirar
São dois seres pequeninos
"Ibeji", pingos de gente
Travessura inocente
Sob as bênçãos do Divino
Na luz do Orixá, encanto e amor
Eparrey Oyá, Cabecilê Xangô
Ora Yê Yê Ô, mamãe Oxum foi quem criou
Leva fé, o que Ele faz ninguém desfaz
Chegou na paz Idoum pra confirmar
Salve! A sagrada união, eternidade…
Cultura da raiz Yorubá
Água pra quem tem sede, comida pra alimentar
Tambores da boa sorte
Na "Fonte Grande" a tocar
Os gêmeos enganam a morte
Nas voltas que o mundo dá
A grandeza dos pequenos
Tá guardada na lembrança
No axé da "Ibeijada", a esperança
Ciranda ê, é tempo de cirandar
27 de setembro é dia de festejar
Tem alegria pra adoçar o coração
Eu sou devoto, salve Cosme e Damião!
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