A Unidos da Piedade, escola de samba mais antiga do Carnaval de Vitória, foi a sexta escola a entrar no Sambão do Povo, exatamente às 5h03 deste domingo (4), mostrando a força e a resistência da comunidade da região do Centro da Capital, localidade da agremiação. Ela também é a maior campeã, com 14 troféus, mas o último título foi em 1986 e, por isso, quer conquistar o campeonato em 2024 sob nova gestão.
Neste ano, a agremiação contou sua própria história com o enredo “Quilombo Piedade”. A Piedade exaltou seu território, histórias — guardadas na mata, na comida, na costura — e memórias, identificando ancestralidades e valorizando a representatividade de seu povo.
E a "Mais Querida", como é conhecida, foi bastante aplaudida por quem estava nos camarotes perto do início da avenida. O público interagiu, acenado para os integrantes e cantado o samba-enredo.
A comissão de frente “A força de um lugar” abriu o show, fazendo menção às lavadeiras, profissão das mulheres pioneiras na ocupação do território da Fonte Grande e da Piedade, e aos homens trabalhadores da região. Também havia referências da dança contemporânea e dança afro.
A primeira alegoria chamou a atenção pela altura: “A Força que Vem da Raiz” trazia as raízes africanas que compuseram a região e a população do Centro de Vitória, destino de muitos ex-escravizados no período pós-abolição, sendo, portanto, o berço da cultura identitária negra da cidade. Muitas dessas pessoas que ocuparam esses territórios vieram de diversas regiões da África — e essa soma de referências ajudou a compor o lugar onde hoje a comunidade se reconhece.
Outro destaque foram as passistas da Piedade, representando os trabalhadores da comunidade. Muitos dos que viviam na comunidade e região eram autônomos e tinham ofícios informais, os chamados “bicos”. Para representá-los, a escola optou por trazer a figura das costureiras, que eram muitas naquele lugar. No surgimento e nos anos iniciais da Unidos da Piedade, as principais costureiras dos bairros da localidade faziam os figurinos e fantasias da escola.
No decorrer do desfile — que começou quando ainda estava escuro e saudou o amanhecer deste domingo —, os componentes das alas mostraram que estavam com o samba-enredo na ponta da língua e chamavam quem estava nos camarotes e nas arquibancadas para cantar junto. “De corpo e alma sou quilombo piedade” foi o trecho que mais se ouvia sendo entoado pelo público.
A ala “Adinkras e o Dragão” fez referência aos adinkras, forma de comunicação pictórica que se põe a transmitir valores africanos fundamentais.
Um dos mais conhecidos é o Sankofa, representado por um pássaro com os pés firmes no chão, mas olhando para trás, simbolizando o olhar para o passado e a projeção para o futuro. É ele que veio retratado na frente das fantasias.
A ala das crianças também encantou o público pela fofura. E se engana quem pensa que os pequenos não têm samba no pé: eles deram show e entoaram o samba-enredo com toda a energia até o final da avenida. De nome "Anjo negro, canto livre", o setor era uma homenagem ao intérprete Edson Papo Furado, um dos baluartes da escola, que foi o cantor oficial da agremiação entre 1965 e 2008. Certa vez, ele foi proibido de se vestir de anjo em uma procissão da Igreja Católica por ser negro.
Durante o desfile, a escola teve alguns problema para empurrar os carros, principalmente o primeiro e o segundo. Em alguns momentos, foram necessárias outras pessoas da escola, além dos empurradores, para que a alegoria conseguisse se locomover. A Piedade saiu aplaudida e atravessou a avenida em 59min19, terminando às 6h02.
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