O Natal chegou. Claro que as decorações (neste ano, quase nenhuma) em shoppings, ruas e avenidas não nos deixam esquecer isso. Sinceramente, sempre fui entusiasmada por essa data. Quando criança, encarava dezembro como um mundo mágico, uma terra encantada feita de alegria, sonhos e comidas gostosas. Sem contar que ainda sou fascinada por Papai Noel e enfeites brilhantes.
É indiscutível que, nos dias atuais, o Natal passou a ser embalado com uma forte promoção mercadológica quase obrigatória. A compra de algum presente é uma exigência de demonstração de afetividade sob pena de sofrer alguma sanção moral e afetiva quando o bem não é adquirido a tempo de estar embaixo da árvore na véspera dessa data tão especial. E não é nada fácil escapar dos tais protocolos natalinos.
Depois de adulta, confesso que já fingi gostar do Natal para me sentir inserida. Mas já faz alguns anos que me libertei de diversas coisas, inclusive de fingir um deslumbramento com a data. Já me permiti passar a meia-noite mais desejada do ano colocando minhas séries em dia, acompanhada de uma bela pizza. E adoro me lembrar desse momento porque nele está a permissão necessária de fazermos aquilo que nos faz bem naquele momento. E posso dizer que pizza é uma ótima alternativa para a ceia de Natal.
Por outro lado, também entendi o principal motivo dos enfeites. As luzes de Natal ocupam um lugar especial na criança que ainda existe em mim. Natal é a festa mais acessível que conheço. Explico: a data oferece muitas alternativas que abraçam todas as necessidades e preferências, ou seja, permite o acesso e interação de todos (ainda que nos esbarrões de supermercados e lojas cheios), independentemente das nossas características ou impedimentos. As possibilidades são tantas e tão ajustáveis que ninguém precisa ficar de fora. Natal e acessibilidade têm tudo a ver, portanto. Afinal seria de uma enorme falta de bom senso se em sua magnitude, o Natal de Cristo fosse inacessível. Cristo, a criatura mais inclusiva que conheço. Natal é isso! Não é?
Na contramão daqueles que consideram o dia 25 de dezembro como um dia frenético de festas, comes e bebes, vou tentar escapar mais uma vez desses rituais sem presentes, peru, Jingle Bells e as intermináveis filas dos supermercados.
Porém, vou manter o verdadeiro espírito natalino, o da magia e dos sonhos. Por isso, resolvi escrever uma carta ao Papai Noel.
Sei que deve estar muito ocupado, principalmente para os pedidos daqueles que, como eu, deixaram para última hora. Então, vou direto ao assunto para não te ocupar muito.
Gostaria que trouxesse em seu saco vermelho soluções (que nem precisam ser de especialistas) que poderão ser aplicadas como ponto de partida para uma sociedade com mais acessibilidade. É assim:
1. Que aqueles que projetam ou desenvolvem edificações, transportes, ambientes, sistemas, sites, interfaces, produtos ou serviços, lembrem-se de abordar e informar sobre padrões, diretrizes e normas de acessibilidade, garantindo a sua utilização pelo maior número possível de pessoas.
2. Que os fabricantes de brinquedos possam estimular diferentes sentidos e movimentos das crianças com deficiência.
3. E também que haja descrições para imagens e gráficos que contenham informação, possibilitando assim, seu acesso por pessoas que não podem vê-los.
4. Que coloquem descrições para diálogos e outros sons significativos contidos em vídeos, facilitando o acesso por pessoas que não podem ouvi-los.
5. Que as empresas contratem mais profissionais com deficiência em vez de ficarem negociando a Lei de Cotas.
6. Que as crianças com necessidades educacionais especiais tenham acesso à escola regular sem precisar passar por constrangimentos desnecessários.
7. Que as calçadas sejam acessíveis e seguras sem que os cadeirantes precisem circular pelas ciclovias.
8. Que as rampas públicas tenham usabilidade e sigam as normas técnicas da ABNT e fiquem seguras para que não capotemos a cada valeta ou ressaltos.
É só, Papai Noel. O senhor não acha que espírito natalino só será plenamente sentido se conseguirmos pensar e praticar isso todos os dias? A atenção ao outro, fraternidade e acessibilidade devem estar presentes durante todo o ano.
Obrigada e um Feliz Natal acessível a todos!
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