Sou um leitor. Gosto mesmo é de ler. Foi difícil me reconhecer como leitor - aquele que já leu tudo, silencioso, respiração impossível de detectar e a segurança das palavras precisas. Mas sou de outro tipo, livre de um jeito certo de ser leitor. É que sou um leitor inventado na periferia do Rio de Janeiro. A cultura e a educação produzem muitos leitores nas favelas e periferias das grandes cidades. São inúmeros os exemplos de projetos de incentivo à leitura espalhados pelo país.
Na minha história de leitor, dois eventos foram marcantes para enlaçarem o hábito de ler como companheiro de jornada. Uma professora que tive no ensino fundamental, numa escola pública da Baixada Fluminense, colocava os alunos no seu fusca e todos liam poesia andando pelo bairro. Uma memória marcante, uma visão fantástica até hoje na minha cabeça. Toda vez que lembro disso me encho de alegria. Um belo momento da vida, logo ali aos 12 anos de idade. A professora criou uma maneira marcante de apresentar uma forma de se relacionar com a leitura.
O segundo evento foi encontrar a literatura. Gosto muito de livros de teoria, mas o mundo mental da literatura é poderoso demais comigo, fico emocionado com uma boa história de ficção. E encontrar pessoas, ainda jovem, para conversar sobre livros de literatura trouxe sentimento de comunidade.
Gosto tanto de ler que ando assistindo aulas com legendas em português pelo YouTube. Esse ano li bastante. Notícias, ensaios, legendas de documentários, relatórios, mensagens, artigos on-line, bloco de notas, xerox de livros antigos para estudar, entrevistas, economia, periferia, arte, notícias da Inglaterra, história do Estado do Espírito Santo, futuro do trabalho, educação, diversidade etc. Ufa! Não é moleza ser um leitor. Esse mundo pede compromisso. E nem sempre a leitura traz a resposta esperada imediatamente. Tem que perseverar.
Para manter a chama acesa do prazer inicial, criei um lugar especial com a literatura. Leio um livro de ficção por estação do ano. Considero a duração de uma estação o tempo suficiente para uma relação de prazer e aprendizado com o livro. Esse ano atravessei o inverno lendo A Uruguaia, de Pedro Mairal. Foi comovente acompanhar a história de um narrador homem em demolição pessoal.
A literatura alimenta meu espírito, aumenta minha humanidade. Ler é cultivar o desejo de aprendizado com a vida. É um suco de limão que mexe com o paladar de uma criança, faz o cérebro vibrar e afetos pulam pelo olhar. Saúdo nessa passagem de ano todos os brasileirxs que se dedicam à difusão da leitura.
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