Ver chuva de granizo pela primeira vez é um grande acontecimento, principalmente para quem nunca viu neve — mas bem diferente do frio da neve, o gelo do granizo é formado em tempestades de umidade e calor. No Espírito Santo, a ocorrência desse tipo de chuva tem sido recorrente nos últimos meses.
Só em abril, a reportagem de A Gazeta recebeu várias fotos e vídeos de colaboradores que flagraram as precipitações com pedras de gelo, presente até em municípios da Grande Vitória no dia 31 de março. Segundo o meteorologista Hugo Ramos, do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), este ano, em especial, está atípico para a climatologia.
"A climatologia define os meses de janeiro, fevereiro e março como os meses de verão, de clima mais quente. Se formos olhar só para o verão de 2021, tivemos um janeiro atípico, seco. Fevereiro foi anormal porque costuma ser pouco chuvoso, mas este ano em especial tivemos dois episódios de grandes acumulados de chuva. Em março, bastante chuva distribuída de forma irregular", explicou.
Hugo Ramos revela que o granizo, falando de forma específica, se desenvolve a partir de nuvens de tempestade — e que vários episódios resultaram em grandes volumes de chuva em curto período de tempo. "A partir daí, observamos esses episódios de granizo, associados a condição de tempo abafado e aumento da umidade, mais frequentes no final da tarde ou de madrugada", comentou o meteorologista.
Esse conjunto de fatores acabou originando nos eventos de chuva de granizo, que o profissional define como comum. Analisando outubro até a primeira quinzena de abril, Ramos pontuou que outubro foi um mês chuvoso, novembro e dezembro foram irregulares e, mesmo assim, com incidência de granizo. Ele reitera ainda que desde a última década, outros eventos, como a estiagem, eram comuns.
Hugo Ramos diz ainda que o Incaper analisou a ocorrência das chuvas de granizo no final de março deste ano e, agora, vai buscar entender como esta nova precipitação se formou no Espírito Santo.
"As nuvens de tempestade de granizo são de grande desenvolvimento vertical. Nuvens mais altas e largas também, são as cumulonimbus. A única diferença desta chuva de agora para a de março foi o jeito como ela se formou, porque a passada foi por conta de uma instabilidade associada a passagem de uma frente fria", completou Ramos.
Nesta semana, o Incaper vai analisar o que causou a formação das últimas chuvas de granizo no Estado capixaba. "Tem essa frente fria, que o ciclone dá suporte, mas não sabemos se ela está no contexto do último episódio de tempo chuvoso. Tem bastante umidade e calor, que acabou contribuindo para essa última chuva", concluiu o profissional.
Hugo Ramos relatou que hoje, com o fácil acesso à tecnologia, o Incaper recebe muitas contribuições de moradores do interior do Estado e de outras regiões do Espírito Santo, em relação à incidência de fenômenos meteorológicos.
"Se a gente for pensar, antigamente esse tipo de fenômeno era notado a partir do ponto onde a estação meteorológica estava. Hoje, com a tecnologia, é fácil registrar. Se a gente perdeu os observadores do tempo, ganhou novas contribuições onde muitos validam as condições meteorológicas. O radar de Santa Teresa, por exemplo, está fora de operação", completou o meteorologista.
O Incaper elaborou um relatório contendo as perdas e prejuízos na agropecuária do Espírito Santo em razão dos ventos fortes, granizo e chuva excessiva entre os dias 30 de março e 01 de abril deste ano, onde, ao todo, 29 municípios do Estado foram atingidos.
As perdas na agricultura foram apontadas em 23 municípios que relataram prejuízos em atividades rurais, enquanto danos no segmento de agroindústria foram registrados em dez municípios, seguido das perdas na pecuária em oito municípios e no turismo rural, cujos prejuízos que foram relatados em quatro municípios.
A principal atividade prejudicada pelos eventos climáticos foi a cafeicultura, seguida pela fruticultura e pela horticultura.
O Incaper aponta que muitas agroindústrias foram prejudicadas, assim como atividades ligadas ao turismo rural, principalmente em função de danos às estruturas causadas pelo vento, interrupção do fornecimento de energia elétrica e dos serviços de telefonia e internet, além da interdição de estradas de acesso aos empreendimentos.
Houve significativo prejuízo ambiental em decorrência da queda de árvores nativas em remanescentes florestais, assim como nas atividades de silvicultura (eucalipto).
Os dados foram levantados pela coordenadora de Segurança Alimentar e Estruturação da Comercialização do Incaper, Rachel Quant Dias, e pelo agente de Extensão e Desenvolvimento Rural do Incaper, João Marcos dos Santos Júnior, junto aos Escritórios Locais de Desenvolvimento Rural (ELDRs) do Incaper, com contribuições das prefeituras municipais, sindicatos e produtores rurais.
Segundo o Instituto Climatempo, as pedras de gelo que formam o granizo, geralmente se formam em nuvens de grande extensão vertical chamadas de cumulonimbus. Estas nuvens são chamadas na meteorologia de "nuvens frias", pois uma porção delas tem temperatura abaixo de zero e é aí que o granizo se desenvolve dentro da nuvem.
As chamadas "nuvens quentes" têm temperatura acima de zero grau em toda a sua extensão, da base ao topo. Estas nuvens podem até provocar chuva forte, mas não geram raios e nem granizo. São muito comuns no litoral do Nordeste.
É dentro das enormes nuvens cumulonimbus, na parte com temperatura muitos graus abaixo de zero, que as pedras de gelo se formam. Elas caem das nuvens quando ficam pesadas e as fortes correntes ascendentes que existem nas nuvens cumulonimbus não conseguem mais sustentá-las no ar.
"Granizos podem ter vários tamanhos ao cair no chão, mas dentro das nuvens são enormes pedras de gelo. No caminho entre a base da nuvem e o chão vão derretendo, perdendo massa, e ainda assim podem chegar à superfície com um tamanho de bolas de tênis, ou com o tamanho de um ovo", explica o instituto.
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