Basta navegar um pouco pelos sites dos principais jornais da Europa e das Américas que encontramos artigos ou entrevistas com apostas de quais serão os assuntos, tendências e dilemas que precisam de atenção em 2020. O escopo é grande: do meio ambiente à inteligência artificial, da privacidade de dados à precarização das relações de trabalho, do desafio da alimentação saudável ao mantra empreendedor até as apostas especulativas sobre o que será relevante no mundo da arte.
Alguns dos textos carregam nas tintas, diriam os mais antigos, ao imaginar cenários sombrios que teremos que lidar. Os primeiros dias de janeiro costumam conter também espaço até para aqueles personagens que fazem previsões com promessas mirabolantes do futuro. Quem vive esse período atrás de mudanças pessoais pode ficar tonto com tanta oferta de ajuda para guiar o ano.
Mas essa fase costuma passar. Com o desenrolar dos meses, acomodamos o viver entre aquilo que podemos ser e a necessidade diária de energia para sobreviver. E a sociedade global hoje é bastante instável. Quem diria em dezembro passado que poderíamos estar diante de mais uma guerra iniciada por um presidente norte-americano?
Porém, algumas reflexões presentes nesses artigos e entrevistas, baseadas em conhecimentos vividos ou em pesquisas, merecem bastante atenção por melhorarem nossa visão sobre a sociedade. Fogem completamente de fornecerem apenas manuais de sobrevivência simplificadores que podem gerar autoengano. E mais: tocam fundo em questões estruturantes das mazelas que assombram a vida nas cidades.
Entre focar nas promessas de caminhos de trajetória individual, para uma vida de ilusão de sucesso ou de simulacro de plenitude espiritual e moral, eu prefiro me concentrar em outras vertentes de imaginações sobre nossas vidas. Prefiro ficar conectado em pessoas que dedicam seus pensamentos na busca por saídas para a crise global do clima, na diminuição das desigualdades e na ampliação da diversidade em todos os espaços sociais. O resto é entretenimento que tenta capturar nossa energia.
No livro Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, Ailton Krenak diz que estamos numa época de absurda ilusão civilizatória e precisamos nos conectar novamente com a terra em que vivemos. É um livro pequeno, mas muito intenso. Focar nossa atenção naquilo que é relevante para a vida em sociedade é um dos desafios para que 2020 não seja mais um ano de ilusão, enquanto o mundo piora.
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