Em 1999, o prefeito de Nova York tentou impedir o Museu do Brooklyn de realizar exposição com obras polêmicas, incluindo uma que ofendia a sensibilidade religiosa de cristãos. O museu não cedeu, e o prefeito cortou as verbas concedidas pelo município. Floyd Abrams liderou a defesa do museu perante a corte federal. O resultado foi uma vitória acachapante.
O governo não tem o direito de censurar trabalhos que considere moralmente impróprios ou que agridam à religiosidade. Nenhuma autoridade pode determinar o que seria aceitável em temas de opinião. As verbas para o museu deveriam ser integralmente preservadas.
Tão importante quanto a defesa feita por Abrams foi o que ele se recusou a fazer. Antes do julgamento, ele tomou conhecimento de um trecho do diário de Goebbels, que assumira a gestão da cultura em razão de uma exposição que desagradara a Hitler: "Caso os vienenses contestem, todos os subsídios do Reich serão cortados. Isso, claro, significa a morte da vida cultural de Viena".
Abrams pensou mencioná-lo como exemplo de censura exercida pelo autoritário de plantão. Concluiu, porém, que a analogia com o prefeito seria obviamente falsa em razão das circunstâncias e prejudicaria a defesa do museu.
Na última semana, Mansueto Almeida anunciou sua saída da Secretaria do Tesouro. Alguns aproveitaram para criticá-lo por ter aceitado trabalhar neste governo e resgataram uma expressão de Hannah Arendt: a banalidade do mal. Arendt, porém, utilizou-a ao escrever sobre o julgamento de Eichmann, o burocrata anódino que organizara o transporte de judeus para campos de concentração.
Podemos repudiar as manifestações do presidente, mas não a democracia que o elegeu. Muitos de nós jamais cogitariam trabalhar neste governo. Outros agem de forma diferente para cuidar da coisa pública. Tema de opinião, não de legalidade.
Mansueto é um servidor público cioso do seu ofício e aberto ao contraditório. Sua serenidade e meticulosidade têm sido essenciais para o debate sobre os dilemas da economia. Impecavelmente, ele consegue relevar as críticas virulentas e sempre convida ao diálogo, explicando com cuidado os dados e as opções de política pública, mesmo que na contramão do discurso oficial.
O Tesouro Nacional tem alertado sobre problemas que outros prefeririam ignorar. Não há notícia de artifícios contábeis que escondam da sociedade a gravidade das contas públicas, ao contrário do que ocorreu em gestão passada. A cada um o seu quinhão pelos atos que pratica.
A liberdade de expressão deve proteger até mesmo a crítica descabida. O único risco é tornar seus porta-vozes comparáveis ao governo que desprezam.
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