Ser escritor capixaba é um desafio constante. O primeiro é publicar o livro. Geralmente, depende das leis de incentivo, que são poucas e premiam em torno de 10% dos inscritos, como os editais da Secult-Funcultura.
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O segundo é fazer com que o livro chegue ao seu possível leitor, já que livrarias não vendem livros capixabas, não há espaço para divulgação e compras, o livro não circula, não é visto, não pode ser encontrado. O terceiro é fazer com que seja lido, compartilhado, citado, criticado, ou seja, todos os aspectos que envolvem a recepção da obra.
Comecei a escrever há 35 anos, numa época em que saíam edições de cinco mil exemplares, que se esgotavam em um ano. Durante uma década, meus livros infantojuvenis eram lidos em todo o país e milhares de livros circularam pelas escolas e bibliotecas deste nosso país continental. Viajei do Amapá ao Rio Grande do Sul, do Acre ao Maranhão, falando com professores e alunos sobre livro e literatura, dando cursos e oficinas e participando de encontros do autor com seus leitores.
Foram bons tempos! Tudo se foi acabando com a chegada dos novos tempos virtuais, a mudança de paradigmas, a obsessão pelas redes sociais. Continuo a escrever e a publicar, mas em edições reduzidas, apostando em alguma compra de governo ou de escolas particulares, para que o livro chegue a um maior número de leitores. Não sou a favor de doar livros, pois não se valoriza o que se ganha.
O pior é quando surge a oportunidade de o livro chegar a muitos leitores, e, como se diz no jargão futebolístico, “faltou a finalização”. Há cinco anos, o edital 046/2014, da Secretaria Estadual de Educação, convocava escritores capixabas a inscreverem livros para seleção e aquisição.
Mais de uma centena o fez e 51 títulos foram selecionados, após longo processo de análise por uma comissão de especialistas da própria Sedu. Em novembro de 2014, saiu o resultado, os autores selecionados ficaram eufóricos, o secretário de Educação mandou cartinha para os premiados e alguns escritores mais afoitos até mandaram fazer os cerca de 1.200 livros que seriam adquiridos. Para quê? Ficaram com os livros encalhados.
O ano acabou, novo governo tinha sido eleito e o processo parou. Até hoje, os livros não foram adquiridos e os escritores capixabas, mais uma vez, ficaram a ver navios. Os do litoral, pois os do interior nem isso. Agora, nova esperança ressurge. Voltou o mesmo governo que tinha feito o edital, o novo secretário de Educação prometeu retomar o processo onde parou e nós continuamos na expectativa de que nossos livros cheguem às bibliotecas escolares e que sejam lidos, compartilhados, criticados, emprestados, pois para isso é que foram feitos e não pra ficar engavetados.
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