Circula nas redes sociais uma imagem feita pela página do governo federal direcionada a jovens com um texto que pode ser considerado, no mínimo, pra lá de desmotivacional. Na imagem, a frase Essa sexta eu sextarei chorando com a nota do Enem causa espanto para quem acredita que a tarefa de um órgão governamental é zelar pela existência de um clima de estímulo e colaboração. Ainda mais diante das desigualdades de oportunidades que crianças, adolescentes, jovens e adultos atravessam na educação brasileira.
Não é papel do Enem gerar clima de competição e derrota, não é um game, não é uma arena de embates. E mais: o deboche em situações como essa é a marca das perversas celebrações de exclusão que imperam em nossa sociedade. Muitos jovens questionaram a postagem.
O curioso é que esse deslize aconteceu na mesma semana em que Roberto Alvim, agora ex-secretário especial de Cultura, fez um vídeo macabro dizendo que era preciso salvar os jovens brasileiros, parafraseando Goebbels, figura central do nazismo, para declarar a visão de cultura que colocaria em prática no governo. Muito já foi publicado sobre as aberrações contidas naquele vídeo, a reação da sociedade foi imediata e contundente. Quero apenas ressaltar um ponto sobre a ideia de salvação.
Salvar os índios do pecado, salvar o mundo do terrorismo, salvar sua alma etc etc etc. O discurso de salvação - basta ler uma página de história - quando é profetizado pela boca de quem tem poder ou está acima na hierarquia social é o início do extermínio, opressão ou aniquilação da cultura daquele que dizem querer salvar. Se não acabam com a vida ou com a cultura, mantém aquele que foi salvo sempre na condição de subjugado. Não precisamos desta salvação. Todas as pesquisas sérias sobre o assunto demonstram que jovens que vivem em situação de vulnerabilidade social em periferias e favelas das grandes cidades brasileiras, por exemplo, precisam que seus direitos sejam garantidos e seus potenciais reconhecidos.
Se a queda de Alvim é mais um episódio que revela os piores pensamentos que alimentam o governo, o deboche contido na publicação do Enem é também mais um sintoma daquilo que move essa caravela assombrosa. E o desrespeito, presente na boca do presidente desde o período de seu mandato como deputado, demonstra a autorização para estes atos.
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